Matthew Michael, product manager de dívida de mercados emergentes e commodities, na Schroders, partilha as suas ideias acerca dos segmentos da classe de ativos que considera mais atrativos, depois de um bear market que alienou grande parte dos investidores deste mercado.
A energia
O segmento da energia é o que Matthew Michael considera mais atrativo. “Apesar da recuperação do petróleo para os 50 USD, ainda acreditamos que nos próximos 6 a 12 meses cotará nos 65 ou 70 dólares”. Porquê? “Basta olhar para a oferta, para a procura e para os inventários”.
Primeiro de tudo, o profissional acredita que a subida da produção na OPEC chegou ao fim. “No ano passado ficámos surpreendidos com a quantidade de petróleo que conseguiram produzir”, exclama, recordando que “a OPEC declarou guerra à produção a preços elevados, nos EUA, no Canadá, entre outros”. Em consequência verificam no mercado uma grande resposta das empresas no corte da produção e investimento. Porém, não são só as empresas do sector que estão a ser penalizadas, mas também as próprias economias dos países produtores de petróleo, já que “precisam do petróleo entre 70 e 100 dólares para manter as suas contas balanceadas”, esclarece o product manager da Schroders. A queda do preço desta matéria prima levou a um crescimento do endividamento, bem como a um aumento dos custos de aquisição de equipamento e matérias primas em dólares. Até o Irão, que tem a capacidade e a vontade de aumentar a produção, “precisa de investimento estrangeiro que não chegará enquanto o retorno do investimento não se tornar mais atrativo”, refere. No gráfico a variação semestral anualizada da produção da OPEC.
Fazendo parte de uma equipa de especialistas recorrentemente em contacto direto com as empresas, o profissional destaca que procuram focar, essencialmente, numa questão: A que preço do barril do crude voltarão a produzir? Embora as respostas variem entre os 30 dólares e os 100 dólares, o intervalo mais comum é entre os 60 e os 70 dólares, no entanto o profissional considera que “não veremos uma resposta significativa do lado da produção enquanto não chegarmos a esses níveis, porque demoraria entre 6 a 12 meses para arranjar financiamento, equipamento, contratar mão de obra...”
Mas é no gás natural que Matthew Michael vê a derradeira oportunidade. “Uma das razões porque gostamos tanto do ativo é porque, sendo considerado uma energia mais ‘verde’ e porque está muito barato, temos visto uma subida incrível na sua procura”, explica. Vemos, por exemplo, o gás natural a substituir o carvão como a principal fonte de energia para geração de eletricidade nos EUA, pelo que “dois anos consecutivos de um declínio de produção, dois anos de subida do consumo e o facto de o gás natural ser muito difícil de armazenar”, faz com que seja o ativo eleição do profissional.
O ouro
A temática das commodities nunca estaria completa sem se mencionar o ouro. “O ouro está barato e vemo-lo como uma divisa de último recurso; não serve para muito mais”, descreve Matthew Michael.
O profissional apresentou evidências que contrariam a convicção de que quando as taxas de juro sobem os preços do ouro descem. Nomeadamente, e como está patente no gráfico, em três dos últimos quatro períodos de contração de política monetária os preços desta matéria prima mostraram um comportamento positivo.
“Porque é que os bancos centrais sobem as taxas? Porque querem controlar a inflação e o excesso de liquidez, as taxas de retorno reais, controlar a moeda... todos cenários positivos para o ouro”, explica o product manager da Schroders.
Por outro lado, quando olhamos para a oferta do metal amarelo, e segundo o especialista, vimos um pico na produção há dois ou três anos atrás, com países como a “África do Sul a verem a sua produção reduzida para metade num período de 10 anos”. Apenas a China conseguiu duplicar o seu output, mas não exportam uma única onça.
Os metais básicos
Quando falamos de metais básicos, o profissional não deixa margem para dúvidas: “Tem sido um mercado muito difícil”. No entanto, destaca que demasiados mercados caíram muito, e de forma muito rápida. “Há uma coisa a ter em conta no segmento dos metais básicos: são muito voláteis”, refere, acrescentando que “se se tiver um bom timing de entrada pode fazer-se muito dinheiro, mas se se ficar no mercado demasiado tempo pode-se perder muito dinheiro”.
Os bens agrícolas
“Há uns três anos que não gostamos de commodities agrícolas”, diz Matthew Michael, explicando as suas razões: “Temos sido muito afortunados com o clima, que tem estado bom, pelo que as yields das colheitas têm sido muito boas”. No entanto, recentemente, “começamos a ver sinais de um défice em diversos mercados e a última vez que assistimos um défice significativo, no mercado do trigo, em 2004/2005, o preço da commodity foi de 400 cêntimos por ‘bushel’ para 1.200 cêntimos de dólar por ‘bushel’".
O especialista explica que ativos como a borracha e o café, por exemplo, crescem em árvores, ou seja, “não são colheitas que se plantam e colhem todos os anos. Estas árvores têm, em média, 20/22 anos e deviam ter sido replantadas cinco anos atrás. Porém com o colapso dos preços, os agricultores não o quiseram fazer e como resultado, as yields têm estado a recuar à três anos”.
Já o consumo do açúcar tem estado a subir sistematicamente, apesar de ser visto cada vez mais como pouco saudável. No entanto, este bem “não é usado apenas para a alimentação, mas também para a produção de combustível”, outra fonte de procura.
Neste sentido, o profissional acredita que “pelo final deste ano, a grande parte dos mercados agrícolas deverá mostrar ganhos entre 10% e 20%, com a exceção do gado e carne, onde vê um excesso de produção.