Em mais uma edição de ETF Index Minds organizado pela FundsPeople, na qual participaram André Themudo (BlackRock), César Muro (DWS), Laure Peyranne (Invesco), e Nina Petrini (UBS), falou-se das adaptações que os grandes bancos tradicionais terão de fazer para corresponder às expetativas dos clientes, especialmente millennials e centennials.
A emergência da banca nativa digital antecipa um novo modelo de relação com as entidades financeiras: os consumidores vão trabalhar com vários bancos para gerir diferentes soluções. Uns para gerir o salário e os empréstimos; outros, para investir. Assim, a hegemonia que os grandes bancos tradicionais detinham até agora está a perder força, especialmente entre os millennials e, claro, os centennials.
Um relatório do Banco Mundial, baseado num inquérito a entidades financeiras, revela que o setor reconhece que 46% dos clientes vão trabalhar com várias instituições financeiras em simultâneo, e apenas 32% acredita que essa relação será mantida com um banco tradicional. Por essa razão, os bancos estabelecidos lançaram os seus próprios neobancos, conscientes de que será muito difícil que as novas gerações procurem os seus serviços da mesma forma que os seus pais.
Para debater esta transição, a FundsPeople organizou um novo encontro ETF Index Minds, com a participação de Antón Díez, country manager para Espanha e Portugal da Trade Republic, Nina Petrini, responsável de ETF & Index Fund Sales da UBS para a Península Ibérica e América Latina, Laure Peyranne, head of ETFs Iberia, LatAm & US Offshore da Invesco, César Muro, head of Xtrackers Sales Iberia na DWS, e André Themudo, head of Wealth da BlackRock na Península Ibérica.
Mudança geracional, canais e hábitos de consumo
“Vai haver uma mudança geracional, em que os novos clientes bancários, com menos de 35 anos, terão dificuldade em sentir-se atraídos pelo modelo de banca tradicional. Ou lhes oferecemos algo mais fresco, diferente, com outro tipo de custos e valor acrescentado, ou irão embora e será difícil reconquistá-los no futuro”, afirma César Muro. Considera que a forma como os neobancos surgiram foi “bastante disruptiva”, pois utilizaram as redes sociais e fomentaram a educação financeira. Desenvolveram um modelo muito fresco, simples e conveniente graças à tecnologia, o que está a atrair tanto clientes com mais conhecimentos financeiros como os mais jovens.
Nina Petrini, da UBS, concorda que essa adaptação passa pela comunicação através das redes sociais mais relevantes: “Muitas vezes, é mais fácil construir sistemas novos do zero do que tentar alterar os que já são considerados obsoletos”. Posicionar-se em certos segmentos de comunicação inovadores ajudará a consolidar essa relação com as novas gerações. No entanto, essa transição é mais difícil para a banca tradicional, enquanto os neobancos chegaram primeiro e quebraram barreiras.
No caso da Trade Republic, por exemplo, a comunicação combina meios tradicionais (jornais, rádio e televisão) com influenciadores e criadores de conteúdo nas redes sociais, fornecendo informação valiosa. “Há uma perda de confiança quase total na grande banca. Embora façam negócios com esses bancos, os clientes não os admiram nem gostam da relação com eles”, explica Antón Díez, country manager da entidade para Espanha e Portugal.
Mas esta mudança não é apenas geracional, trata-se também de uma adaptação aos novos hábitos de consumo, nos quais tudo se quer fazer a partir do smartphone. E foi precisamente isso que as fintechs fizeram, trazendo o acesso imediato aos investimentos através do telemóvel. “Isto não se restringe apenas aos perfis mais jovens, pois hoje em dia todos usamos o telemóvel”, acrescenta Laure Peyranne, da Invesco.
Convivência entre dois modelos
Ainda assim, a diretora da UBS defende a convivência entre os dois modelos de banca, pois “haverá sempre segmentos da população que precisam dos seus assessores e gestores para cuidar das suas poupanças de forma tradicional e personalizada”.
Este é precisamente o maior desafio para as fintechs, segundo o responsável da DWS: “No final, há clientes de certa idade que vão querer sempre falar com alguém”.
O diretor-geral da Trade Republic também reconhece a importância do papel social da banca tradicional no pagamento de prestações públicas e no financiamento empresarial. “Isso é algo que nós não fazemos, pois apenas damos acesso a uma pequena parte da população”, admite. E apesar de os bancos tradicionais serem mais caros na venda a retalho, desempenham uma função social essencial para o país.
Simplicidade
Mas esta transição não é apenas de clientes, mas também de produtos. André Themudo, da BlackRock, lembra como antes da crise financeira de 2008, quanto mais complexo era um produto, mais qualidade se lhe atribuía. Contudo, após a crise, essa mentalidade mudou e agora quanto mais simples, melhor.