No final de 2024, o S&P 500 registava o nível de concentração mais elevado em décadas. No âmbito do ETF&Index Minds, Tim Edwards (S&P Dow Jones Indices), Silvia Senra (BlackRock), Laure Peyranne (Invesco), Antonio Royo-Villanova (DWS) e Nina Petrini (UBS AM) analisam as implicações para os investidores e que oportunidades oferece o índice equiponderado.
Não é segredo que a forma mais eficiente de investir no S&P 500 é através de um ETF que replique o índice das ações americanas. Um índice que, teoricamente, oferece uma exposição muito diversificada ao mercado dos EUA, graças ao elevado número de empresas que o compõem. Mas o que acontece quando apenas algumas empresas concentram a maior parte da capitalização do mercado, como tem acontecido nos últimos anos com as Sete Magníficas?
“No final de 2024, o S&P 500 registava o nível de concentração mais elevado desde o início da década de 1970”, explica Tim Edwards, responsável por Estratégias de Investimento Indexadas na S&P Dow Jones Indices, durante o encontro organizado pela FundsPeople no âmbito da iniciativa ETF&Index Minds, no qual participaram também Silvia Senra (BlackRock), Laure Peyranne (Invesco), Antonio Royo-Villanova (DWS) e Nina Petrini (UBS AM).
Como refere Edwards, “a ponderação do mercado às dez maiores empresas do S&P 500 duplicou na última década, passando de 17,9% no final de 2014 para 37,7% no final de 2024”.
Esta tendência para uma maior concentração do índice afeta também as rentabilidades. Segundo dados da S&P Dow Jones Indices, no conjunto de 2024, 72% das ações do S&P 500 registaram uma rentabilidade inferior à do índice, embora esta tendência pareça ter-se invertido em 2025: a 28 de janeiro, apenas 47% apresentavam retornos inferiores aos do índice.
Perante esta elevada concentração, muitos investidores ponderam rodar parte da sua exposição para o S&P 500 Equal Weight Index (EWI), que atribui a mesma ponderação a todos os componentes do índice.
“Os clientes profissionais estão conscientes de que estes níveis de concentração não são normais nem benéficos para a carteira, e tentam diversificar”, afirma Silvia Senra, diretora na BlackRock, que considera que “reduzir o peso das grandes megacapitalizações é uma boa forma de diversificar a exposição às ações americanas”.
Senra faz referência a uma análise em que a gestora americana combinou as duas estratégias (ponderação por capitalização e ponderação igual): “Avaliámos o comportamento da carteira e observámos que o rácio de Sharpe, o rácio de informação e a volatilidade se reduzem substancialmente quando se atribui parte da exposição às ações americanas ao S&P 500 EWI, algo muito interessante para os nossos clientes”.
Como sublinha Nina Petrini, Country Head da UBS AM em Espanha, Portugal e Andorra, “o índice equiponderado é possivelmente menos sensível à influência de certos setores ou ao comportamento de determinadas ações, pelo que aporta características defensivas num momento de grande incerteza como o atual”.
À partida, replicar o S&P 500 EWI poderá parecer uma boa ideia, já que, historicamente, tem superado o índice ponderado por capitalização de mercado. Segundo um estudo da Invesco publicado no final do ano passado, até 2023, o S&P 500 EWI superou o S&P 500 em 1,05% ao ano, em média, desde o seu lançamento. No entanto, à medida que aumenta a concentração do S&P 500, o comportamento relativo do índice equiponderado piora, o que é precisamente o que tem acontecido nos últimos anos.
Apesar deste mau desempenho relativo, os fluxos de entrada em produtos que replicam o S&P 500 EWI continuam a crescer: “Os ativos duplicaram entre 2022 e 2024, um crescimento superior ao do mercado”, destaca Edwards.
A experiência da Invesco, que comercializa o maior ETF do S&P 500 EWI dos EUA, confirma o que refere o profissional da S&P Dow Jones Indices. “De facto, no ano passado registámos um elevado volume de entradas de fluxos, precisamente porque o S&P 500 estava demasiado concentrado nas Sete Magníficas e os investidores optaram por rodar parte da sua exposição para o S&P 500 EWI, para diversificar e proteger as suas carteiras”, partilha Laure Peyranne, responsável de ETF para Ibéria, América Latina e EUA Offshore da gestora. Nina Petrini vai mais longe: “O que estes dados nos estão a dizer é que, neste momento, na estratégia equal weight, o dinheiro não segue a rentabilidade: antecipa a rentabilidade”.
E é que, como tem sido documentado pelo fornecedor de índices, historicamente, as concentrações setoriais e de mercado tendem a reverter para a média, pelo que, no contexto atual, o S&P 500 EWI não só permite proteger do risco das megacaps, como também pode representar uma oportunidade para os investidores que antecipam uma menor concentração do mercado.
“Sabemos que, a longo prazo, o índice equal weight tende a superar o market weight, pelo que, se vimos de um período de muita concentração, como nos últimos anos, em que o S&P 500 se comportou muito melhor do que o S&P 500 EWI, isto pode representar um bom ponto de entrada para apostar na reversão à média”, defende Peyranne.
“As análises que realizámos na DWS indicam que o índice equiponderado tende a superar o índice ponderado por capitalização de mercado depois de o S&P 500 registar uma elevada concentração dos cinco valores com maior peso na série histórica”, acrescenta Antonio Royo-Villanova, especialista em Gestão Passiva na Xtrackers (DWS).
“Nos dois últimos anos, o índice S&P 500 EWI teve um desempenho consistentemente inferior ao do S&P 500, mas os investidores continuaram a investir à medida que as Sete Magníficas continuavam a aumentar a sua capitalização e, consequentemente, o seu peso. A reversão à média deverá contribuir para que o índice equal weight volte a comportar-se melhor do que o market weight”, conclui o especialista.