Três gráficos que explicam a visão da Legg Mason relativamente aos mercados emergentes

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Cedida

Os últimos tempos ficaram marcados por uma crescente preocupação com o contexto dos mercados emergentes, com países como a Turquia ou a Argentina a surgirem como “cabeças de cartaz”. No centro das atenções tem estado também o facto de o crescimento global sincronizado que caracterizou o ano de 2017 parecer ter vindo a perder fôlego. Para Nuria Ribas, fixed income director da Legg Mason Global AM, os factores acima descritos, aos quais se podem acrescentar a subida das taxas de juro, a valorização do dólar ou a tantas vezes referida guerra comercial, são alguns dos desafios que os mercados emergentes têm que enfrentar no momento atual.

O gráfico abaixo apresenta a relação entre a subida de taxas e os movimentos do dólar norte-americano: “Nos últimos seis ciclos de subidas, o dólar subiu três vezes e caiu outras três. No ciclo iniciado em 2004, a Fed fez subir as taxas por 17 vezes e o dólar caiu 8%. No ano passado, as taxas subiram três vezes e o dólar também caiu”, explica a especialista, concluindo que “não vemos uma ligação direta entre ambas”. E é com base nesta análise que na entidade acreditam que existem outros factores que têm vindo a fazer com que o dólar valorize, em particular o crescimento mais pujante dos Estados Unidos em comparação com as restantes regiões do globo.

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A valorização do dólar é, portanto, apenas uma das razões pelas quais os mercados emergentes têm vindo a apresentar retornos menos favoráveis. A guerra comercial, por seu turno, tem vindo a criar um sentimento de incerteza no mercado, o que, claro está, tem impactado o preço e os retornos destes mercados. “Ainda assim, vemos alguns avanços positivos nesta área, como é o caso do acordo entre os Estados Unidos, México e Canadá. Contudo, o potencial impacto desta guerra de tarifas é ainda incerto”, explica Nuria Ribas recorrendo ao gráfico abaixo, que representa o impacto atual e potencial da guerra comercial em vários segmentos/regiões do mercado.

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Desconexão entre o preço e os fundamentais

Quanto aos retornos alcançados por parte dos mercados emergentes, a profissional defende que “existe uma certa desconexão entre os preços e os fundamentais”. No gráfico abaixo é apresentada uma comparação entre os retornos trimestrais dos mercados emergentes reais (linha verde) e uma regressão (linha azul), sendo que ambas apresentam um comportamento bastante semelhante. A regressão é baseada em inputs como taxas de juro nos mercados desenvolvidos, taxas de crescimento globais, comportamento do dólar e comércio mundial; a linha azul são os retornos trimestrais em dólares de obrigações locais dos mercados emergentes. “Olhando para o gráfico, parece existir certa desconexão. Por outras palavras, o gráfico parece sugerir que é necessário reavaliar se é possível que, tendo em conta o ponto em que nos encontramos, se verifique uma recessão”, avança a especialista.

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Ainda assim, Nuria Ribas defende novamente que o que verifica é uma desconexão entre os preços e os fundamentais, uma vez que “as maiores economias não se encontram perto de colapsar, estando estas em crescimento que, embora mais lento, continua robusto”. Assim, na entidade não acreditam num colapso adicional por parte dos mercados emergentes, sendo esta apenas uma reação a determinados eventos que durou mais do que o esperado e que deverão recuperar nos próximos tempos. “Por outras palavras, não acreditamos que o dólar valorize muito mais daqui para a frente. Poderá acontecer no curto prazo, mas a médio/longo prazo acreditamos que o dólar começará a cair. E defendemos isto não numa perspectiva de subida de taxas, mas sim devido à situação de crescimento relativo”, conclui a especialista.

Impacto na carteira do Legg Mason Western Macro Opportunities Bond Fund

Para Nuria Ribas, a situação atual é bastante semelhante aquela que se verificou no início de 2016: “O início de 2016 foi bastante complicado para o segmento de crédito, que registou uma performance bastante negativa. Mas estávamos bastante convictos deste segmento e a verdade é que, a partir do final de março, recuperou. Na altura não víamos sinais de recessão, não víamos todos aqueles receios que estavam refletidos nos preços do segmento de crédito. Hoje, a situação é semelhante, com meses de subidas e outros de quedas, ainda que as quedas tenham sido mais fortes ou mais duradouras que as subidas”, detalha.

De facto, a especialista reforça que, “do ponto de vista dos fundamentais, o preço dos mercados emergentes não faz sentido”. Não obstante, em determinados países – como a Argentina ou a Turquia – admite que os preços façam sentido, tendo em conta os últimos eventos, cujos riscos considera não só idiossincráticos, mas também sistémicos. “A Turquia não lidou com os seus problemas da forma correta. A inflação subiu quase 15% e não subiram as taxas quando o deviam ter feito”, começa por explicar. Já sobre o caso argentino, Nuria Ribas refere que “tomaram a decisão correta, ainda que a forma como tenham anunciado a decisão do pedido de ajuda ao FMI tenha sido infeliz. Ainda assim, defendemos que talvez o mercado tenha lido este movimento da forma incorreta, entrando em pânico a partir do momento em que este foi anunciado”.

“Mas é muito importante saber separar os diferentes países”, avisa a profissional. O problema, na sua opinião, é que os investidores saem das suas posições em todos os países assim que sabem da existência de um problema nos mercados emergentes. “Países como a Rússia, Brasil ou México têm vindo a ter bons desempenhos. O México, aliás, tem sido uma surpresa positiva. Caso tivéssemos saído dos mercados emergentes como um todo tínhamos passado ao lado da performance do México”, argumenta Nuria Ribas.

Os mercados emergentes representam, de facto, uma grande fatia da carteira do Legg Mason Western Asset Macro Opportunities Bond Fund, um fundo que conta com duplo selo Funds People – Favorito dos Analistas e Blockbuster. Assim, e tendo em conta o momento atribulado destes mercados, têm vindo a reduzir a exposição através de uma combinação de redução do número de obrigações e utilizando diversos instrumentos para reduzir o risco, ainda que não pretendam “cortar por completo, nem cobrir este risco, uma vez que quando estes mercados recuperarem deixam de poder beneficiar dessa recuperação”, explica a profissional.