Paul Casson, gestor na Artemis Investment Managers, fala de como os mercados têm preferido o que está “longe” em detrimento do que está ao seu alcance.
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“A volatilidade está a voltar, mas não está verdadeiramente de volta. Parece-nos muito elevada em relação ao que experienciamos recentemente, mas, em termos históricos, não está nos níveis mais elevados. Pelo menos para já”. Assim comentou Paul Casson, gestor na britânica Artemis Investment Managers, num evento organizado em Londres com jornalistas europeus. O gestor não deixa de criticar a lógica (ou falta dela) dos investidores ao longo dos últimos anos, mas a ideia que passa é de tranquilidade perante o comportamento dos mercados em 2018. “Nos últimos anos os preços das ações têm subido muito, enquanto os resultados não subiram tanto. Tudo se tem tornado mais caro. É fácil encontrar uma justificação para tudo na vida, mas a verdade é que os mercados têm vindo a criar um vazio que tem que ser preenchido. Um vácuo que tem que ser ocupado. E se por um lado vimos o mercado a preencher esse vazio, com os preços a recuar, por outro, os resultados têm estado a subir e estamos ainda no princípio da época de resultados. Não é o fim do mundo,” metaforiza. Por outro lado, acrescenta: “É possível termos recessões que não se traduzem em crises financeiras globais. Mas estas últimas são aquelas que são pouco comuns, não o contrário. Contudo, nada pode ser fantástico eternamente e eventualmente terá de mudar”.
O que está longe e o que é pequeno
Para ilustrar a sua visão do que é incerto e menos incerto, Paul Casson faz a referência a uma sitcom britânica chamada ‘Father Ted’, uma série acerca de um padre numa ilha ao largo da costa este da Irlanda. “Na série, e neste excerto em específico, vemos o padre Ted, um velho clérigo, e o padre Dougal, um jovem padre, muito entusiástico, mas bêbado e muito, muito estúpido. O padre Ted tenta explicar ao padre Dougal a diferença entre um brinquedo, uma miniatura de uma vaca em cima da mesa, e uma vaca que pastava do lado de fora da janela. Explicava que uma é efetivamente pequena, e a outra apenas parecia pequena porque estava longe”, conta o gestor em jeito de introdução. “E porque conto esta história? Exatamente porque há uma grande diferença entre as coisas que estão longe e as coisas que são pequenas. As ações que cotam a níveis muito caros, como a Netflix, por exemplo, fazem-no por uma de duas razões. Ou porque os investidores esperam que os lucros que estão muito longe, à medida que se aproximam, fiquem mais atrativos, o que justificará as valuations, ou esses lucros são efetivamente pequenos o que se vai revelar uma terrível notícia para o preço da ação. É um fenómeno que tem feito com que a amplitude da liderança do mercado se tenha afunilado”, explica Paul Casson.
Há limites para a disrupção
O gestor realça assim a grande diferença entre uma ação growth e uma ação value. “Perante estas ações de ‘conceito’, como a Netflix, ninguém foca na quantidade de dinheiro em caixa que está a ser consumido todos os trimestres. Querem apenas saber do conceito do negócio e confiam que tudo estará bem quando o futuro chegar. Por outro lado, empresas como as do sector do tabaco ou telecomunicações, que mostram cash-flows fortes e imediatos, ninguém quer, tal como todas as outras que, aparentemente, estão a ser ultrapassadas pelas grandes empresas disruptivas. Bons e fortes cash-flows, cash-flows muito ‘próximos’, valuations muito atrativas...Ninguém quer saber. É um admirável mundo novo ... ou não!”.
Para Paul Casson a persecução dos conceitos de investimento disruptores não é o único caminho e tem os seus limites. “Como é que uma pessoa toma posse das suas compras online? Vêm pelo rooter dentro de casa? Pela internet? Ou alguém toca à campainha e entrega a encomenda em mãos? Há um limite para a quantidade de disrupção que pode acontecer, mas o mercado bifurcou completamente. Já não quer saber se uma empresa mostra cash-flows próximos e previsíveis. Está interessado, isso sim, em cash-flows que estão longe e que são, por definição, muito mais incertos”, conclui.