Nesta entrevista à FundsPeople, o CEO da Candriam conta que a gestora procura ativamente crescer de forma inorgânica para se reforçar nos mercados privados, uma classe de ativos que terá cada vez mais peso na alocação de ativos, segundo as suas previsões.
Registe-se em FundsPeople, a comunidade de mais de 200.000 profissionais do mundo da gestão de ativos e património. Desfrute de todos os nossos serviços exclusivos: newsletter matinal, alertas com notícias de última hora, biblioteca de revistas, especiais e livros.
Para aceder a este conteúdo
Avizinha-se uma grande mudança no asset allocation nos próximos anos. “Embora haja classes de ativos que podem ser facilmente construídas com ETF, o verdadeiro valor acrescido que um gestor de fundos pode oferecer é ajudar o cliente a combinar mercados cotados com ativos privados para captar prémios de iliquidez”, sublinha Vincent Hamelink, CEO da Candriam. Na sua opinião, a procura por alternativos privados não é cíclica, mas sim estrutural. “É verdade que, durante o período de baixas yields, foi um dos argumentos mais fortes, mas não é o mais forte nem o mais bem-sucedido. Faz sentido integrar os ativos privados numa carteira. Afinal, abre portas para outras oportunidades, outros setores e prémios de iliquidez”, argumenta.
Na onda de crescimento dos mercados privados, a Candriam procura o seu lugar. Em 2018, a Candriam, juntamente com a sua matriz New York Life Investment Management (NYLIM), adquiriu uma participação de 40% da boutique imobiliária Tristan Capital Partners, que depois elevou para uma posição maioritária em 2023. Além disso, no final de 2020, adquiriram uma participação minoritária de 33% da empresa de dívida privada Kartesia. Atualmente, a Candriam, juntamente com a NYLIM, gere mais de 20.000 milhões em ativos privados na Europa. Este número significativo cresceu, em grande medida, de forma inorgânica nos últimos anos.
Numa entrevista com a FundsPeople, a primeira com um órgão de comunicação do sul da Europa, o CEO afirmou que os seus planos incluem um maior crescimento, tanto orgânico como através de novas aquisições de especialistas em mercados privados. Entre as áreas de interesse figuram o capital de risco e as infraestruturas.
Mais do que mercados privados
Mas se tivesse de pensar em fontes de crescimento para a gestora de fundos para os próximos dez anos, não são apenas as alternativas ilíquidas que lhe vêm à cabeça. Apesar de destacar o potencial de crescimento que uma nova área de negócio como os mercados privados pode gerar para os clientes, Vincent insiste na contínua relevância de outros segmentos, em particular o de obrigações, o retorno absoluto e os temáticos no atual contexto de mercado, em que a Candriam construiu uma sólida marca nas últimas décadas. O primeiro é o forte da Candriam, embora o gestor reconheça que a procura é mais cíclica, tal como o investimento sustentável, que atravessa um período difícil atualmente. “Não há dúvidas sobre as oportunidades a longo prazo do investimento sustentável, que está no nosso ADN”, afirma.
A importância de um negócio equilibrado
Uma das convicções de Vincent Hamelink é a importância de manter o seu negócio diversificado. Tanto do ponto de vista da tipologia de clientes como da distribuição dos seus ativos sob gestão por classes de ativos.
Além disso, a experiência da Candriam em estratégias de retorno absoluto posiciona-os estrategicamente para capitalizar as mudanças previstas no mercado. “Com mais de 20 anos de experiência em alternativos líquidos, acredito que a procura por este tipo de estratégias vai regressar à medida que o ciclo de endurecimento termina”, afirma. “A nossa experiência engloba todas as classes de ativos, inclusive o alfa de crédito, ações market neutral e as estratégias multiativos como os CTA, oferecendo um forte potencial para a geração de alfa”, relembra.
Desta forma, Vincent Hamelink também enfatiza o potencial a longo prazo dos investimentos temáticos. “Temos apostado bastante na nossa gama temática com megatendências que acreditamos serem duradouras: inovação e tecnologia, saúde, sociedade e demografia e ambiente”, acrescenta.
Quanto ao negócio de ETF, é uma área em que também têm oferta de produtos sob a sua filosofia de gestão ativa e sustentável, “onde acreditamos que podemos oferecer valor, como em smart beta”, assinala. Mas Vincent está convicto de que não quer entrar no jogo passivo: “Não nos interessa competir com ETF ligados a índices tradicionais em que não podemos evitar empresas controversas. Não faz sentido para nós”, defende.
Um diretor de investimentos para liderar o futuro da Candriam
Vincent Hamelink tomou as rédeas da Candriam em maio de 2023. O antigo diretor de Investimentos da empresa substitiui Naïm Abou-Jaoudé no cargo de CEO, que tomou as rédeas da New York Life Investment Management (NYLIM), o negócio global de gestão de investimento de New York Life, a companhia de seguros de vida da Candriam.
A trajetória de Hamelink é uma raridade na indústria financeira. Nos seus 30 anos de carreira, sempre trabalhou para a mesma entidade. É claro que foi a empresa que se foi transformando no que é hoje a Candriam. Deu os seus primeiros passos como analista de obrigações em 1994 no Paribas Bank na Bélgica e passando pela Cordius AM, que depois foi comprada pela Dexia AM no início dos anos 2000 e que, em 2014, mudou o nome para Candriam após a aquisição da New York Life Investments.