Bitcoin atinge os 100.000 dólares: causas e implicações

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Créditos: Pierre Borthiry (Unsplash)

A Bitcoin atingiu os 100.000 dólares por moeda. Este marco histórico eleva a sua capitalização de mercado a 2,1 biliões de dólares e coloca o ativo num grupo exclusivo juntamente com gigantes tecnológicos como a Apple, a Microsoft e a Amazon. Deste forma, a bitcoin, com um abastecimento limitado de 21 milhões de moedas, consolidou-se como uma opção estratégica para os investidores institucionais e de retalho, que procuram proteção contra a desvalorização das moedas fiduciárias. Diversos especialistas analisaram os fatores que impulsionaram este feito e as implicações para o futuro, abordando aspetos como a adoção institucional, mudanças económicas globais e os desafios que o criptoativo enfrenta. 

A consolidação da bitcoin: fatores económicos e regulamentares

A ascensão da bitcoin não pode ser compreendida sem considerar o ambiente macroeconómico e regulamentar que a favoreceu. A recente decisão da Reserva Federal de reduzir as taxas de juro após um prolongado período de endurecimento monetário aumentou a liquidez global. Segundo a Binance, isto levou os investidores a procurarem ativos que funcionassem como refúgio contra a inflação, sendo a bitcoin uma opção destacada.

Em consonância com isto, Dovile Silenskyte, diretora de Investigação de Ativos Digitais na WisdomTree, destaca que os recentes cortes de taxas de juro beneficiaram o mercado de criptomoedas, canalizando capital para ativos de maior risco em busca de retornos positivos. Este fenómeno já tinha sido observado durante a pandemia da COVID, quando as baixas taxas de juro provocaram um aumento dos preços das criptomoedas. 

Além disso, a perspetiva de uma administração norte-americana favorável às criptomoedas tem sido um catalisador importante. A eleição de Paul Atkins, acérrimo defensor das criptomoedas, como futuro presidente da SEC, reforça a narrativa de um quadro regulamentar mais favorável. Isto gerou otimismo entre os investidores, impulsionando a procura de bitcoin. Segundo Thomas Perfumo, diretor de Estratégia da Kraken, esta combinação de fatores regulamentares e macroeconómicos cria um ambiente ideal para a bitcoin atingir novos máximos. 

Oferta limitada e dinâmica de mercado

Uma das caraterísticas mais distintivas da bitcoin é a sua oferta limitada, o que a torna num ativo excecionalmente escasso. Mais de 94% de todas as bitcoins já foram mineradas e a taxa anualizada de emissão mantém-se em apenas 0,8%, diminuindo com o tempo. Este modelo, segundo Thomas Perfumo, estabelece uma base sólida para um aumento contínuo dos preços quando a procura é elevada.

De uma perspetiva histórica, os analistas da eToro apontam que o bull market da bitcoin ainda está nas suas primeiras fases. Se seguirmos os ciclos anteriores, o pico deste ciclo pode ser alcançado entre finais de 2025 e início de 2026, dado que a última redução para metade ocorreu em abril de 2024. No entanto, alertam que as correções temporárias, de entre 20% e 40%, são comuns mesmo nos bull markets, pelo que os investidores devem estar preparados para alguma volatilidade.

Adoção institucional e produtos financeiros

O apoio institucional também tem sido um fator essencial para o auge da bitcoin. A Binance afirma que empresas como a MicroStrategy, que possui 2% do abastecimento total da bitcoin, definiram uma tendência em que as tesourarias corporativas adotam ativos digitais como estratégia de diversificação e cobertura. Outras empresas, como a Marathon Digital, também estão a adotar bitcoin nas suas reservas, o que reforça a sua posição como ativo estratégico.

A crescente procura também se refletiu nos ETP de criptomoedas (Exchange-Traded Products). Segundo a WisdomTree, a sua gama de ETP ultrapassou os 1.000 milhões de dólares em ativos sob gestão após o máximo histórico da bitcoin. De acordo com o seu último inquérito, 40% dos investidores profissionais planeia aumentar a sua exposição a criptoativos no próximo ano. Esta evolução demonstra um interesse cada vez maior por parte dos investidores institucionais e profissionais, muitos dos quais reconhecem o valor da bitcoin como uma ferramenta de diversificação e uma alternativa ao ouro. 

Adoção global e riscos atuais

A bitcoin não está apenas a ganhar popularidade como ativo financeiro, mas também como símbolo de uma revolução tecnológica. Atualmente, apenas 10% da população mundial utiliza criptomoedas, mas esta percentagem pode aumentar nos próximos anos. Segundo a análise da Kraken, a adoção em massa pode trazer mais de mil milhões de pessoas para o ecossistema cripto em dois ou três anos, especialmente à medida que a infraestrutura blockchain continua a desenvolver-se.

A WisdomTree assinala que esta adoção está a ser apoiada por uma mudança significativa nas estratégias de investimento. Segundo o seu inquérito, 35% dos investidores profissionais valoriza as criptomoedas como ativos não correlacionados que oferecem uma cobertura contra as flutuações do mercado tradicional. Além disso, 33% considera-as uma alternativa viável ao ouro, refletindo um crescente consenso sobre o seu papel como reserva digital de valor.

No entanto, apesar do entusiasmo, especialistas como Luca Paolini, estratega-chefe da Pictet AM, são mais cautelosos quanto ao papel da bitcoin nas finanças globais. Embora reconheçam o seu valor como cobertura contra a inflação, questionam a sua capacidade para se tornar uma moeda convencional devido a problemas como os elevados custos de transação, a volatilidade e a falta de apoio governamental. Além disso, mencionam que 79% da mineração está concentrada na China, o que apresenta riscos de controlo centralizado e possíveis intervenções governamentais.  

Outro ponto de preocupação é o impacto ambiental da mineração de bitcoin, que consome uma quantidade significativa de energia. Embora esta atividade tenha impulsionado a inovação em tecnologias de contabilidade distribuída, como a blockchain, também gerou críticas sobre a sua sustentabilidade a longo prazo.