Como vão reagir os gestores de bolsa europeia a uma hipotética recessão económica?

banco
Etrusia UK, Flickr, Creative Commons

Fala-se muito do fim do ciclo económico…, mas esse fim não tarda em chegar. Do ponto de vista da gestão, perguntámos aos gestores de três dos fundos de bolsa europeia mais vendidos na Península Ibérica que mudanças introduziriam nas suas carteiras se a economia entrasse em recessão. O primeiro a responder foi Alexandre Darwall, gestor do Jupiter European Growth, que assegura que a sua estratégia não procura preceder o mercado. “No momento de escolher os valores que constituem a carteira não procuramos empresas que possam beneficiar de uma fase ou outra do ciclo de mercado, mas fixamo-nos numa série de valores que consideramos especiais: isto é, procuramos vencedores estruturais, não cíclicos”, explica à Funds People.

Alguns dos fatores que tornam uma empresa especial, segundo o seu critério, são uma visão adequada do negócio a longo prazo, níveis de investimento adequados, uma planificação acertada de sucessão na direção, e uma certa tensão criativa entre a presidência e a direção executiva. “A nossa carteira atual é composta por cerca de 35 empresas, na sua maioria com presença global, com modelos flexíveis de negócio e pertencentes a indústrias com altas barreiras de entrada. Eu e a minha equipa identificámos padrões de êxito nos modelos de negócio, que são sustentados por uma indústria favorável, e que se refletem em empresas realmente sustentáveis, com um negócio rentável e credível”, revela.

Segundo o parecer de Darwall, uma boa pergunta de partida para identificar estas empresas é como é que estas se comportarão ao enfrentar desafios tecnológicos, mudanças nos comportamentos dos consumidores ou um contexto variável na sua indústria. “Se considerarmos que a empresa está preparada para enfrentar estes desafios com êxito, entrarão no nosso radar de empresas especiais, à margem das circunstâncias pontuais do mercado e da fase do ciclo económico no qual no encontremos. É sempre esse o nosso foco: compreender o funcionamento interno das empresas, sem especular acerca dos ciclos de mercado”, assinalada o gestor da Jupiter.

Benjamim Stone e Pablo de la Mata, gestores do MFS Meridian European Value, focam-se em identificar empresas que ofereçam apreciações atrativas e negócios sustentáveis, independentemente das circunstâncias macroeconómicas ou políticas. “Aplicando os princípios de análise fundamental com um olho na apreciação, centramo-nos em empresas de alta qualidade com rendimentos sustentáveis acima da média, tentando identificar empresas cuja qualidade e valor intrínseco acreditamos que não se reflete plenamente na sua apreciação”.

Tal como o gestor do fundo da Jupiter, na equipa evitam especular tanto sobre a informação como sobre o fluxo de notícias a curto prazo e mantêm-se fiéis à sua estratégia: investir em vez de especular, analisar em vez de prognosticar e concentrar-nos em limitar o risco. “No caso de uma recessão, concentraríamos os nossos esforços a atribuir o capital de forma seletiva em negócios sólidos e de alta qualidade com apreciações atrativas”, afirmam da MFS IM.

A equipa formada por Thorsten Winkelmann e Robert Hofmann, gestores do Allianz Europe Equity Growth, mantêm-se fiéis aos processos, incluindo nos contextos de mercado mais desafiantes. “Focamo-nos em manter empresas de alta qualidade que podem suportar um contexto externo difícil (por exemplo, através da força dos impulsores estruturais subjacentes, o poder dos preços, a visibilidade dos lucros…). Este foco puramente fundamental, a longo prazo, levou à obtenção de apenas 86% da queda do mercado nos últimos 10 anos”.

“Ainda que seja doloroso a curto prazo, a volatilidade e a recente correção das empresas integradas dentro do estilo permitem-nos rever muitos dos nomes que estão na nossa lista de seguimento, aproveitar as ineficiências do mercado e, em geral, reposicionar as carteiras de acordo com a nossa visão a longo prazo. Em geral, esta foi uma fonte principal de alfa, que se remonta a várias rotações bruscas e vendas no nosso historial de 16 anos, que foram seguidos por períodos de fortes rentabilidades”, sublinham na Allianz Global Investors.