Um fundo mais antigo que o próprio conceito de Value e Growth

Richard_Carlyle_-_Capital_Group
Richard Carlyle. Créditos: Cedida (Capital Group)

Richard Carlyle é diretor de investimento em equity no Capital Group e um dos porta-vozes de uma das estratégias de ações globais de maior sucesso da entidade gestora norte-americana com os selos de favorito dos Analistas e Blockbuster Funds People, o Capital Group New Perspective Fund. Uma carteira de ações globais, resultado da análise e seleção de títulos de uma equipa diversa de gestores que tem provado ao longo de 45 anos suportar-se numa abordagem que funciona e que captura de forma ativa o valor do mercado. Para Richard Carlyle, vivemos um período atípico de crescimento e expansão económica, especialmente porque, ao contrário de ciclos anteriores, a expansão não resultou em inflação ou subidas de taxas de juro. “Acredito que se nos encontrarmos perante um abrandamento económico significativo, a política monetária, só por si, não terá a capacidade para o enfrentar. Vamos precisar que os bancos centrais e os governos, que a política monetária e a fiscal, trabalhem em conjunto para proteger as economias”. No entanto, para aquela que é a abordagem do fundo ao investimento em ações, um ciclo económico apenas fica muito aquém do prazo considerado pelos gestores quando selecionam um título para entrar em carteira. Inclusivamente, os conceitos de growth ou value, que ocupam muitos dos headlines hoje em dia, são muito mais jovens do que esta estratégia do Capital Group. “Não nos podemos esquecer que começámos a gerir este fundo muito antes do conceito de growth e value surgir no mundo dos investimentos. Fazemos, desde sempre, uma análise adequada e diligente das empresas em que investimos, identificando modelos de negócio de sucesso no longo prazo e comprando-os a preços adequados. Esse é o objetivo final”, afirma perentoriamente Richard Carlyle.

Crescimento e valor

O Capital Group New Perspective Fund é tipicamente caracterizado por ter um viés growth. Contudo, Richard Carlyle entra no detalhe da carteira para explicar porque isso não importa. “A nossa maior posição é a Amazon. E a Amazon escolhe gerir o seu negócio com uma margem nula. Quando olhamos para o rácio de preço/resultados (PER) este parece efetivamente, muito alto, mas no momento em que a empresa decidir aumentar, mesmo que ligeiramente, essa margem, considerando o volume de receitas que possui, rapidamente se reduzirá. Passa facilmente de uma ação growth para uma ação value. A isso chama-se poder de mercado. O mesmo aconteceu com a Apple, que passou de uma empresa em crescimento que não pagava dividendos para uma que os paga e mesmo assim mantém um volume significativo de liquidez em balanço. Limpando essa liquidez, o título fica com um PER muito menor. O nosso viés growth resulta da capacidade dos nossos gestores para identificar modelos de negócio muito bons e que têm mostrado uma excelente performance ao longo do tempo. Se daqui a uns anos acabarmos por ter uma carteira value, será resultado da evolução dos negócios que selecionamos”, explica o diretor de investimentos do Capital Group. 

O que tem mudado?

Nada, ou quase nada, seria a resposta direta do especialista do Capital Group. A abordagem de investimento a longo prazo do fundo tem aqui o seu reflexo. Mas esta é exatamente a abordagem que faz com que o fundo se comporte tão bem em mercados que sobem, como no contexto oposto. “Temos que dar os parabéns aos nossos gestores por capturarem o bom comportamento do mercado este ano quando é um grupo tão pequeno de títulos que tem impulsionado os retornos. O mais interessante é que o grupo de ações que tem dirigido a performance do fundo não é o mesmo grupo que o fez nos anos anteriores. Não são ações que investimos recentemente, mas sim que fazem parte da carteira há muito tempo e desbloqueiam agora o seu valor”. Já no que se refere ao bom comportamento da estratégia no final do ano passado, Richard Carlyle explica que os drivers de performance foram não só alguma liquidez em carteira, mas também empresas em que investem deliberadamente para proteger no downside. Um desses exemplos será a CME ou Chicago Mercantile Exchange. “É uma empresa cujas receitas e lucros tendem a subir em períodos de instabilidade de mercado. Foi uma cobertura perfeita no último trimestre do ano passado”.

Confrontado com a questão de quais poderão ser as “Amazons” do futuro, o especialista levanta um pouco o véu daquela que é a sua opinião e a dos gestores do fundo. “Encontramos oportunidades interessantes no sector da tecnologia aplicada à medicina e saúde. Não nas grandes empresas farmacêuticas ou de biotecnologia, mas sim naquelas expostas à ciência da saúde”. Por outro lado, também os mercados emergentes deverão, segundo Richard Carlyle, crescer naturalmente no portefólio. Na casa de investimentos norte-americana olham para a exposição geográfica em termos de receitas das empresas, por oposição ao domicílio das mesmas. No entanto, apesar de representarem ainda uma pequena parte da carteira, as empresas com sede em países emergentes tendem a crescer. “A Samsung ou a TSMC são apenas dois exemplos daquelas que são empresas de classe mundial que acontece terem o seu domicílio em países emergentes. Acredito que veremos mais e mais dessas empresas na carteira no longo prazo. Os sectores da tecnologia, media, finanças, nesses países estão a gerar empresas muito interessantes e dinâmicas. No longo prazo essa tendência deverá continuar”, conclui.