Como foi o agitado mês de março para os gestores de ações América?

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Março não foi o melhor mês para os mercados acionistas em geral, mas muito menos para o mercado acionista norte-americano: o S&P 500 encerrou o terceiro mês do ano com uma queda de 2,6%, o que se configurou o segundo mês consecutivo de perdas.

Como é que os gestores de fundos de ações norte-americanas encararam aquele que foi um mês marcado pela introdução das tarifas alfandegárias sobre o aço e o alumínio? José Badalo, gestor do fundo BPI América, na ficha de produto referente ao mês em causa, explica precisamente os impactos que tal medida acabou por ter. “Estas medidas de protecionismo geraram apreensão entre os investidores com receio de que a mesma resulte numa guerra comercial entre EUA e os seus parceiros comerciais, nomeadamente China, Japão e Europa, e que prejudique o atual crescimento económico global”, escreve. Mas este não foi o único condicionante para o mercado.

Diversas notícias envolvendo empresas do sector tecnológico, acabaram por ter repercussões negativas no mercado, já que este é um sector com um peso cada vez mais relevante nos índices mundiais. António Dias, gestor do IMGA Ações América, aponta na ficha de produto que embora o sector da banca tenha liderado as quedas, desvalorizando 6,7% e refletindo a “descida nas taxas de juro de longo prazo”, o segundo sector que mais caiu foi precisamente o setor tech hardware, “com uma desvalorização de 4,8%”. O profissional salienta que “em contraste com o mês de fevereiro, os setores de cariz tecnológico foram dos mais penalizados, impactados pelo constante fluxo de anúncios preocupantes em torno do respeito à privacidade nas redes sociais”. Perante este cenário pouco positivo para o mercado, Luis Beamonte, gestor do Santander Acções América, realça, no documento similar, que “pela primeira vez em 2018, as obrigações soberanas serviram de refúgio aos investidores, com a yield alemã a 10 anos a corrigir 16 pontos base para os 0,49% e a dos EUA cerca de 12 pontos base, encerrando o mês em 2,75%”.

Do outro lado da moeda

Porque nem tudo foi negativo, da IMGA o profissional responsável pelo fundo evidenciou que “setores mais sensiveis às taxas de juro de longo prazo, como imobiliário e utilities, foram os que se destacaram pela positiva, valorizando mais de 3%”. José Badalo sublinhou ainda outra boa performance do mês: “o sector energético, que beneficiou da subida de 5.4% do preço do crude”.

Precisamente no fundo a cargo da BPI Gestão de Activos, a Marathon Petroleum Corp – empresa do sector referido – “foi a responsável pela maior contribuição para o desempenho da carteira em março”, com a obtenção de ganhos de 14,1% no mês.

DA IMGA o produto em análise acabou por ser mais prejudicado pela “sub ponderação aos setores de software & serviços e farmacêutico”, mas também pela “seleção de empresas nos setores do retalho (Amazon) e de bens industriais (Boeing)”. Da Santander AM destacam também algumas mudanças no portefólio que se prendem precisamente com os problemas com o sector tecnológico. “Durante o último mês realizaram-se várias trocas na composição da carteira, destacando-se a venda de Apple, cujo peso no final de fevereiro era de 4,5% do portefólio e agora é de apenas de 2,4%. Este movimento reflete as perspetivas negativas para o setor tecnológico no que respeita às empresas mais vanguardistas, que podem ser alvo de mais regulação”. Salientam, também, que desde o início do ano que “o fundo tem sido penalizado pela performance negativa do mercado acionista norte-americano e, também, pela depreciação do dólar norte-americano face ao euro”.