Para que um fundo que investe em mercados secundários não organizados, como o imobiliário, seja capaz de oferecer com sucesso liquidez diária há três opções.
O que sucedeu com os fundos que investem no mercado imobiliário britânico levantou novas questões sobre as janelas de liquidez que devem oferecer estes produtos. Muitos não entendem porque é que estratégias que investem em ativos ilíquidos são capazes de oferecer liquidez diária. Inclusivamente, que produtos da mesma tipologia ofereçam janelas de liquidez distintas. Vemo-lo na categoria Morningstar EAA OE Property – Direct UK, onde se incluem os fundos imobiliários britânicos que recentemente se viram obrigados a suspender os resgates perante as fortes ordens de venda. Os produtos da M&G Investments, Henderson, Legal & General, Aviva Investors, Standard Life, Columbia Threadneedle ou Kames Capital oferecem liquidez diária. Os da BlackRock, Scroders, UBS AM ou Royal London AM são mensais. Por agora, todos os produtos que tiveram que suspender os resgates ofereciam aos seus participantes liquidez diária, se bem que o problema, na realidade, é outro.
Segundo explicam à Funds People fontes do sector, o grande conflito que existe na indústria para oferecer produtos cada vez mais competitivos que consigam atrair a atenção dos investidores, faz com que muitas gestoras tentem adaptar os seus produtos às necessidades dos clientes. Um dos pedidos mais habituais que enfrentam as entidades é que as estratégias alternativas que investem em ativos ilíquidos ofereçam liquidez diária. Para que um fundo que investe em mercados secundários não organizados, como o imobiliário, seja capaz de oferecer com êxito liquidez diária, há, basicamente, três caminhos: que o nível de liquidez na carteira seja elevado (e suficiente para enfrentar fortes resgates), que as gestoras tenham contratadas linhas de crédito com entidades financeiras para que, em caso de choque, possam enfrentar as saídas de dinheiro; ou então que a gestora assuma a recompra das participações daqueles investidores que querem sair (com a entidade a assumir as mais ou menos valias).
A maioria dos investidores pensa que o facto de dispor de uma janela de liquidez diária implica uma maior proteção para os seus investimentos. De facto, foram detetadas pressões por parte dos clientes para que algumas estratégias deste tipo, que estavam a oferecer liquidez mensal, passassem a oferecer liquidez diária. Trata-se de um assunto sobre o qual Ana Guzmán, diretora geral e responsável de desenvolvimento de negócio da Aberdeen para a Península Ibérica, acredita que há que fazer uma profunda reflexão. “A liquidez do produto deve ser ajustada com a do subjacente. Segundo esta regra, há ativos que não podem ter liquidez diária e que, no entanto, a oferecem. O investidor não fica protegido oferecendo-lhe liquidez diária”. Na sua opinião, o custo do produto deve ser associado ao período de permanência. “Se há produtos que investem em ativos complexos e com riscos associados a curto prazo e uma comissão de gestão estável, esta deveria incrementar-se em caso de reembolso antecipado. Isto ajudaria os clientes que investem com uma verdadeira orientação de longo prazo”, sublinha.