Benjamin Louvet (Ofi AM): “A inflação veio para ficar e isso vai fazer o ouro subir”

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Benjamin Louvet. Créditos: Cedida (OFI Asset Management)

A inflação é, sem dúvida, a questão mais discutida nesta fase do mercado, depois dos acentuados aumentos dos preços registados em muitos países. Durante décadas parecia ter desaparecido do radar, mas agora o seu retorno coloca os investidores em alerta. A questão-chave é se estamos perante um fenómeno transitório, como afirmam a Fed e o BCE, ou se, pelo contrário, tem um carácter mais duradouro. Um cenário complexo surge antes de 2022, no qual, para além das políticas monetárias, entram em jogo os bottlenecks nas cadeias de abastecimento, os preços das matérias-primas e o custo da transição energética. Mas para Benjamin Louvet, gestor do fundo OFI Financial Investment - Precious Metals, este será um período favorável para o ouro.  “A inflação veio para ficar e será um tema nos próximos anos”, explica em entrevista à FundsPeople.  

“O ouro não está diretamente relacionado com a inflação.  O ouro tem uma correlação bastante negativa com as taxas de juro reais. Portanto, enquanto as taxas reais continuarem baixas, o preço do ouro será elevado”, afirma o especialista da Ofi Asset Management. O metal amarelo não gera rentabilidade por si só. E até há cerca de 10 anos, não era considerada uma verdadeira classe de ativos. “Mas as coisas mudaram com o ambiente das taxas de juro baixas ou negativas. Não se ganha nada com ouro, mas não ganhar nada é melhor do que perder dinheiro”, conta o gestor deste fundo com Selo FundsPeople 2021 pela sua classificação de Blockbuster.

A previsão do especialista é que as taxas reais vão continuar negativas por muito tempo.  Quando a Fed decidir aumentar as taxas, continuarão a ser subidas mínimas. “O banco central dos EUA tem pouca margem de manobra. Tem que ficar à volta da curva para suportar altos níveis de dívida federal. Além disso, a transição energética, indispensável para combater as alterações climáticas, será altamente inflacionista”, explica.

O custo da transição energética: inflação

E é precisamente a transição energética o outro elemento-chave na análise do especialista. De facto, segundo Louvet, poucos compreendem plenamente a natureza inflacionista da transição energética.  Depende não só do preço das matérias-primas, mas também da própria natureza das energias renováveis, que são inesgotáveis, mas estão disponíveis de forma descontínua. “As renováveis são intermitentes. Devem ser geridas com dispositivos de armazenamento e backup muito caros, especialmente para gerir picos de procura de energia, o que, por exemplo, pode ocorrer à noite, na ausência de luz solar, ou em períodos sem vento”, explica.

“Perante o aquecimento global não temos escolha e temos de ir nesse sentido. Mas não admitir que será um processo caro é errado”, argumenta. Além disso, Louvet está convencido de que o custo da energia solar e eólica não diminuirá significativamente devido às economias de escala.  “Sabemos que teremos de nos afastar dos combustíveis fósseis, mas por enquanto a procura por eles continua elevada. Além disso, quase 25% do custo das energias renováveis está relacionado com matérias-primas. Portanto, a transição energética vai gerar um aumento dos preços de produção do lado da oferta. É um lado no qual os bancos centrais têm pouca capacidade de intervir”, argumenta.

Opinião positiva sobre a prata

O maior peso no investimento financeiro do OFI Financial Investment - Precious Metals está reservado para o ouro. Em setembro de 2021, representava 35%. Mas o instrumento passivo também oferece exposição à prata e platina (20% do índice para cada um). Dois metais sobre os quais o gestor tem uma opinião positiva. Em particular, a prata é um dos metais mais interessantes no contexto da transição energética, devido à sua característica física de um bom condutor que a torna indispensável em muitas tecnologias de baixo carbono. “Para cumprir as metas estabelecidas no Acordo de Paris, teremos de instalar o equivalente à maior central solar do mundo até 2030. Este exemplo dá uma boa ideia da magnitude do problema”, afirma o gestor.

Mas não só isso, a prata é também uma matéria-prima fundamental para outro setor central nos planos de descarbonização da economia mundial: os veículos elétricos. “Já em 2019, o setor automóvel representou entre 6% e 7% da procura mundial de prata. Mas no mesmo ano, a quota de mercado dos carros elétricos era de apenas 5% da indústria.  Para estar em linha com as metas de Paris, a quota de mercado dos carros elétricos em 2030 terá de ser de 60%. Isto deixa claro o quanto a procura de prata está destinada a crescer”, prevê.

O OFI Financial Investment - Precious Metals é um dos poucos fundos passivos puros e UCITS compliant na Europa que oferece exposição a metais preciosos. “Está pensado como uma ferramenta para entrar e sair do mercado de metais preciosos. Não foi criado especificamente para beneficiar da transição energética, mas também pode ser explorado desta forma”, explica. Além disso, antecipa que estão a trabalhar no lançamento de um tema puro para ter exposição a todos os metais que são cruciais para a transição energética.