Estas são as condicionantes para que a Reserva Federal suba taxas em setembro ou dezembro

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Rafael Chamorro, Flickr Creative Commons

O último relatório sobre o desemprego nos EUA foi uma boa surpresa, ao ser anunciada a criação de 255.000 postos de trabalho, 75.000 mais do que o esperado pelo consenso. A taxa de desemprego manteve-se em 4,9%, mas o relatório revelou ainda um incremento das horas trabalhadas, um ligeiro aumento da taxa de participação e indícios de aumentos salariais (os salários por hora registaram um aumento de 0,3%). Todos estes dados apontam para a mesma direção: a política de subidas de taxas da Reserva Federal.

David Lafferty, estratega de mercado da Natixis Global AM, recorda que abril e maio registaram dados decepcionantes, em contraste com a evolução positiva de junho (287.000 novos empregos). Esta nova leitura positiva representa, para o especialista, a demonstração de que “a robustez de junho não foi um caso atípico de dados positivos no meio de uma grande tendência de queda”.

Para Lafferty, o facto de que se tenham criado mais uma vez mais de 200.000 postos de trabalho num mês “certamente põe em jogo uma subida de taxas da Fed no final do ano”. O estratega acrescenta que “somente será justificada uma subida de taxas em setembro se a criação de emprego em julho e agosto demonstrar ser excepcionalmente forte”. Considera mais provável uma subida de taxas após a celebração das eleições presidenciais em novembro: “Ainda está sobre a mesa, considerando que os dados macro não se estão a deteriorar”.

Os especialistas da Groupama AM opinam que “a economia americana já não está num employment gap, mas sim que progride – pouco a pouco – no ciclo de subida do emprego”. À medida que os EUA progridam no ciclo, “estes relatórios de emprego não deverão manter-se num ritmo tão elevado de 200.000 postos de emprego”. Portanto, da entidade preveem que no futuro próximo “deveremos esperar uma desaceleração muito normal na criação de emprego”. Segundo os seus cálculos, “150.000 postos podem ser considerados como suficientes para absorver o incremento da população ativa”.

Da gestora observam um fator de risco e outro que consideram muito positivo. O factor de risco refere-se ao hiato entre emprego e investimento: “Existe ainda um risco de que a criação de emprego abrande porque ganhou terreno ao investimento”, explicam. O factor positivo é referente à melhoria do emprego e dos salários: “Evidentemente, estas evoluções sustentam as receitas e, em consequência, o consumo; desse ponto de vista, a forte subida de 7% das vendas de automóveis em julho apoiam claramente o consumo para o terceiro trimestre”.

A conclusão dos especialistas da Groupama AM é que a evolução do mercado laboral deverá contribuir para tranquilizar a Fed: “Se quiser manter o seu cenário de uma subida em 2016, deverá aproveitar a oportunidade, em vez de fazer referência ao risco de a janela se fechar”. Da empresa francesa indicam que a publicação das atas no dia 17 de agosto e o discurso da Janet Yellen em Jackson Hole, em 26 de Agosto, trarão mais clareza sobre a política monetária da Fed.

David Buckle, diretor de Análise Quantitativa na Fidelity International, considera este dado macro insuficiente para justificar uma subida de taxas: “Fará falta outro passo em frente da inflação subjacente antes que a Fed responda, e não vemos que isso vá ocorrer em breve”. Acrescenta que apesar do crescimento salarial ter roçado máximos de antes da crise financeira, não foi suficiente “para fazer a Fed acreditar que alcançou o pleno emprego”.

Segundo o especialista, Janet Yellen somente terá uma oportunidade de subir taxas na última das três reuniões que estão programadas para o Federal Open Market Comittee (FOMC) este ano, a de 14 de dezembro. “Ainda que não esteja descartada a 100%, é difícil ver uma subida no dia 21 de setembro. Ainda há muitos riscos na economia global, aparte das eleições presidenciais nos EUA”, afirma Buckle. Também descarta um anúncio na reunião de 2 de novembro, considerando que será apenas seis dias antes das eleições.

Buckle atribui muita importância ao peso do risco político sobre as decisões da Fed: “Dado que Donald Trump e os ‘Brexiters’ têm estado a fazer campanha com a mesma mensagem, e que Yellen estava suficientemente preocupada com o Brexit ao ponto de o usar como argumento para não subir taxas em junho, é difícil acreditar que não está igualmente preocupada agora. Precisamos ver dados fortes da inflação em agosto e setembro para ver uma subida, algo muito pouco provável, na minha opinião”, sentencia.

O representante da Fidelity põe também condicionantes na reunião de dezembro: “Se até então o dólar não se tiver fortalecido e houver um pouco mais de inflação, acho que há bastantes probabilidades de uma subida no Natal. Mas isso sugeriria, no melhor dos caso, que teremos uma subida de 0,25% por ano”.

Nandini Ramakrishnan, estratega global de mercado da J.P.Morgan AM, observa que, após a reunião do FOMC de passado julho, “o tom do discurso manteve abertas as possibilidade de um incremento nas taxas durante o mês de setembro”. Dito isto, da gestora apreciam, ao mesmo tempo, “como a Fed inverteu tão rapidamente a sua visão sobre a economia norte-americana, em resultado da crescente deterioração das condições da economia e dos mercados financeiros, com o qual um aumento de taxas durante a primeira reunião do novo ano requereria um fluxo estável e continuado de dados económicos positivos e calma nos mercados”.