O termo stewardship não tem uma tradução simples para o português. Uma só palavra não serve para representar tudo o que pode significar. Para Yolanda Courtines, cogestora do Wellington Global Stewards Fund, fundo que conta com Rating FundsPeople, “quando falamos de stewardship no mundo da gestão de ativos, pensamos no engagement, em contribuir para determinadas mudanças e determinados resultados, mas, na verdade, o nosso fundo centra-se no stewardship corporativo”. Trata-se de “dar foco a uma governança corporativa orientada para a gestão de um negócio que chegue às próximas gerações”, afirma.
Elementos de um bom stewardship corporativo
Os elementos necessários para garantir esse resultado são, segundo Yolanda: uma equipa de gestão forte e um Conselho com poder. “Isto é muito importante, porque o Conselho pode durar mais do que um CEO e o seu papel é fundamental para escolher o próximo CEO, visto que conhece o talento que pode existir na empresa e os principais desafios. Além disso, o Conselho de Administração pode desafiar a equipa diretiva em certos temas que podem ser melhorados”, clarifica. Para Yolanda, a distinção entre as figuras do presidente do Conselho de Administração e do CEO é importante. Dentro do Conselho, o ideal é haver especialistas do setor mas também de fora, para garantir uma perspetiva ampla.
A empresa também deve ter a capacidade de fazer uma alocação significativa de capital, porque “sem esse capital, os demais fatores perdem importância e, além disso, pode haver uma deterioração nos resultados”, explica. Esse capital deve ser alocado com sentido, dependendo do tipo de empresa. “Para algumas empresas significa reinvestir, para outras significa pagar mais dividendos ou realizar novas aquisições. Deve fazer sentido e estar bem articulada”, salienta.
Além disso, é necessário terem uma clara mentalidade de longo prazo e uma consideração dos interesses de todos os stakeholders. “São elementos fundamentais para considerar que uma empresa é bem gerida. Uma empresa deve pensar nos seus trabalhadores, conhecer a sua cadeia de abastecimento, preocupar-se com a sua pegada ambiental, tudo equilibradamente”.
A seleção das empresas
No momento de selecionar as empresas que vão compor o fundo, os números de rentabilidade, seja sobre equity ou sobre capital, são os melhores indicadores, na opinião da gestora. “Começamos por procurar empresas com um historial de elevados retornos, que também tenham sido estáveis, deixando de fora empresas muito, muito cíclicas”. Geralmente, movem-se no segmento de empresas cuja capitalização em bolsa seja superior a 20.000 milhões de dólares. Depois, descartam as que não estão claramente orientadas para a consideração dos interesses dos stakeholders.
Isso deixa um universo de 300 nomes, dos quais, após novos screenings, sobram 200, e dos quais entre 35 e 45 passam a fazer parte da carteira. Não pretendem ter vieses setoriais, geográficos ou de estilos; é um fundo concentrado com beta baixo. “Quando lançámos o fundo, fixámo-nos em seis super setores: consumo, saúde, industrial, financeiro, geração de energia e TMT. Olhamos para o benchmark, mas de uma perspetiva muito concentrada para encontrar as melhores empresas”, indica a gestora.
Analistas e scorecard
A Wellington Management conta com uma equipa de mais de 50 analistas setoriais muito especializados e cuja opinião tem muito mais peso nas decisões de investimento. “Partindo desse universo de 300 empresas, estabelecemos um diálogo com eles sobre quais as suas empresas favoritas e as mais responsáveis em termos ESG, tanto que, se houver duas muito parecidas, escolhemos a que tem uma melhor cultura ESG”, detalha. O fundo é Artigo 9.º de acordo com a SFDR, mas “não nos centramos tanto numa empresa que tenha um determinado serviço ou produto, mas sim nas empresas que seguem as melhores práticas e têm processos que as permitem enfrentar os desafios em matéria de sustentabilidade”.
Por cada empresa que têm em carteira fazem um scorecard seguindo uma metodologia própria com base na sua filosofia. “Ajuda-nos a ter a informação agregada de uma forma consistente e replicável. Temos em conta tanto os resultados como o stewardship. Por um lado, queremos entender o quão sustentáveis são os resultados. Por outro, analisamos os planos de compensação, a estratégia e as caraterísticas do Conselho, e também há partes dedicadas aos stakeholders, às cadeias de abastecimento, etc.”, aponta.
Engagement
A Wellington Management mantém cerca de 20.000 reuniões com empresas por ano, e a equipa de gestão do fundo reúne com as empresas regularmente, seja com o CEO, o diretor financeiro ou o responsável de sustentabilidade. “É muito importante ter informação atualizada. Nunca compramos uma empresa sem termos conhecido a sua equipa, porque temos uma orientação a longo prazo e a ideia é mantê-la durante, pelo menos, dez anos. Procuramos identificar antecipadamente as empresas que serão capazes de navegar por distintos cenários”, sublinha.
Ao longo dos mais de cinco anos da estratégia, Yolanda Courtines reconhece algumas mudanças positivas: “Há mais dados e mais transparência, os Conselhos e os planos de compensação melhoraram. Preocupo-me, no entanto, que, com um número maior de KPI e de objetivos, se possa por vezes perder o norte e o foco no que é realmente importante”. Para a gestora, é importante destacar os efeitos de um bom stewardship corporativo: “Uma menor volatilidade nos resultados empresariais, um menor custo do capital, trabalhadores mais satisfeitos e cadeias de abastecimento mais fiáveis”, conclui.