Quando as classes de ativos tradicionais não são suficientes para providenciar a necessária diversificação, estratégias mais exóticas poderão cumprir esse papel. Simon Fox e Christian Howells, da Aberdeen Asset Management descrevem algumas estratégias alternativas.
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“Tradicionalmente, quando estamos nervosos com os mercados de ações, sobreponderamos a alocação a obrigações, e isso faz-nos sentir mais protegidos e seguros, mas o atual contexto de taxas de juro faz com que isso seja mais difícil”. Começou por comentar Simon Fox, senior investment specialist da Aberdeen Asset Management, numa recente visita a Portugal com Christian Howells, head of investment specialists da Aberdeen Solutions, para apresentar aos atuais e potenciais clientes estratégias alternativas de diversificação das carteiras. Embora ambos os especialistas encontrem valor na gestão ativa de ações e obrigações, ambos enfatizam que uma carteira verdadeiramente diversificada não pode cingir-se às classes de ativos tradicionais: “Os investidores procuram outras fontes de retorno, que não sejam dirigidas pelos movimentos nos mercados de ações, nem pelo contexto de taxas de juro e mercados de obrigações. No contexto dos nossos fundos multiativos diversificados, perguntamo-nos: quais são as alternativas?”
Os profissionais referem-se então aos fundos Aberdeen Global - Multi Asset Income Fund e Aberdeen Global - Multi Asset Growth Fund, duas estratégias da casa de investimentos britânica – a primeira com o objetivo de distribuição de rendimentos e a segunda de capitalização dos investimentos - que apostam num conjunto diverso de estratégias alternativas, que vão desde real estate e infraestruturas de energias renováveis, a private equity e obrigações de mercados emergentes. São estratégias flexíveis e “genuinamente diversificadas”, mas também UCITS, pelo que a liquidez é um factor essencial na gestão dos produtos, que acabam por investir em estratégias líquidas, ativos cotados (sejam ações, obrigações fundos ou trusts) ou mesmo outros fundos UCITS.
A diversificação através de estratégias exóticas
Num mundo em que a grande atenção dos media e dos investidores vai para as chamadas tradicionais classes de ativos, estes produtos da Aberdeen vão mais além na diversificação e incluem em carteria estratégias que primam pela sua especificidade e originalidade. Estas são algumas das mais exóticas:
- Intrumentos indexados a seguros (insurance linked)
Estratégia posta em prática através do investimento em catastrophe bonds (ou obrigações catástrofe) um mercado de 25 mil milhões de dólares de obrigações indexadas a contratos de seguro que asseguram compensações em caso de ocorrer uma catástrofe. Na execução da estratégia, na Aberdeen, escolhem gestores que executam operações over the counter (OTC), ou seja, diretamente com as seguradoras, o “que permite atingir um retorno algo superior aos ativos transaccionados publicamente”, segundo Simon Fox. Os contratos costumam maturar em seis meses, período ao fim do qual é devolvido o principal, que é reinvestido num novo contrato. Perante os riscos inerentes à estratégia, a diversificação é essencial, pelo que procuram garantir um portefólio que seja diversificado por geografia e tipo de evento, conjugando contratos que cobrem, por exemplo, “o risco de um furacão na Flórida, com outros relacionados com tremores de terra no Japão, incêndios na Nova Zelândia ou algum evento na Califórnia, eventos pouco prováveis que ocorram no mesmo período de seis meses, no mesmo local”, esclarece Simon. “Em alguns períodos podemos ter que enfrentar algumas perdas, mas regra geral usufruímos de um fluxo regular de rendimentos, num processo que permite às pequenas seguradoras alienar o chamado ‘tail risk’ que não valorizam”, clarifica o especialista.
- Financiamento de processos de litigância (litigation financing)
Estratégia executada através de um trust cotado, através da qual o investidor providencia financiamento a empresas envolvidas em processos de litigância com outras empresas. São normalmente pequenas empresas que não têm os recursos para suportar um longo processo de litigância, mas cujo caso é bastante sólido e enfrentam boas probabilidades que o resultado penda para o seu lado. “Os retornos resultam da capacidade da equipa de gestão do fundo de identificar casos que têm elevada probabilidade de ser ganhos e da negociação das condições adequadas de compensação”, explica Simon Fox.
- Leasing de aeronaves
O investimento é realizado através de fundos que compram aeronaves, com um misto de capital e dívida, efetuando posteriormente o leasing do mesmo a companhias aéreas. “O avião é adquirido depois do contrato já assinado com a companhia aérea, pelo que não enfrentam o risco inicial de ter que vender o avião, sendo que também todas as responsabilidades de manutenção, seguros e substituição dos propulsores é responsabilidade da companhia aérea”, explica Simon Fox. No final do contrato, vendem o avião e o dinheiro é reinvestido. Perante os riscos deste tipo de investimento, Christian Howells esclarece que “à partida, poderíamos pensar que enfrentamos o risco de crédito da companhia aérea, mas em último caso temos o avião como colateral, pelo que o risco é mitigado até um certo nível”.
- Tail protection
É uma estratégia de investimento executada através de opções de compra ou venda. A gestão procura identificar entre as opções com maturidades mais longas e muito ‘out of the money’ que consideram transacionar a um preço inadequado, por atraírem pouca atenção e não serem bem compreendidas. “As opções são transacionadas ativamente ao longo do tempo para reduzir o ‘sangramento’ normal deste tipo de estratégias, mas na eventualidade de ocorrer um evento ao estilo de 2008, em que o mercado caiu significativamente e vimos grandes picos de volatilidade, as opções começam a ficar ‘in the money’ e aí, o perfil de compensação é muito elevado”, explica Christian, acrescentando que esta “é uma estratégia que em 2008 subiu 73%”. Dada a reduzida dimensão do mercado é uma estratégia com um limite reduzido de capacidade, mas que até uma pequena alocação na carteira funciona como um hedge contra eventos de mercado atípicos. “Pela sua própria natureza, eventos destes são imprevisíveis, porque se toda a gente conseguisse prever a sua proximidade, todos mudariam a abordagem”, expõe o especialista. “Há sempre lugar para este tipo de proteção na carteira, mas há alturas mais adequadas do que outras para entrar na estratégia, nomeadamente quando é mais barato fazê-lo”, esclarece o head of investment specialists da Aberdeen.