WTW acredita que perfil mais conservador dos fundos de pensões nacionais travou maiores quedas de rentabilidade

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2022 foi um ano de queda para os ativos dos fundos de pensões, mas também de recuo nas rentabilidades. Um cenário que aconteceu tanto em termos globais, como em Portugal, como explica a WTW, num recente comunicado referente ao documento Estudos dos Ativos Globais de Pensões. Segundo José Marques, diretor na WTW Portugal, a estimativa da entidade baseada numa amostra de 75% dos fundos de pensões, mostra que os produtos alcançaram uma rendibilidade de -11,4% no ano passado. "O resultado menos negativo pode ser atribuído ao perfil mais conservador dos fundos de pensões portugueses em comparação com os maiores mercados mundiais", aponta o profissional.

Em termos de distribuição dos ativos, refere ainda, a alocação média a ações da amostra de portefólios é de "apenas 23%", enquanto que a alocação ao mercado imobiliário e a outros investimentos alternativos se fica pelos 14%. Estes valores, refere José Marques, "comparam com 32% e 23%, respetivamente, nos maiores mercados mundiais de fundos de pensões".

Ativos globais de fundos de pensões caem 16,7%

No mesmo documento elaborado pelo Thinking Ahead Institute (instituição pertencente à consultora WTW) fica refletido o grande baque sofrido pelos fundos de pensões em termos globais. Mais concretamente, da entidade avançam que depois de uma década em que o crescimento dos ativos foi ininterrupto, os fundos de pensões registaram a sua maior queda desde a crise financeira de 2008, no ano de 2022.

Os 47,9 biliões de dólares que os fundos de pensões somam agora, refletem então uma queda de 16,7% no ano, muito por via das "correções no mercado de rendimento fixo e no mercado de ações", pode ler-se no documento da entidade.

O maior mercado, contudo, mantém-se. Os EUA continuam a ser o mais robusto mercado de fundos de pensões, seguidos, a uma distância significativa, pelo Japão e pelo Canadá. Conjuntamente, os três representam mais de 76% dos ativos de pensões dos maiores 22 mercados de pensões (P22). O Reino Unido, por sua vez, caiu no ranking de países, mais concretamente para quarto lugar. Como justificam em comunicado, este acontecimento deveu-se "principalmente devido às perdas sofridas pelos fundos de pensões com estratégias de investimento liability-driven e à venda forçada de gilts (obrigações do governo) durante uma crise de liquidez".

Alocação a ações diminuiu de 50% para 42% nos últimos 20 anos

Ao nível das alocações, a entidade explica-nos algumas das mudanças dos últimos 20 anos. As alocações globais a ações, por exemplo, diminuíram de 50% para 42% e, de forma semelhante, a alocação a obrigações diminuiu de 38% para 32%. A alocação a outros ativos (mercados privados e alternativos) aumentou de 9% em 2002, para uma estimativa de 23% no final de 2022.

Tradicionalmente, acrescentam também, têm sido os EUA e a Austrália os dois países que apresentam as alocações mais elevadas a ações, comparativamente com os restantes sete maiores mercados (P7). Nas obrigações, por sua vez, são o Japão, Países Baixos e Reino Unido que se destacam, mas no montante que alocam a obrigações.

Para Marisa Hall, responsável do Thinking Ahead Institute, o longo prazo sobre o qual se concentram os fundos de pensões, apresenta desafios já no curto prazo. "O principal desafio é que é quase impossível determinar o preço exato destes riscos, uma vez que têm uma elevada incerteza e baixo controlo, mas é provável que o seu impacto seja amplo e significativo e testará a resiliência organizacional", aponta.