Leituras para o verão (I): os livros de economia recomendados por profissionais das gestoras

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2020 promete ser um verão atípico, mas se existe algo que a pandemia não muda: o hábito da leitura. Para um merecido descanso nestes meses, pedimos às gestoras internacionais algumas propostas de livros. Em seguida, e sem ordem particular, os livros de economia ou de mercados que nos recomendam os profissionais da indústria de fundos.

banco multibanco dinheiro atm familias poupançaDa Schroders continuam a apostar nas finanças comportamentais, por isso a partir da gestora britânica recomendam o livro Risk: The Science and Politics of Fear, escrito por Dan Gardener. “Este livro está cheio de grandes anedotas e exemplos da vida real (mais do que o mundo dos investimentos) de como os erros de comportamento afetam o nosso dia-a-dia. Uma grande leitura de iniciação para aqueles interessados nas finanças do comportamento”, explicam. Nessa linha podem também gostar do Investing Against the Tide, de Anthony Bolton, que nos mencionam a partir da Fidelity. O autor, considerado o melhor gestor de fundos da bolsa do Reino Unido de todos os tempos, conseguiu uma rentabilidade anualizada de 19,5% face aos 13,5% do mercado durante mais de 25 anos que geriu o Fidelity Special Situations. Em livro, explica o seu enfoque contrarian e os factores que, na sua opinião, realmente importam na hora de investir para fazê-lo bem de forma consistente. Útil e didático.

Pablo Martínez, responsável de Vendas para Ibéria da Amiral Géstion, traz-nos três sugestões para os apaixonados do mercado.

  1. A Man for All Markets: From Las Vegas to Wall Street, How I Beat the Dealer and the Market de Edward O. Thorp. “Nas biografias de investidores extremamente bem sucedidos não existe nada melhor do que isto. A vida de Ed Thorp vale um filme de Hollywood. Um professor de matemática inventa a contagem de cartas no blackjack e ganha milhões com a sua descoberta matemática. Isto fez com que os casinos mudassem as regras do jogo. Passou-se ao maior casino do mundo: Wall Street. Conseguiu  investir com êxito usando as suas habilidades matemáticas combinadas com as finanças quantitativas. Inclusive, jogou bridge com Warren Buffett, detetou o esquema de Bernie Madoff e inventou o primeiro computador portátil juntamente com o académico da teoria da informação Claude Shannon para vencer no jogo da roleta. Uma vida simplesmente incrível”, conta Martínez.
  2. The Great Mental Models de Shane Parrish. “Charlie Munger, sócio de Warren Buffett, Saude comprimidos healthcaresustenta que a qualidade do nosso pensamento é proporcional aos modelos da nossa cabeça e a sua utilidade na situação em questão. Quantos mais modelos se tem, maior será a caixa de ferramentas e mais provável será que e tenha os modelos adequados para ver a realidade. Ou seja, quando se trata de melhorar a capacidade de melhorar decisões, a variedade importa. Este é o melhor livro que se pode ler sobre modelos mentais.
  3. The Ride of a Lifetime: Lessons Learned from 15 Years as CEO of the Walt Disney Company de Robert Iger. “A Walt Disney Company é provavelmente uma das empresas com mais sucesso do  mundo. O seu terreno é enorme e a maior parte do seu êxito recente deve-se a Bob Iger, o seu presidente e diretor geral desde o ano 2000. A sua visão da indústria juntamente com as suas excelentes habilidades de gestão de talentos ajudaram-no a criar mais valor para os acionistas do que a maioria dos CEO da sua geração”, resume Martínez.

A biografia de Iger é também uma das recomendações de Juanma Jiménez, máximo responsável da PIMCO na Península Ibérica. A este acrescenta Deaths of despair and the future of capitalism de Anne Case, “muito importante para compreender o declive da classe média dos EUA e o fim do sonho americano para a classe trabalhadora branca, e a sorte que temos com o nosso sistema de cuidado médico na Europa”, e The Book of Why de Judea Pearl e Dana Mackenzie, para entender a nossa mente, a inteligência artificial e o futuro”.

Outra biografia interessante da qual fala Víctor Asensi, vendas institucionais da DPAM, é Let my people go surfing. “Conta a história de êxito da Patagonia, uma empresa Americana responsável e comprometida com o meio ambiente desde a sua criação em 1973 por Yvon Chouinard. O seu caso de sucesso está mais presente que nunca devido à importância de consumir de uma maneira mais responsável e sustentável. O modelo de negócio da Patagonia está a ser estudado hoje em dia pelas melhores universidades do mundo (Harvard, MIT...)”, explica Asensi.

Os meses de verão nem sempre são tranquilos como nos lembram eventos como a crise de dívida de 2012, ou a bolsa chinesa em 2015. Assim, Carlos Aparicio, diretor da MFS Investment Management na Península Ibérica, propõe o The Black Swan: The Impact of the Highly Improbable de Nassim Nicholas Taleb. “O livro centra-se no impacto extremo de eventos atípicos raros e imprevisíveis, e na tendência humana para encontrar explicações simplistas para estes eventos, retrospetivamente. O cisne negro em si mesmo é uma grande metáfora do tipo de desastre que nos deixa a todos de lado, ou nos deixa fora da existência ao darmos por garantido o presente. Os cisnes negros na vida humana, como o 11 de setembro ou mais recentemente o aparecimento do coronavírus, são posteriores, têm implicações significativas e, uma vez vistos, aparecem como consequências inevitáveis ou quase inevitáveis do que aconteceu antes. O livro está escrito com engenho e perspicácia, é esclarecedor e estimulante. Fará com que mude de perspetiva sobre o risco e a previsibilidade”, afirma.

Nessa linha aparece também o livro de que nos fala Javier García, responsável de Negócio de Gestoras de 46062156Fundos para a BlacRock em Portugal, Espanha e Andorra: Crashed: How a Decade of Financial Crises Changed the World. Um livro fundamental para entender as grandes consequências globais que teve a crise financeira de 2008. Esta leitura centra-se em explicar como o mercado local norte-americano acaba por impactar todo o globo. O livro é relativamente recente, e, embora necessitasse de ser lido com o prisma do que que aconteceu com o coronavírus, contém uma análise útil das grandes mudanças que aconteceram na esfera económica global nos dez anos posteriores ao colapso de Wall Street. “Outra das maravilhas do livro é a subtileza com que Adam Tooze transfere todos esses acontecimentos para o mundo atual, adaptando toda a explicação às ameaças e idiossincrasias de hoje em dia e dando mais profundidade às consequências a longo prazo de uma catástrofe de tal magnitude. O livro pode adquirir uma maior relevância depois da expansão do coronavírus e perante a necessidade de sermos capazes de compreender as grandes mudanças que vai representar esta crise nos mercados internacionais”, sustenta.

Quem também recomenda ler sobre outras crises para entender a atual é Javier Alonso, diretor geral do Credit Suisse Gestión, com La solución Nash, de Trías de Bes. “O livro propõem-nos a continuar com os ensinamentos de Adam Smith, o pai da economia: na concorrência, a ambição individual favorece o bem comum, ou seja, todos por um e como cada player obterá melhores resultados se partilharem as suas estratégias com 46062156o resto”, adianta.

“O que Trías de Bes tenta é provar que, em primeiro lugar, não se rompeu nada irrecuperável em termos económicos. Esta crise tem uma medida que a torna única que é a sua temporalidade. Não há um choque de oferta nem uma inovação disruptiva. Necessitamos comprar tempo como sociedade e conservar a capacidade de procura e a capacidade produtiva. Necessitamos de cooperar. Em termos de dilema do prisioneiro, há que assegurar a cooperação. O que se passa é que a cooperação não emana de todos para um, ou de “vamos fazê-lo pelo bem da economia”; cada agente económico decide o que lhe interessa”, resume. “O prémio Nobel da Economia John Nash defendeu que há situações nas quais a melhor opção individual dos agentes económicos conduz ao pior dos cenários para o conjunto. A economia estará em tal situação. A solução Nash consta de duas medidas: a compra de tempo por parte dos estados, ea orquestração entre agentes económicos. Está nas mãos de todos que a crise do COVID-19 fique num tempo morto económico”, defende Alonso.

Para uma nova crise, porque não recordar os clássicos? Como em The General Theory of Employment, Interest, and Money de John Maynard Keynes, que menciona o director geral para a Península Ibérica e América Latina da Columbia Threadneedle, Rubén García Páez. “Toda a filosofia do economista mais influente do século XX está neste manual. Publicado em 1936, em plena Grande Depressão, uma época com notável semelhança à atual. A doutrina de Keyne jamais se mostrou tão vigente: o Estado tem que empurrar a economia quando esta se vê numa encruzilhada. O mundo deu razão a Keynes de uma forma categórica 80 anos depois. Os economistas da sua época guiavam-se pelo princípio de que a menor procura, menores preços. Keynes refutou esta abordagem, ao estabelecer que se a procura se debilita, o que se reduz são a produção e o emprego”, resume.

Falando de crise, entra no debate também o conceito de dívida. Para refletir sobre isso, traz ideias Didier Saint-Georges, membro do comité estratégico de investimento da Carmignac, que nos dá uma perspetiva nova sobre os acontecimentos atuais. O primeiro é Keynes Hayek, The clash that defined Modern Economics, de Nicholas Wapshott. Têm os governos o dever de gastar hoje, dada a difícil situação económica na qual  nos encontramos, ou estamos num caminho seguro para a servidão ao executar níveis de deficit sem precendentes? Graças ao feroz debate celebrado há uns 100 anos entre dois gigantes, apresentam-se todos os argumentos relevantes em ambos os sentidos para ajudar-nos a formular uma opinião informada. O segundo livro é  Why minsky matters, de L.Randall Way. A Grande Crise financeira de 2008 fez com que muitos observadores entendessem a realidade do momento Minsky teórico. Mas, que se passa com a ramificação desde então da intervenção dos responsáveis políticos para esmagar a volatilidade do mercado? Este livro ajuda muito a conectar a teoria económica (do livro anterior) com o impacto do mercado. “Definitivamente é importante para os investidores”, sentencia. O terceiro livro é uma ficção: The Mandibles: A family, 2029-2047, de Lionel Shriver. A economia norte-americana derrubou-se pela carga da dívida, o dólar norte-americano colapsou, a família Mandibles, como a maioria da população norte-americana caiu em pobreza.

46062156Muito atual são também estes dois títulos que propõem Jim Leaviss, diretor de investimentos de obrigações na M&G Investments:

  1. The Deficit Myth de Stephanie Kelton. “O livro do momento e uma grande leitura. Tenho as minhas reservas sobre algumas das afirmações, já que para mim tudo o que o autor propõe é apenas possível se o governo em questão tiver credibilidade nos mercados, e sempre haverá um momento em que se cruza a linha sobre o total de dívida que se pode emitir se se quer continuar a ser credível”, conta.
  2. Angrynomics do meu colega Eric Lonergan e Mark Blyth. “Creio que este livro tem uma resposta mais apropriada para os desafios que enfrentamos agora: apesar da dívida soberana contar com yields negativas, os governos deverão continuar a emitir dívida. Não tem um custo para eles é, de facto, rentável e podem usar esse capital para investir em aspetos que ajudem o país a prosperar, como nas infraestruturas, por exemplo”.

Para os jovens, Jaime Albella, da AXA IM, recomenda Principles de Ray Dalio. “Pode oferecer-lhes muito porque conta toda a história, desde os primórdios, e dá boas dicas para quem goste mais de trading”, afirma.  Também propõe um clássico Rich Dad Poor Dad, uma leitura básica com lições fundamentais. “Para além disso, no confinamento li Venture Deals, sobre o investimento em Venture Capital, e adore. Creio que é o livro que recolhe de forma mais ordenada tudo o que influencia o investimento em start-ups, tão fundamentais para levar o mundo para a frente.