Menor TER do ETF… maior rentabilidade do produto?

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felipe.feca, Flickr, Creative Commons

O rácio de gastos totais (TER) é um dos aspetos principais que os investidores têm em consideração na hora de selecionar um ETF. São muitos aqueles que pensam que, quanto menor for o TER cobrado num fundo cotado, maior será a rentabilidade gerada pelo produto. Porém, na realidade isto não funciona assim. O TER não mantém uma relação assim tao direta com a rentabilidade do fundo cotado, como se pensa. Isto é demonstrado por um estudo realizado pela Track Insight, uma plataforma de análise de ETFs, criada em 2014, e orientada para investidores profissionais, comparando e selecionando produtos entre toda a gama de ETFs registada na Europa.

O trabalho realizado pela plataforma, na sua análise, foi o de comparar as rentabilidades geradas durante os últimos três anos, por quatro ETFs sobre o Eurostoxx 50 comercializados na Europa e pertencentes a distintas entidades, com o TER de cada um deles. Os resultados não podem ser mais eloquentes. Aqueles produtos que dispõem de um TER mais baixo (0,05%) foram aqueles que – segundo dados da plataforma, ofereceram neste período uma rentabilidade inferior, enquanto aqueles que apresentam um rácio de gastos totais mais elevado, apresentam um retorno superior a três anos.

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Segundo Juan San Pío, responsável da Lyxor na Ibéria e na América Latina, o que realmente conta é a rentabilidade do ETF face ao seu índice, o tracking error e a liquidez do produto, sendo que esta última medida é analisada através do bid/ofer spread. “No processo de seleção, o investidor foca-se cada vez mais nestes critérios. São aspetos fundamentais para valorizar a eficiência de um ETF. Da mesma forma que num fundo ativo se olha para o sharpe ratio ou para o Alfa, num ETF o que faz sentido é analisar a diferença de tracking, visto que é um rácio que inclui implicitamente a comissão de gestão, a qualidade de estruturação do produto, a sua capacidade para recuperar dividendos…”.

Outros dos aspetos que poderia surpreender a análise realizada pelo Track Insight é a importante falha que existe entre os retornos gerados pelos ETFs e o índice subjacente. É paradoxal que as rentabilidades conseguidas pelos fundos cotados sejam até 50 pontos base superiores às do Eurostoxx 50. Isto é algo muito particular e que ocorre sobre este índice, mas também sobre outros como o S&P 500.

As razões que explicam esta surpreendente capacidade dos ETFs para gerar rentabilidade acima dos índices são diversas. Algumas são estruturais e outras cíclicas. Entre as primeiras, a mais importante é a fiscalidade. No caso dos Estados Unidos, por exemplo, os ETFs domiciliados na Europa replicam o S&P 500 Net Return (NR), que exclui os impostos dos dividendos, os quais, para os residentes nos Estados Unidos, são de 30%. No entanto, há que recordar que os ETFs estão domiciliados na Irlanda e que este país tem um acordo de fiscalidade especial com os Estados Unidos, que diminuem essa percentagem até 15%.

Segundo Aitor Jauregui, responsável de desenvolvimento de negócio da Blackrock na Ibéria, esses 15% de diferença, com uma rentabilidade por dividendo de 2% para o S&P 500, representa 33 pontos base anualizados face ao benchmark. Quanto ao Eurostoxx 50, a rentabilidade por dividendo atual é de 3,87% e essa diferença de retenção entre o índice e o ETF traduz-se em 52 pontos base de receitas adicionais para o fundo cotado.

Os ETFs sobre o Eurostoxx 50 também refletem a rentabilidade líquida do índice. Cada país aplica impostos distintos, e é calculada uma taxa média para calcular o retorno do índice. “Neste caso, quando a época de pagamento de dividendos se aproxima, os ETFs tendem a emprestar as suas participações a contrapartes em jurisdições com a taxa mais favorável do que aquela que determina o índice. Estas contrapartes pagam os impostos e devolvem as participações ao ETF”.

Graças a este tipo de eficiências fiscais, os fundos cotados sobre o Eurostoxx 50 batem regularmente a rentabilidade líquida média do índice em 50 pontos base em média, uma vez descontadas as comissões, as quais representam um problema, dado que os fundos cotados sobre o S&P 500 e o Eurostoxx 50 têm TER baixos, que em alguns casos podem ser de 0,05%”, revela José García-Zárate, diretor associado e analista de fundos passivos da Morningstar.

No entanto, há mais fatores que somam pontos base ao marcador dos fundos cotados. Entre eles, destacam-se o empréstimo de títulos, o reinvestimento de dividendos ou as técnicas de otimização aplicadas por cada fornecedor.