UCITS, em perspetiva: o que falha e o que pode melhorar para continuar a responder às necessidades do investidor

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Kyle Glenn, Unsplash

O auge dos fundos UCITS dentro e fora do mercado europeu consolida-o como uma história de sucesso para a Europa. Mas também é necessário refletir sobre as condições que devem evoluir para manter a sua atratividade futura. Este foi o tema de debate numa das mesas do Investment Management Forum organizado pela EFAMA. Uma mesa virtual onde os principais atores da indústria coincidiram em detetar vários pontos de melhoria.

No futuro serão necessárias mudanças. Uma adaptação das novas gerações de investidores que vêm com o seu próprio set de necessidades. Estamos a evoluir para a democratização do aforro, nota Gareth Murphy, responsável de risco da Standard Life Aberdeen. As novas gerações têm mais destreza digital, mas também estão mais abertas às autossoluções. Estes novos investidores continuam a ter necessidades de liquidez, mas ao contrário dos seus antecessores, o contexto de baixas taxas de juro torna-o mais difícil.  Também são diferentes no sentido em que as suas preocupações são mais globais; estão centrados em como será o seu mundo no futuro. Ou seja, no investimento socialmente responsável. Tudo isto vai trazer desafios e mudanças para a distribuição, opina Murphy.

A digitalização significa que são investidores com acesso ainda maior a oportunidades potenciais. E justamente por isso correm o risco de ficar sobrecarregados de opções. “Precisam de simplicidade”, pede Murphy. E Pierluigi Martino, da Generali Investments and Asset Management, coincide. A transparência e simplicidade devem ser as prioridades da indústria. "Os investidores às vezes têm dificuldade em entender os prós e os contras dos produtos", afirma.

O contexto atual é complexo e os reguladores estão conscientes do desafio de legislar num momento de muitas mudanças. “Temos de ter uma abordagem orientada para objetivos e baseada em evidências”, ressalta Col Kincaid, diretor de Supervisão de Mercados e Valores do Banco Central da Irlanda. “Também não podemos perder de vista a inovação para o futuro. O risco da legislação num processo regulatório é o travão que pode representar os avanços”, alerta.

É por isso que os especialistas falam mais sobre ajustes na legislação dos UCITS do que sobre mudanças drásticas. O que não quer dizer que não tenham uma lista de desejos em mente. Martino cita vários. Em primeiro lugar, que é chegado o momento de pensar em melhorar a eficácia da documentação para que seja válida a nível europeu. Hoje cada país estabelece os seus próprios padrões e na prática isso significa que as sociedades gestoras têm que produzir documentos diferentes em cada um. “No final das contas, se queremos que haja comparabilidade fluida entre os produtos, deve haver um padrão comum”, insiste. Em segundo lugar, pede uma interpretação comum dos regulamentos OICVM. Novamente, cada país lê os limites da regulamentação à sua maneira. Em terceiro lugar, pede uma visão holística de todas as ferramentas disponíveis na UE. “UCITS e AIF têm um ambiente comum e podem ser facilmente combinados”, propõe. Por exemplo, propõe uma nova classe de OICVM com base num master feeder dos AIF como solução para dar aos pequenos investidores acesso a este tipo de produto alternativo.

Murphy coincide neste último ponto: “Trata-se de polir as complexidades quando estes dois produtos interagem”. Ainda que aqui o regulador seja mais cauteloso. “Também não se trata de adicionar produtos complexos e arriscados aos OICVM. Sim, queremos inovar, mas também temos que estar atentos pois não queremos que isso venha à custa do produto”, defende.

No final, é uma conversa obrigatória. “Talvez tenhamos de começar a pensar em como traduzir estes produtos ilíquidos”, questiona Murphy. Por exemplo, a criação de um mercado secundário para criar liquidez se se quiser estimular a participação de investidores de retalho. É uma ideia que Martino apoiaria, criar um mercado para as participações que permitisse aos investidores liquidar as suas posições ao invés de deixar a necessidade de criar essa liquidez nas mãos dos gestores. E nesse sentido, um único critério também deve ser criado para a avaliação de ativos neste tipo de estratégias ilíquidas.