As gestoras revelam as implicações que pode ter para o investidor a chegada deste novo inquilino à Casa Branca.
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Apenas duas semanas depois de Washington ter sofrido o surpreendente assalto ao Capitólio por alguns partidários de Donald Trump, os EUA, e com eles o mundo, assistem ao ato de tomada de posse de um novo presidente, Joe Biden, e da vice-presidente, Kamala Harris. Um ato que é sempre importante, mas que desta vez representa o fim dos quatro anos de mandato de Donald Trump, sem dúvida, o presidente mais polémico que teve a primeira economia do mundo. E também porque pela primeira vez é uma mulher que ocupa a vice-presidência dos EUA.
Como é habitual quando acontece um acontecimento de magnitude similar, são várias as gestoras quiseram expressar que implicações pode ter para o investidor a chegada deste novo inquilino à Casa Branca. E a sensação de otimismo. Esperam que uma das primeiras medidas que tomará Biden como presidente seja a aprovação do plano de estímulos que tanto espera o mercado e que é previsível que seja superior ao esperado. “Acreditamos que este gasto adicional previsto para a pandemia poderá superar o bilião de dólares, fazendo com que o gasto total com a pandemia em 2020-2021 supere os quatro biliões de dólares ou 20% do PIB”, afirma David Bianco, diretor de Investimentos nos EUA da DWS.
Mas agora que os democratas não só têm o controlo do Congresso, mas também do Senado, vão haver menos entraves à aprovação do ansiado plano de estímulos. “O governo de Biden terá muito mais liberdade para tornar os seus planos em realidade. Isto provavelmente vai traduzir-se num aumento do défice público nos EUA durante o próximo ciclo que, por sua vez, implicará um maior défice por conta-corrente”, afirma Brendan Mulhern, economista e estratega na Newton, parte da BNY Mellon IM.
Outro facto é que o mercado em linhas gerais vai premiar este governo monocromático. De facto, segundo uma análise realizada pela Capital Group na qual analisaram a rentabilidade média anual do S&P 500 desde 1933 até 2019, é com congressos divididos que se veem as melhores rentabilidades (10,4% anual face aos 10% dos governos homogéneos).
Oportunidades em ações
A curto prazo, este aumento de estímulos, unido à expectativa de que haja grandes investimentos também no setor das infraestruturas, chegará desta vez à Main Street e terá a sua réplica positiva em Wall Street, sobretudo nos setores mais cíclicos que, além disso, vão beneficiar da recuperação económica neste ano das vacinas. “A administração de Biden, dará prioridade a pôr o dinheiro nas mãos dos consumidores e de volta à economia, o que provavelmente será um apoio para os setores cíclicos e de value em geral”, refere Mona Mahajan, estratega de investimento de Estados Unidos da Allianz Global Investors.
Matthew Benkendorf, CIO de Quality Growth (boutique da Vontobel AM), acredita que por setores as empresas orientadas para o consumo pode sair beneficiadas se esse plano de estímulos chega à Main Street. "Ao tratar-se de uma economia orientada para o consumo, faz sentido repartir o bolo fazendo com que uma maior parte da população tenha mais poder de compra para alimentar a economia. Como tal, as empresas orientadas para o consumo podem ser as beneficiadas nos próximos quatro anos", afirma.
Impacto nos emergentes
Além disso, há alguns especialistas que consideram que a presidência de Biden pode ser uma razão mais para investir em mercados emergentes, especialmente na China. Não só porque é previsível que esse pacote de estímulos continue a depreciar o dólar, mas porque se espera uma certa distensão nas relações comerciais entre os EUA e a China.
"Não acreditamos que as disputas comerciais entre os EUA e a China cheguem ao seu fim, mas o país americano provavelmente vai assumir um tom muito menos conflituoso, especialmente com os seus aliados e com organismos internacionais como as Nações Unidas, a OMC e a OTAN", afirma Randeep Somel, gestor da equipa de ações da M&G.
“Os mercados financeiros asiáticos podem colher lucros se o presidente eleito dos Estados Unidos, Joe Biden, demonstrar ser mais convencional do que o anterior inquilino da Casa Branca, o que poderá desencadear uma realocação do capital mundial para a região”, apontam Robert Gihooly, economista sénior de mercados emergentes Adam Mccabe, responsável de obrigações da Ásia e Austrália da Aberdeen Standard Investments.
Obrigações: as grandes prejudicadas
Um efeito muito diferente é o que pode ter este novo pacote de estímulos nas obrigações americanas já que traz consigo um risco inflacionário que se tornou nos últimos meses num dos grandes riscos que os mercados devem ter em conta. “Ainda que, todavia, vemos limitadas pressões inflacionárias a curto prazo, um maior estímulo fiscal aumenta os riscos de inflação a longo prazo, particularmente dado o desejo da Reserva Federal de tolerar uma maior inflação”, afirmam a responsável de políticas públicas da PIMCO, Libby Cantrill, e as economistas Tiffany Wilding e Allison Boxer.
“Este estímulo adicional significa que as expectativas de crescimento dos Estados Unidos para 2021 provavelmente serão revistas em alta, e também a oferta das obrigações do Tesouro será maior do que o previsto. Ambos os fatores são negativos para os rendimentos dos treasuries”, aponta Filipe Villaroel, gestor do TwentyFour AM (boutique da Vontobel AM). Já se viu neste arranque de ano com a rentabilidade do T note aumentando de 0,91% com que fechou 2020 para os 1,09% atuais.