Análise das gestoras internacionais ao que foi dito pela FED na sua última reunião do ano

Powell

O Comité Federal de Mercado Aberto (FOMC) da Reserva Federal dos Estados Unidos confirmou que a política de taxas zero e as compras do programa QE nas quantidades atuais (120.000 milhões de dólares por mês) vão continuar até que a economia mostre uma maior recuperação da crise da COVID-19. Tal como se esperava, a autoridade monetária fortaleceu o forward guidance sobre as compras de obrigações e anunciou que vai continuar a comprar até que “se veja um progresso substancial”. Não obstante, absteve-se de mudar a composição das compras ou de comprar vencimentos mais longos.

As perspetivas económicas das Fed para os próximos anos melhoraram. Em geral, o presidente, Jerome Powell, disse que o caminho a seguir continua a ser muito incerto e que é provável que os próximos meses sejam muito difíceis no que concerne o vírus. O FOMC continua a ser flexível quanto a fazer mais (se for necessário), mas considera que agora não é necessário e, portanto, não houve mudanças nas suas políticas, ainda que com um foward guidance mais forte. As reações das gestoras internacionais sobre o último anúncio do ano do banco central não se fizeram esperar.

De acordo com Jonh Bellows, gestor da Western Asset (Franklin Templeton), o FOMC encontrou-se numa situação delicada na sua reunião. “Por um lado, as condições económicas atuais deterioraram-se desde que o Comité se reuniu há seis semanas. Os casos de COVID-19 continuam a aumentar em muitas partes do país, o que fez com que algumas autoridades locais tenham aumentado as restrições sobre a mobilidade, e torna-se possível que aconteça uma descida da atividade económica nos próximos meses. Por outro lado, as perspetivas a médio prazo para a economia americana melhoraram ligeiramente desde a última reunião do FOMC, devido ao anúncio e à posterior distribuição de vacinas eficazes contra a COVID-19”.

Tal como explica Sandrine Perret, economista sénior e estratega de obrigações na Vontobel AM, a valorização económica foi mais positiva do que em setembro, já que as previsões do PIB aumentaram para este ano (de -3,7% do quarto trimestre para -2,4%) e para 2021 (de 4,0% para 4,2%). “As projeções para o desemprego foram revistas em baixa, como se esperava. Powell declarou que a recuperação tinha sido mais rápida do que o esperado, ainda que nos últimos meses o ritmo de melhoria tenha moderado. As projeções da inflação do PCE básico também foram um pouco mais altas em 2021 (1,8% vs. 1,7% anteriormente), mas só em 2% em 2023”.

No que diz respeito ao gráfico de pontos, continua sem mostrar um aumento das taxas até, pelo menos, fim de 2023. Cinco membros esperam um aumento (eram quatro em setembro) para o fim de 2023. “Portanto, a média não mudou, como esperávamos nós e o mercado. Em suma, até com projeções económicas ligeiramente melhores, a opinião do FOMC sobre as taxas não mudou e uma vasta maioria do Comité não prevê um aumento num futuro próximo”, afirma a especialista.

Christian Scherrmann, economista na DWS, é da opinião de que a Reserva Federal se mantém num modo reativo, à espera de ver como se desenrolam as negociações no Capitólio, enquanto está preparada para reagir se as condições financeiras pioram. “A possibilidade de um aumento na compra de ativos ou a extensão dos vencimentos continua em cima da mesa se a situação o justificar, tal como Powell insinuou durante a conferência de imprensa, os meses mais frios serão decisivos para a recuperação no início de 2021 e, portanto, para o curso da política monetária”.

Neste sentido, Powell refletiu sobre a importância dos próximos três a seis meses. Destacou que as perspetivas continuam a ser muito incertas e, apesar do aparecimento das vacinas ter sido bem recebido, faltou importância no curto prazo. Espera-se que as vacinas permitam que a economia tenha um bom rendimento na segunda metade de 2021. Quanto ao importante assunto das instalações de emergência da Reserva Federal, o presidente da Fed referiu-se novamente à utilização do Fundo de Estabilização do Tesouro, provavelmente "piscando o olho" à nova secretária do Tesouro e ex-presidente da Reserva Federal, Janet Yellen.