Será a gestão de risco uma tarefa exclusiva para homens? Estão as mulheres confinadas a tarefas mais específicas da gestão? Reveja a opinião de algumas profissionais do sector financeiro português.
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A gestão de ativos, como a maioria das áreas financeiras, tem na sua composição um domínio de tarefas atribuídas a elementos masculinos. Existirão por isso cargos mais específicos para homens e mulheres?
A Funds People foi perceber a opinião de alguns elementos femininos que fazem parte deste universo.
Madalena Teixeira, do Barclays Wealth and Investment Management não concorda que “existam funções talhadas para homens ou mulheres”, dependendo isso da “capacidade de cada um em desempenhar essas funções”. Sandra Costeira, da ESAF, acredita que talvez as mulheres tenham caraterísticas distintas dos homens que possam determinar essa diferença. “Dir-se-á que as mulheres, sendo por norma mais metódicas e organizadas, poderão ter funções mais analíticas e de informação de gestão”. No entanto, a profissional confessa que, neste aspecto, “tem um quê de masculino que a liberta desse estereótipo”. Também discordante da existência de áreas mais propensas a ser ocupadas por mulheres está Ana Moura Serra, da F&C que considera que “existem áreas reservadas a pessoas com certas características e se as características pessoais se inserem naquilo que a função requerer então, se se analisar caso a caso e sem estereótipos, é indiferente qual o sexo da pessoa a desempenhar a função”.
Gestão de risco: tarefa de homem?
Uma das áreas onde, recentemente, um estudo do CFA Institute atribuiu melhor desempenho da parte masculina e, consequentemente, menos apetência das mulheres, é na gestão de risco e na atração de capital. As profissionais nacionais, no entanto, “torcem o nariz” a tal atribuição.
“Posso dizer que na Optimize Investment Partners a nossa consultora de clientes atrai tanto capital como o seu colega”, assegura Claire Teixeira. Para Cristina Charneco, da F&C, a questão pode ser vista de outro ângulo. “Talvez exista a percepção de uma maior aversão ao risco e não uma má gestão de risco”, diz a profissional , que assegura que, no entanto, “a gestão deve ser feita tendo em atenção o perfil de risco e não de quem gere, seja homem ou mulher”. Para Margarida Esteves da Fonseca a diferença talvez esteja no facto de “as mulheres serem mais ponderadas” avaliando alternativas em muito mais vertentes, “conseguindo assim tomar decisões melhores e mais bem fundamentadas”. Afastando generalizações, Filipa Teixeira, da Patris Gestão de Activos, fala da própria experiência da equipa, onde tem a sorte de trabalhar com mulheres “excelentes a gerir risco, capacidade essa comprovada por resultados de topo e um track record que inclui diversos prémios internacionais específicos do sector”. Ana Garcia, do Banif, também não considera que existam diferenças na gestão do risco. Apesar disso, na atração de capital, julga que "as mulheres apresentam até uma vantagem comparativa pela sua maior capacidade intuitiva que lhes permite entender mais rapidamente os objetivos e rentabilidades exigidas pelos investidores".
Respeito... e algum sentido de humor
Precisamente integradas em tarefas onde os “companheiros do lado” são por vezes, na sua maioria, do sexo masculino, interessa também saber como é que se processam os seus mecanismos de trabalho com os pares. Serão necessários métodos de afirmação? Ana Moura Serra, relembra o tempo em que trabalhou em Londres onde ainda que “a percentagem de homens na indústria fosse maioritária” não era “necessário haver proteções ou estratégias, pois existe uma cultura de igualdade”, refere. Já, Sandra Costeira, da ESAF, acredita que “o respeito se ganha naturalmente com capacidade de trabalho e entrega de resultados. Trabalho muito bem com homens porque tive o privilégio de trabalhar com excelentes profissionais”. Neste sentido, percepciona-se a não necessidade de adopção de quaisquer mecanismos ou métodos de afirmação por parte das profissionais portuguesas.
Nesta relação entre pares de géneros diferentes, “respeito” é a palavra que as mulheres mais afirmam nesta dualidade. Catarina Roseira, do Santander, refere que a “defesa” passa por “criar relações profissionais baseadas no respeito e na competência profissional”, mas também tendo em conta a “paixão por aquilo que se faz, a integridade, a independência de pensamento, o foco nos resultados e também algum sentido de humor”. Claire Teixeira, da Optimize Investment Partners, realça também uma aprendizagem neste sentido “graças a sessões de coaching para gestoras femininas” onde conseguiu ganhar mais “confiança própria e desenvolver o network profissional e exprimir as ambições”. Madalena Teixeira também assinala “um bom espírito de equipa, uma boa integração nos vários grupos com que se lida, e um sentido de humor apurado”. Sem nenhuma recordação de falta de respeito dos pares masculinos, também Filipa Teixeira acredita que “entre profissionais sérios e competentes os comportamentos acabam por ser sempre exemplares”.
“Ying Yang” entre vida familiar e profissional
A gestão familiar anda na maioria das vezes a par da gestão de ativos. No entanto, a maioria das profissionais questionadas pela Funds People tiveram de fazer algumas adaptações por causa da maternidade. Adequa-se a palavra “abdicar”? Carmen Santos, da Fundbox, refere que “há que estabelecer um compromisso e ter uma estrutura de apoio em casa”. Ainda assim a profissional indica que “se acaba por abdicar um pouco dos dois lados”. Cristina Charneco, da F&C, refere que “é necessária muita dedicação, paciência e acima de tudo uma boa gestão de tempo”. Ana Garcia, do Banif, diz mesmo que “é importante existir um equilíbrio entre as duas vertentes (profissional e pessoal), uma vez que a realização pessoal é muito importante para o bom desempenho profissional”. Margarida Esteves da Fonseca, da F&C, foi mãe “enquanto estava a trabalhar no banco e não encontrou nenhum entrave”. Para a especialista o objectivo passa por “gerir tudo de modo a encontrar o equilíbrio perfeito”. E este pode advir como todo o resto de uma boa gestão que, no entender de Sandra Costeira, não é mais do que acreditar que existe “um tempo para tudo em cada percurso”. Lembra, ainda, que “a vida familiar é gerida em família e, neste sentido, se todos abdicarmos de algo, todos conseguimos tudo - nas várias abrangências da vida”.