Se procura os responsáveis pelo aumento da volatilidade, deve olhar para a China, Grécia e a Reserva Federal. É nisso que acredita Ángel Agudo, gestor do FF America. O especialista da Fidelity Worldwide Investment acredita que “a situação da China foi, de longe, o que mais contribuiu para esta volatilidade”. Apesar da rapidez com que as más notícias têm corrido em todo o mundo, Agudo pode orgulhar-se do seu fundo ter fechado cinco dos últimos seis meses acima ou ao mesmo nível do seu índice de referência. Para além disso, superou 91% dos fundos integrados na categoria “GIF US Large Cap Blend Equity” da Morningstar.
Um stock picking com êxito
“Creio que este melhor comportamento relativo se deve à minha seleção de títulos nos sectores da tecnologia da informação (IT) e saúde”, comenta Agudo. Indica que, dentro do sector da tecnologia, os títulos mais destacados têm sido Activision Blizzard e a eBay. A primeira por ter surpreendido positivamente com os seus resultados trimestrais e a segunda pela boa recepção da decisão de converter o eBay e a Paypal em duas empresas independentes, o que criou valor para o acionista. “Também a minha visão a longo prazo sobre os dois títulos em separado é positiva e tenho em carteira tanto a eBay como a PayPal”, clarifica o gestor.
Dentro do sector da saúde, o especialista destaca a posição na Eli Lilly, que gerou lucros depois de ter anunciado que tinha assinado um acordo de colaboração para ensaios clínicos com a AstraZeneca, mas também fala da importância da posição na C.R. Bard, que apresentou lucros trimestrais melhores do que o previsto graças à força das suas vendas. Da Fidelity acrescentam que o ênfase da carteira nas operações corporativas dos diferentes sectores também sustentou as rentabilidades. “Por exemplo, o fundo beneficiou da aquisição da Chubb por parte da ACE (tinha os dois títulos em carteira), a aquisição da Altera por parte da Intel (Altera estava em carteira) e ainda aquisição da Cigna por parte da Anthem (ambos os títulos em carteira), explica Águdo.
O gestor costuma investir com um estilo value, bottom up, e com um horizonte de longo prazo, centrando-se em negócios com balanços sólidos ou modelos de negócio resistentes que, desse modo, oferecem proteção face às quedas. Aproveitou a recente correção para comprar títulos que foram castigados injustificadamente. Assim, depois de ter “ido às compras”, a mudança mais destacada que a carteira do FF America passou, de um ponto de vista sectorial durante os últimos seis meses, foi o aumento da exposição ao sector industrial, “embora não tenha comprado empresas industriais típicas”, enfatiza. Desta forma, entre as posições principais do fundo figura a L-3 Communications, um fornecedor líder de sistemas para a indústria aeroespacial e soluções de segurança para governos; a United Parcel Service, uma das empresas de embalagens mais importantes do mundo e fornecedor de soluções para a gestão de cadeias de abastecimento; e a Dun Bradstreet, que fornece serviços de dados e de análises.
“Por outro lado, recolhi lucros em algumas seguradoras com uma boa trajetória bolsista recente e assumi uma nova posição na Berkshire Hathaway, que possui um conjunto de empresas líderes que fazem com que a holding de investimentos esteja numa boa posição em praticamente qualquer contexto. Espera-se que a Berkshire Hathaway crie valor com o passar do tempo através do crescimento dos lucros, complementando com uso de uma tesouraria crescente”, refere o especialista.
Aproveitou também para mudar as ponderações de alguns dos títulos. Por exemplo, dentro do sector da tecnologia optou por reforçar a sua exposição à Oracle, “visto que o título caiu emforça em datas recentes e possui uma enorme história pela frente pelo seu domínio constante na área das bases de dados, e pelo seu negócio recorrente de manutenção e elevadas margens, e ainda pelo impulso que a sua presença está a dar no mercado da informática na nuvem”.
Ainda sobre este assunto, o gestor esclarece que tem seguido “muito de perto os movimentos das moedas”, sendo “consciente das suas implicações em cada título”. Atualmente, a exposição internacional do fundo continua a mover-se em níveis similares aos do índice de referência.
O que pode acontecer até ao final do ano?
A Reserva Federal vai ter um papel chave no que resta do ano, segundo Águdo. Este refere que apesar da Fed ter voltado a adiar o momento de subida das taxas de juro, “a normalização parece cada vez mais iminente, e agora é provável que a primeira subida das taxas seja em dezembro de 2015”. “Provavelmente está mais do que justificada, visto que a economia dos EUA continua a expandir-se, e o desemprego se encontra atualmente próximo da sua taxa natural histórica”, observa o especialista. Este considera que esse passo na direção da normalização “começaria a exercer mais pressão sobre as empresas para que usem o seu capital com rigor e para fomentar abordagens de investimento cada vais mais seletivas”.
“Com os olhos postos no futuro, o crescimento dos lucros poderá ser um factor chave para determinar em que direção se move o mercado”, continua Agudo. Este recorda que “embora as duas primeiras temporadas de resultados do ano tenham sido melhores do que o previsto, as surpresas positivas com as quais se depararam os lucros deveram-se principalmente às baixas expectativas”. Para além disso, está a prestar muita atenção às pressões sobre as margens, porque poderão repercutir-se nos lucros das empresas norte-americanas. Apesar desta tendência, o gestor recorda que “como sempre algumas empresas se sairão melhor do que outras, o que coloca em relevo a necessidade de fazer bem o trabalho de casa e ser seletivo”.