Três situações que ainda suportam os mercados de crédito

trabalho secretária noticia
Créditos: Mariya Pampova (Unsplash)

O medo de que uma elevada inflação, sempre que for acompanhada de outros fatores, acabe por provocar uma marcha atrás dos bancos centrais no que diz respeito às suas medidas de estímulo, é o que está por detrás das quedas que se estão a ver nas últimas semanas nos mercados de obrigações governamentais. 

Mas, o que se está a passar com os mercados de crédito? As vendas que estão a realizar os investidores em obrigações, devido ao movimento conhecido como reflation trade também os alcançaram. Índices como o Bloomberg Barclays Global Aggregate Corporate Total Return Index Hedged USD caem cerca de 3% e, segundo dados da Morningstar, e as diferentes categorias de fundos de dívida corporativa também apresentam rentabilidades negativas este ano.

A dúvida está em se esta correção nos mercados de crédito é o fim do rally que protagonizou o mercado de crédito nos últimos anos ou, pelo contrário, obedece só a um movimento de curto prazo. Nestes últimos dias, duas gestoras, a Aberdeen Standard Investments e a M&G Investments, partilharam com os seus investidores perspetivas para estes mercados. Ambas coincidem em que estes mercados têm um caminho a percorrer e citam diferentes razões.

Volatilidade alta, inflação controlada

A primeira é que se bem que a inflação continuará a preocupar os investidores, não os deverá inquietar em excesso. “O grande risco é que os bancos centrais coloquem a marcha atrás nas suas políticas, mas a realidade é que a inflação esteve sob controlo durante muitos anos. Agora as pessoas estão preocupadas com a possibilidade de se produzir um taper tantrum, mas não acredito que seja algo que vá acontecer de forma tão fácil como aconteceu em 2013”, afirma Gaurav Chatley, gestor de obrigações na M&G Investments. E é esse medo que manterá alta a volatilidade no mercado.

Outra das razões é que, ao contrário do que aconteceu em crises passadas, nesta não se teme uma elevada taxa de incumprimento por parte das empresas devido às medidas de apoio sem precedentes que aprovaram tanto os bancos centrais como os próprios governos. “As taxas de default nos EUA estão a subir ao contrário de na Europa, onde as empresas europeias estão a receber o apoio dos bancos centrais e dos governos em maior medida do que nos EUA. Não devemos esperar uma subida das taxas de default”, afirma David Fancourt, da equipa de obrigações da M&G Investments.

trabalho estudo noticia

Os fundamentais acompanham

Além disso, e pode-se considerar como a terceira razão, segundo recorda Craig McDonald, responsável global de obrigações da Aberdeen Standard Investments, quer seja pelas medidas de estímulos ou pela incipiente recuperação económica, o que é certo é que os resultados empresariais estão a ser positivos. “Estão a ver-se melhores resultados empresariais e isso implica uma menor alavancagem o que provocará um aumento de rising stars e uma menor taxa de defaults. Os fundamentais de crédito vão melhorar em 2021”, afirma.

De facto, na gestora têm duas áreas claras onde veem as maiores oportunidades. “Acreditamos que as valorizações do mercado são justas, mas continuamos a ver opções em dívida subordinada e emissões BB onde vemos uma maior compressão dos spreads”, afirma Felix Freud, responsável de crédito europeu da Aberdeen Standard Investments.

Muito semelhante é a visão que defendem na M&G Investments além de darem valor à importância de uma gestão ativa de bond picking num contexto de alta volatilidade e forte dispersão entre setores e entre empresas. “Devemos centrar-nos em empresas nas quais mereça a pena assumir o risco dessa alavancagem porque apresentam menos estreitamento dos spreads. É preciso estar muito focadas na stock selection”, conclui Chatley. Sobretudo, tendo em conta que o potencial que apresenta o crédito por spreads é cada vez mais estreito já que os níveis atuais são muito semelhantes aos vistos antes da COVID-19.

trabalho estudo noticia