Eleições nos EUA: o que pode acontecer se voltarem a falhar as sondagens?

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Michael Vadon, Flickr, Creative Commons

O terceiro e último debate entre candidatos nos EUA, voltou a acumular um record de audiências. Nos últimos dias as sondagens mostraram um aumento da vantagem de Clinton, especialmente depois do escândalo (que incluiu comentários sexistas por parte de Trump num vídeo, assim como declarações de múltiplas mulheres que asseguraram ter sofrido abusos do candidato) que acabou por danificar seriamente a imagem do magnata.

As primeiras sondagens sugerem que Clinton voltou a ser uma vez mais a vencedora do debate, pelo que o peso mexicano foi evidentemente um dos mais beneficiados. No entanto, a magnitude da variação indica que o mercado chegou à conclusão, em termos gerais, que Trump não ganhará as eleições”, resume James Athey, gestor de obrigações da Aberdeen. O especialista afirma que os investidores não deveriam tomar por garantido o resultado. “Não significa que se trate de um resultado já decidido. Os mercados, os responsáveis pelas sondagens e os especialistas, previram de forma errada o resultado do referendo sobre a permanência do Reino Unido na União Europeia, o que deverá servir de lição”.

Da Pictet AM, o estratega Luca Paolini, e o estratega de multi-ativos Supriya Menon também se fixam na magnitude dos erros publicados este ano em algumas sondagens. “Em qualquer dos casos, o voto do Brexit e outros transtornos políticos recentes indicam que os investidores tendem a subestimar os riscos antes de um evento e a exagerar as implicações posteriores. Assim, a melhor maneira de agir passa por reduzir o risco antes das eleições dos EUA, com a realização de mais valias quando possível”, aconselham.

Depois de 8 de novembro, e caso Trump seja eleito, recomendam “procurar oportunidades dentro da reação exagerada do mercado, para voltar a entrar nalgumas posições”, tendo em conta, ao mesmo tempo, que ao materializar-se este cenário, “a resposta mais provável do mercado, refletindo a correspondente incerteza das relações entre os EUA e o resto do mundo, seria um aumento do preço do ouro”.

“Da mesma forma que os mercados descartaram a possibilidade do Reino Unido votar a favor da saída da UE, agora parece que, em geral, os mercados estão a trabalhar sobre a base de que Hillary Clinton ganhará, e parece que as probabilidades de que Donald Trump consiga as chaves da Casa Branca estão baixas, embora mais elevadas do que chegaram a estar”, coincide David Zahn, responsável de obrigações europeias da Franklin Templeton Investments. Este chama a atenção para um efeito batizado de ‘espiral do silêncio’, pela politóloga Elisabet Noelle-Neuman: “Enquanto que muitas sondagens de opinião parecem estar a dar vantagem a Clinton, a experiência de eleições recentes noutras partes do mundo sugerem que pode ter sido silenciado parte do apoio a Trump. Isto porque os seus partidários podem não querer mostrar uma imagem tão pública sobre o candidato que apoiam”.

Em todo o caso, Zahn explica que, a partir das suas conversações com investidores e profissionais de investimento na Europa, chega à conclusão que “o impacto imediato de uma vitória de Donald Trump sobre os mercados dessas regiões poderá ser significativo, porque preocupa a população o que poderá fazer o candidato republicano durante o seu mandato, considerando a sua retórica pré-eleitoral”. Ao responsável preocupam especialmente algumas das políticas sobre imigração e comércio de Trump, pois afirma que “muitos observadores interpretaram uma série de declarações suas como anti-globalização. Também insinuou que os EUA se envolveram demasiado em ações militares no estrangeiro, indicando que poderá considerar a redução da implicação do país em organizações como a NATO”.

Se há algo que o Brexit nos ensinou é que apostar nas crenças populares pode ser perigoso”, declara David lafferty, estratega chefe de mercado na Natixis Global AM. “Com tantas variáveis ainda por conhecer, incluindo o vencedor das eleições, a composição do Congresso ou as propostas que se converterão em leis, as implicações de longo prazo para o mercado são incertas”, sublinha o especialista. A única coisa que é certa é que “nenhum apresentou um programa convincente de políticas de crescimento, que poderão impulsionar a atividade económica ou as bolsas”. A conclusão a que chega Lafferty é que, independentemente do vencedor “não é provável que se produzam grandes mudanças políticas, mesmo que seja possível que se produza alguma reforma modesta sobre os impostos às empresas”.