“As eleições dos EUA terão impacto apenas em alguns investimentos setoriais e temáticos das carteiras”, afirmam Gonçalo Marouvo e Eduardo Monteiro. Na opinião dos gestores da BPI Gestão de Ativos, as principais linhas estratégicas terão “mudanças limitadas”, uma vez que a médio prazo é a performance económica que define os retornos das classes de ativos. “A história demonstra que, tendencialmente, há fatores mais preponderantes a determinar as métricas macroeconómicas do que a cor política”, explicam, acrescentando que, adicionalmente, a manutenção de um défice orçamental elevado parece ser um “corolário comum dos planos de ambas as candidaturas, pelo que haverá poucas diferenças neste que é um dos fatores primordiais para o desempenho económico”.
Na opinião de Gonçalo Marouvo e Eduardo Monteiro, merece também destaque a necessidade de verificar as maiorias resultantes nas duas câmaras parlamentares, “uma vez que uma vitória de um partido com maioria nas duas câmaras (clean sweep) permite a aplicação de medidas menos consensuais entre os dois partidos”. Uma dessas medidas – com impacto direto no mercado acionista – está relacionada com a alteração da taxa nominal de imposto sobre as empresas, que Partido Republicano quer reduzir, enquanto o Partido Democrata quer aumentar. “As estimativas variam, mas a magnitude de impacto nos lucros por ação dos principais índices estima-se que se situe em cerca de 5%”, apontam.
Caso Kamala Harris vença, o cenário mais provável será não ter a maioria nas duas câmaras, uma vez que dificilmente o Senado será dominado pelos Democratas. “Assim”, afirmam os gestores, “espera-se que o início do seu mandato seja em termos de governação muito próximo de Biden, sem capacidade para implementar políticas mais arrojadas”. Apesar disso, haverá alguns movimentos relevantes no mercado, pois ultimamente tem-se atribuído uma maior probabilidade de vitória a Donald Trump. “Isto poderá levar a que haja alguma reversão da recente underperformance do setor de energias limpas. Adicionalmente, também alguns subconjuntos do setor da saúde poderão vir a ser beneficiados”, explicam. Por conseguinte, na sua opinião, uma vitória de Kamala levará a uma preferência por fundos que invistam nestes temas/setores.
Por outro lado, há uma probabilidade relevante de uma vitória de Donald Trump poder ser acompanhada de uma maioria no Senado e na Câmara de Representantes, com maioria em ambos. “Neste cenário, as políticas implementadas poderão levar a um alargamento do desempenho acionista a setores mais cíclicos, pelo que fundos do estilo valor ou fundos que invistam em empresas de menor capitalização bolsista tenderão a ser ganhadores relativos”, explicam. Adicionalmente, consideram que apesar do plano agressivo de imposição de tarifas sobre importações “poder colocar pressão sobre os índices bolsistas, poderá vir a beneficiar, em termos relativos, setores com mais produção interna e menos exportações”, onde se destaca os índices de cariz mais industrial. “Assim, caso este cenário se materialize, tenderemos a privilegiar fundos com os vieses para setores mais alavancados ao ciclo económico e à economia interna dos EUA”, concluem.
2/2