Fed volta a avisar que se avizinha a normalização: as reações

Créditos: Harrison Kugler (Unsplash)

“A economia está a fazer progresso para alcançar os objetivos”. É a frase-chave da reunião de julho da Fed. As gestoras internacionais analisam as implicações para o mercado.

De novo uma reunião da Fed que prometia passar despercebida surpreendeu os mercados. Na reunião de julho, a Reserva Federal voltar a passar uma mensagem de que a economia americana avisa que a normalização da política monetária se aproxima. Pelo menos, o primeiro passo nessa direção. Assim, a primeira reação do mercado foi um voo para a qualidade com o ouro a ganhar à medida que as rentabilidades reais do Tesouro americano caíram, segundo conta Morgane Delledonne, diretora de Análise da Global X.

A reunião não foi a conversa estival que esperavam os investidores. O tom do comunicado foi mais duro”, reconhece Seema Shah, estratega chefe da Principal Global Investors. A frase-chave de Jerome Powell: “A economia está a fazer progressos para alcançar os objetivos”.

Se lermos nas entrelinhas, isto significa que o mais provável é que se discuta intensamente o tapering. Assim o interpreta Christian Scherrmann, economista dos EUA da DWS. É um tom de continuidade com a sessão de junho, quando também causaram surpresa com um tom mais hawksih). Os mercados esperavam que a Fed emitisse uma mensagem mais moderada, reconhece Anna Stupnytska, economista global da Fidelity International, já que a preocupação com o crescimento mundial deriva da propagação da variante Delta que se intensificou nas últimas semanas. A declaração oficial foi, contudo, mais agressiva, pois não mencionou especificamente este risco.

Princípio do fim do QE, provavelmente em 2021

Para a PIMCO, isto confirma a sua previsão de que no segundo semestre deste ano o FOMC anunciará que tem previsto começar a reduzir as suas compras de ativos em grande escala. Possivelmente com o primeiro anúncio em dezembro ou até mais cedo em setembro. “Os detalhes sobre o plano de redução deverão aclarar-se nas próximas semanas e meses, potencialmente quando forem publicadas as atas da reunião de julho. Incluindo o ritmo e o calendário de diminuição e finalização das compras de obrigações do Tesouro dos EUA face aos valores suportados por hipotecas (MBS)”, vaticina Tiffany Wilding, economista para os EUA da gestora.

Mas as gestoras, incluindo a PIMCO, também pedem calma. Estamos perante um ponto de inflexão, sim, mas é apenas um primeiro passo. “Estas discussões ainda são só teoria. Já sabemos, por ocasiões anteriores, que há opiniões ambíguas entre os participantes do FOMC, mas que a maioria deles – apesar das diferentes filosofias – partilham a opinião de que necessitam algumas reuniões para resolver as coisas. Àss vezes só faz falta uma mão firme para arrefecer um debate acalorado”, insiste Scherrmann.

Até na conferência de imprensa posterior à reunião, a mensagem inicial baixou de tom. Powell aclarou que ainda estão longe desses objetivos económicos que menciona o comunicado. Têm de algum terreno para cobrir no progresso do mercado laboral. Para Stupnytska é uma mensagem ligeiramente mais moderada do que a declaração oficial.

Firme na sua visão: a inflação é transitória

O calcanhar de Aquiles da economia americana continua a ser o emprego. Um dado que destaca Paolo Zanghieri, economista sénior da Generali Investments, é que uma parte importante dos desempregados está a conseguir um novo trabalho em vez de voltar ao anterior. Isto cria limites de velocidade na criação de emprego. “O FOMC espera uma forte recuperação do mercado laboral nos próximos meses, mas ainda há terreno a percorrer”, defende o especialista.

Um ponto onde se mantêm firmes é na subida dos preços. “Embora as leituras de inflação recentes tenham superado em muito as expetativas, o comité ainda cita estas impressões mais elevadas como impulsionadas por fatores transitórios como os bottlenecks das cadeias de fornecimento que afetam os preços dos automóveis e os custos mais elevados da energia e das matérias-primas”, analisa Jordan Jackson, estratega de mercados da J.P. Morgan Global AM.

E se a Fed continuar a considerar que a inflação é apenas um problema temporário, isto limita o risco de um ritmo de subida rápido, segundo interpreta Delledonne. Isto será positivo para as ações tecnológicas que também deverão beneficiar de uma rotação para as ações growth e defensivas.

Um equilíbrio delicado  

Com esta situação, a Fed entra no verão ainda na corda bamba. É um equilíbrio extremamente delicado entre proporcionar a acomodação suficiente para manter condições financeiras fáceis, enquanto gere a maior carga da dívida e, ao mesmo tempo, manter controlados os riscos de inflação e estabilidade financeira, como prevê Stupnytska.

Por agora, as gestoras confiam na mão firme de Powell. “A Reserva Federal continua a ser cautelosa quanto ao seu calendário de redução de compras de obrigações e o tom do presidente Powell continua a mostra-se dovish. Isso, juntamente com sólidos anúncios de lucros corporativos, vai ajudar a manter os mercados prósperos”, vaticina Mark Sherlock, responsável de Ações dos EUA da Federated Hermes.