Clientes estrangeiros impulsionam mercado português de banca privada, mas clientes nacionais também desempenham um papel importante
O mercado português tem demonstrado um crescimento relevante nos últimos anos, tendo para isso contribuído, em particular, o crescente fluxo de clientes estrangeiros que chegam a Portugal. Na segunda edição do Think Tank BNY Investments, os participantes destacaram como o bom contexto do mercado português tem atraído cada vez mais este tipo de clientes, reconhecendo, ao mesmo tempo, que os próprios clientes portugueses desempenham um papel importante neste crescimento acentuado.

De facto, como comprova Bruno de Carvalho, CEO do Edmond de Rothschild em Portugal, a área da banca privada está a passar por uma transformação, registando-se “um fluxo importante de estrangeiros, principalmente de brasileiros, franceses e norte-americanos”, afirma o profissional, acrescentando ainda que a base de clientes do banco é atualmente 75% portuguesa e 25% estrangeira, o que, na sua opinião, é inédito: “Há cinco anos tínhamos quase 100% de clientes portugueses”.
Desta forma, para Bruno de Carvalho, o cliente estrangeiro, que considera estar mais exposto aos mercados financeiros, vem “contaminar positivamente o mercado e a oferta”, trazendo mais dinheiro, em média, do que o cliente português. Paralelamente, Carlos Santos Lima realça que o facto do cliente estrangeiro, em média, estar mais habituado a fazer investimentos nos mercados de capitais do que um cliente nacional e de este ser mais exigente, tem também “puxado pela indústria”.
O country head do UBS em Portugal reforça esta ideia, destacando que “Portugal está no Top 10 de atração de milionários”, estando a receber entre “800 a 1.000 milionários por ano”. Contudo, o responsável pela operação do UBS em Portugal assinala um outro fator muito relevante: estes não são movimentos provisórios, mas sim fluxos de clientes que se querem estabelecer no nosso país. “Inicialmente havia razões fiscais para isso, mas esse já não é o ponto principal para muitas comunidades estrangeiras se instalarem”, atesta.

No entanto, e apesar destas dinâmicas positivas observadas no mercado, Bruno de Carvalho considera que há um desafio de se fazer negócio de wealth management em Portugal: a maior concorrência. “Uma das questões que nos preocupa é que esta maior concorrência faz com que os problemas relacionados com a falta de recursos humanos se agravem”, explica.
Quadro fiscal atrativo, economia dinâmica e enquadramento fiscal do ponto de vista sucessório
Para este aumento de clientes estrangeiros contribuiu, do ponto de vista do CEO do Edmond de Rothschild em Portugal, não só o quadro fiscal atrativo do país, a economia dinâmica, mas também a relativa estabilidade política. Por sua vez, Lourenço Vieira de Campos, destaca como principal vantagem do mercado português o enquadramento fiscal do ponto de vista sucessório. “É um tema relevante principalmente para quem vem de outras geografias, onde este enquadramento não é uma realidade tão favorável”, realça.

Na opinião do head do Private Banking do Santander em Portugal, a este enquadramento – que vai além dos clientes Golden Visa e dos residentes não habituais – junta-se a inexistência do imposto sobre fortunas. “Os não residentes vêm atraídos por este pacote fiscal, mas não só”, aponta o profissional, acrescentando que as oportunidades oferecidas pelo mercado através do private equity e do imobiliário e a qualidade de alguns clusters que se vão instalando no nosso país, também “funcionam como um atrativo para chamar este fluxo de clientes para Portugal”.
Mas para Lourenço Vieira de Campos não são apenas os investidores internacionais que impulsionam o crescimento do mercado português. O head do Private Banking do Santander Portugal relata que também tem havido um fenómeno que classifica como bastante relevante: “Com a entrada dos private equity no mercado, tem havido eventos de liquidez que têm trazido para o mundo de wealth management novos clientes domésticos”. Por outro lado, considera que a sofisticação financeira dos clientes portugueses “tem evoluído bastante”, principalmente a partir do momento em que se envolvem as gerações seguintes. “Na primeira geração, há, tipicamente, uma maior preocupação com a preservação do capital. Já a segunda tem normalmente uma cultura e sofisticação financeira diferentes, olhando para o património financeiro também do ponto de vista da alocação”, afirma.
Nesta linha, Carlos Santos Lima destaca que, no caso particular do UBS, os clientes portugueses fazem maioritariamente investimentos: “Estes clientes, tendo mais ou menos experiência, já nos procuram com uma lógica voltada para os investimentos. Nota-se um interesse crescente em conhecer as opções disponíveis”, refere.