Volkswagen: a postura dos fundos nacionais

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v8dub, Flickr, Creative Commons

Scirocco, Golf, Polo ou Beetle. São talvez os quatro modelos mais conhecidos e com maior fiabilidade produzidos pela Volkswagen. Mas nos últimos dias o gigante alemão tem sido tema de conversa pelas piores razões. A Agência de Proteção do Meio Ambiente (EPA) dos Estados Unidos acusou a marca de não mostrar dados verdadeiros relativamente ao desempenho dos motores diesel de alguns dos modelos vendidos em solo norte-americano. Essa questão levou a uma queda das cotações da empresa, que num par de dias viu o seu valor em bolsa cair cerca de um terço, ou seja, mais de 27 mil milhões de euros.

Segundo dados da Morningstar, consultados através da sua plataforma online, no final do mês de agosto existiam doze produtos nacionais de seis casas de investimento diferentes com exposição à marca alemã (ver tabela abaixo).

No entanto, durante o mês de setembro o número de fundos nacionais com exposição à Volkswagen reduziu-se.  Por exemplo, em relato à Funds People Portugal, da Optimize Investment Partners, Diogo Teixeira, administrador da entidade, explica que venderam as posições na empresa alemã detidas pelos fundos Optimize Europa Valor e Optimize Investimento Activo.  “A venda deveu-se à informação do mercado e ao impacto desconhecido que virá daqui para a frente”, explicou o profissional. No entanto, apesar da venda, o gestor acredita que “a médio/longo prazo o impacto possa ser positivo para o resto do sector automóvel sobretudo porque as pessoas não deixam de comprar carros”.

Posição semelhante foi assumida pela Popular Gestão de Activos. O Popular Acções que no final de agosto tinha uma exposição de 1,36% à cotada alemã deixou de investir na empresa desde a passada terça-feira. José Barroso, gestor do produto, contou à Funds People que “quando saiu a notícia de que a empresa iria provisionar uma verba de 6.500 milhões de euros o fundo já não chegou a ser afetado”. Na opinião do profissional “o efeito contágio será grande para as outras empresas do sector, e em termos de reputação mais marcas poderão ser afetadas”.

O CA Acções Europa, gerido pela CA Gest, era mais um dos fundos nacionais com exposição à cotada alemã, no final de agosto: mais concretamente 1,84%. Fernando Nascimento, da entidade, conta que seguiram a mesma perspetiva das casas antecessoras “alienando a posição detida, sem desprezo pela gestão do timing da venda”. Apesar de não saberem “o real impacto que este caso poderá vir a ter nas receitas, nos custos operacionais e financeiros da empresa”, entendem que “qualquer estratégia de recuperação dos danos materiais e reputacionais da marca VW vai seguramente ter significativos impactos negativos nos resultados da companhia durante os próximos exercícios”. Mas este não será um escândalo a prejudicar apenas esta marca: “Vem manchar a reputação da empresa e de toda a indústria automóvel alemã, que é conhecida pelos seus elevados requisitos de qualidade e fiabilidade”, diz.

Numa perspetiva sobre este tipo de escândalos, Fernando Nascimento entende que “as práticas de gestão ilícitas constituem um forte alerta sobre as fragilidades de governação e a integridade patrimonial de uma empresa, comprometendo ainda a relação de confiança entre os investidores e restantes stakeholders com a entidade envolvida”. Para o profissional não restam dúvidas sobre o que fazer em termos de orientação de investimento: “eliminar a exposição ao “nome”, com o objetivo de minimizar a máxima perda potencial”. Resume que “nestas situações, a primeira preocupação de um investidor deverá ser sempre limitar as perdas em detrimento do objetivo de vir a lucrar com eventuais reações exageradas do mercado”.

Os que mantêm a mesma “rota”

No caso da BPI Gestão de Activos, eram três os produtos que no final de agosto investiam no gigante alemão: o BPI Euro Grandes Capitalizações, o BPI Global e o BPI Reforma Acções PPR. Contrariamente aos exemplos anteriores, na BPI Gestão de Activos optaram por esperar. “Mantivemos a posição; não tínhamos maneira de saber que este escândalo iria acontecer”, começa por dizer José Caras-Altas Badalo da entidade. “Para já estamos a manter a posição porque não temos muito risco a correr. O mercado já descontou bastante e por isso não sentimos necessidade de vender o título”, conta o gestor. No entanto não exclui a hipótese de futuramente se desfazer dos investimentos na empresa, mais concretamente quando existirem mais dados sobre o valor das multas que a Volkswagen terá de pagar.

Postura semelhante à da BPI Gestão de Activos é assumida pela Montepio Gestão de Activos. Da entidade explicam à Funds People que o investimento na Volkswagen mantém-se nos quatros produtos – Montepio Acções Internacionais, Montepio Global, Montepio Acções e Montepio Acções Europa – muito embora considerem que “este é mais um exemplo de má governação de uma empresa, neste caso específico com a agravante de ser uma “Large Cap” e uma referência do sector automóvel europeu e mundial”. A equipa responsável pelos fundos alerta que os “efeitos de contágio a outras empresas do sector são já visíveis”, mas que ao mesmo tempo é ainda difícil avaliar “o impacto financeiro que este escândalo poderá ter na empresa”.  “Ainda decorrem investigações pelas entidades fiscalizadoras americanas e mais investigações em outros países foram ou poderão ser iniciadas”, indicam. A Montepio Gestão de Activos é mais uma entidade a lembrar o “impacto reputacional que irá, com certeza, afectar a imagem de credibilidade e confiança que a VW transmitia”.