Três tendências estruturais em emergentes e como moldar a carteira a essas tendências

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Lidar com os vaivéns políticos foi a tónica geral de qualquer investidor nos mercados emergentes. E, em 2020, vai ter ainda mais relevância, se é que isso é possível. “É quase mais importante sentar-me com o Ministro do Interior de um país do que com o da Economia”, brinca Yerlan Syzdykov, diretor global de mercados emergentes da Amundi.

O que agitará os mercados emergentes nos próximos anos? Syzdykov identifica três principais temáticas que incorporou no Amundi Funds Emerging Markets Bond, fundo com Selo Funds People pela sua classificação de Blockbuster:

1 – Auge das políticas redistributivas

Os protestos sociais que aconteceram em vários países da América Latina vão eclodir em forma de mudança política, como já se notou nas urnas nos últimos meses. “Algumas medidas serão populistas, mas outras serão políticas elaboradas que vão transformar o tecido da sua sociedade”, afirma o especialista. Além disso, percebe que a “elite dos negócios” se deu conta que devem abordar os problemas da desigualdade. E não é um tema só da América Latina; Paquistão, Líbano e Egito, também estão a viver um ressurgir dos protestos no último ano.

2- As implicações da divisão políticas entre os EUA e a China

A guerra comercial entre estas duas potências mundiais tem mais danos colaterais do que diretos. Ainda que nestes dias se fale de uma possível primeira etapa do acordo, Syzdykov recorda que a tensão deu lugar a uma guerra fria. Será crucial entender o impacto em cada país em matérias como a tecnologia ou acesso ao capital. Curiosamente, o gestor prevê que o crescimento na Ásia não se ressentirá tão significativamente graças ao alto nível de aforro na região. Uma situação que não acontece na América Latina. Mas o protecionismo não afeta só as grandes potências. Um exemplo disso é o setor automóvel. Países como a Alemanha estão a notar um abrandamento, mas na perspetiva dos emergentes, é preciso vigiar os efeitos na Eslováquia, Hungria ou Sérvia, que se tornaram partes importantes da cadeia de produção do setor.

3- A geopolítica e as sanções como norma

“Grande parte do nosso universo tem de conviver com uma sanção imposta no seu país”, brinca Syzdykov. O gestor advoga olhar mais além do primeiro título  quando se impõem medidas a um país. A China, por exemplo, apenas notou um rombo no seu crescimento após as sanções impostas pelos EUA. Mas, no caso da Turquia,  que precisam de acesso constante a financiamento via o mercado, via uma sanção ou veto do mercado de capitais ser muito prejudicial.

Uma carteira preparada para um aumento de 2020

Com as coisas assim, a carteira do Amundi Funds – Emerging Markets Bond esteve durante 2019 posicionada para captar um aumento do crescimento em emergentes em 2020 depois da desaceleração deste exercício. Dito isto, Syzdykov reconhece que a meio do ano calibrou o seu plano perante previsão de que essa mudança está a demorar mais tempo a chegar do que o previsto.

Na prática, representa sobreponderar emissões da China, Brasil, África do Sul, México e Rússia. Na China, que pesa mais do que 10% da carteira, representa jogar com o crescimento económico através de real estate e de promotores imobiliários. No Brasil, após o ceticismo inicial com a velocidade das reformas, a reforma das pensões foi um grande passo que surpreendeu pela positiva. Na Rússia, os fundamentais macroeconómicos continuam fortes e o gestor vê que o impacto das sanções está parcialmente previsto. A África do Sul é uma ideia mais tática. Viram uma oportunidade apesar do deterioro da sua economia quando a agência de rating Moody’s decidiu não baixar a sua classificação creditícia.