O peso dos ETF no investimento institucional português em 2024

Com a publicação da nossa estimativa mais recente para o volume total de fundos estrangeiros em Portugal — agora acima dos 51 mil milhões de euros — torna-se inevitável aprofundar a análise à componente dos Exchange Traded Funds (ETF), veículos que continuam a ganhar expressão nas carteiras dos investidores institucionais nacionais. Apesar de o crescimento do total investido não ter sido expressivo e o peso total se ter reduzido ligeiramente, a elevada quota-parte dos ETF no mercado português revela o reconhecimento do valor destas ferramentas de investimento na gestão de carteiras entre os gestores profissionais em Portugal.

No ano passado estimávamos cerca de 17,01 mil milhões de euros em ETF no mercado nacional, com um peso no total de fundos estrangeiros de 39,4%. Neste exercício, revisitamos os principais segmentos de investimento institucional e estimamos, com base em diferentes fontes e bases estatísticas, quanto do total investido em fundos estrangeiros poderá corresponder, efetivamente, a ETF.

Fundos nacionais de gestão mobiliária

Os fundos domiciliados em Portugal, mas que investem amplamente em produtos internacionais, reforçaram significativamente a sua aposta em ETF. Estima-se que 37,5% dos seus ativos aplicados em fundos estrangeiros sejam ETF, um decréscimo face ao ano anterior. Dado o total de 6,51 mil milhões de euros investido por estes fundos em veículos internacionais, esta percentagem traduz-se em aproximadamente 2,44 mil milhões de euros em ETF.

Fundo de Estabilização Financeira da Segurança Social

A principal reserva do sistema público de pensões português, o FEFSS, continua a ser um dos pesos pesados em Portugal no que ao investimento em ETF diz respeito. No final de 2024, o Instituto de Gestão de Fundos de Capitalização da Segurança Social (IGFCSS) reportava uma alocação total de 9,87 mil milhões de euros em fundos, dos quais 7,38 mil milhões de euros em ETF. Isto corresponde a uma impressionante taxa de 74,8%, reforçando a posição dos ETF como ferramenta central na estratégia de gestão da componente de fundos de terceiros.

Gestão de patrimónios

Neste segmento, a utilização de ETF continua a ser expressiva. Apesar da falta de dados desagregados públicos, recorremos novamente à análise das carteiras perfiladas nacionais como proxy. A composição dessas carteiras aponta para uma alocação média de 44,4% dos investimentos indiretos em ETF, ligeiramente abaixo do ano anterior. Aplicando esta taxa aos cerca de 9,43 mil milhões de euros de ativos líquidos estimados neste universo (excluindo duplicações com fundos de pensões e seguradoras), obtemos um total próximo de 4,19 mil milhões de euros investidos em ETF. Este continua a ser o segmento com maior preferência relativa por este tipo de instrumento à exceção do FEFSS.

Seguradoras

O setor segurador permanece um dos principais pilares do investimento institucional em Portugal. No final de 2024, os ativos em fundos estrangeiros neste segmento superavam os 10 mil milhões de euros. A análise de alocação por tipo de veículo com base nas carteiras de seguros de investimento e balanço de seguradoras disponíveis na ferramenta FundsPeople LAB indica que cerca de 22,9% deste montante estará investido em ETF. Em termos absolutos, isto representa um volume estimado de cerca de 2,48 mil milhões de euros em ETF detidos por seguradoras nacionais.

Fundos de pensões

Com aproximadamente 7,17 mil milhões de euros investidos em fundos estrangeiros, os fundos de pensões (abertos e fechados) mantêm uma utilização robusta de ETF. A proporção alocada a ETF, segundo estimativas baseadas nas carteiras de fundos abertos e fechados disponíveis na ferramenta FundsPeople LAB, situou-se nos 41,6%. Em termos absolutos, estamos a falar de cerca de 2,98 mil milhões de euros investidos neste formato, o que reflete uma consolidação das estratégias passivas no seio das entidades gestoras de pensões.

Distribuição direta

Tal como nos anos anteriores, os dados disponíveis através da CMVM não incluem informações específicas sobre a componente de ETF distribuídos diretamente em Portugal. Esta limitação mantém-se como um obstáculo à compreensão mais detalhada deste canal, que poderá, potencialmente, conter volumes relevantes.

Uma presença sólida e com espaço para crescer

A soma das estimativas por segmento permite-nos concluir que, no final de 2024, o total de ativos em ETF dentro do mercado português de fundos estrangeiros poderá ultrapassar os 19,47 mil milhões de euros. Isto corresponde a uma fatia de cerca de 37,7% do universo total.

Se compararmos com os números europeus — onde os ETF UCITS representavam, a fecho do ano, cerca de 14% dos ativos totais em fundos —, Portugal continua a destacar-se como um mercado muito recetivos a esta tipologia de instrumentos nos vários segmentos institucionais. Mesmo considerando apenas os fundos internacionais (cross-border) europeus, os ETF abarcam cerca de 20% dos ativos do mercado europeu, significativamente abaixo do peso que configuram em Portugal.

Distribuição dos ativos e mercado europeu de fundos tradicionais e ETF no final de 2024 (milhões de euros)

Fonte: Revista FundsPeople Portugal número 60, com dados da Morningstar.

Embora 2024 não tenha trazido uma explosão de crescimento no volume investido em ETF, o ano reafirmou o papel essencial que estes veículos desempenham nas carteiras institucionais portuguesas. O seu peso já não depende de modas ou ciclos de mercado — é reflexo de uma escolha estratégica sustentada.

Com a maturação das soluções disponíveis e o alargamento da oferta temática e setorial, os ETF deverão continuar a ser protagonistas na evolução da gestão institucional em Portugal.