À Funds People Portugal Ana Garcia falou recentemente sobre a gestão deste fundo, cujo processo de liquidação teve início na semana passada.
- Sendo um fundo de gestão passiva cujo central objectivo passava por deixar maturar os ativos em carteira, quais foram os principais desafios enfrentados pela gestão?
Sendo que o Fundo de Gestão Passiva (FGP) tinha como principal objectivo que os seus activos atingissem um valor o mais próximo possível do seu valor nominal, o principal desafio foi gerir correctamente as expectativas dos participantes relativamente ao retorno que poderiam obter, procurando conduzir o processo com a maior sensibilidade e mantendo a máxima transparência e proximidade junto dos clientes.
Com este propósito, foi constituída uma Comissão de Acompanhamento, que reunia mensalmente, onde estavam presentes um membro designado pelo Ministério das Finanças e da Administração Pública, o representante dos participantes eleito em Assembleia de Participantes do fundo e representantes da Banif Gestão de Activos. Neste fórum era discutida e posteriormente divulgada toda a informação relacionada com o fundo (evolução dos activos e passivos, decisão sobre as ofertas de compra e de troca apresentadas pelos emitentes detidos em carteira, expectativa quanto às distribuições de liquidez aos participantes, entre outros), com a máxima transparência, para que todos os clientes fossem devidamente informados e acompanhados.
- Face ao montante de ativos sob gestão na constituição do fundo, qual será a rentabilidade esperada se a liquidação for de acordo com o esperado?
Este fundo assume características muito particulares, na medida em que não só cerca de 50% da carteira é constituída por CLOs, activos considerados menos líquidos e com reduzida visibilidade, como também a componente de dívida financeira subordinada é relativamente concentrada. Por estas razões, e atendendo à recente instabilidade das condições de mercado, a sociedade gestora, de forma a salvaguardar o melhor interesse dos participantes, requereu um prazo superior para o processo de alienação de todos os activos do fundo e respectivo período de liquidação, com o objectivo de maximizar o retorno para os participantes. De qualquer forma, no cômpito geral, o fundo acabou por cumprir o objectivo para que foi criado, na medida em que a grande maioria dos participantes deverá recuperar a quase totalidade do capital investido.
- Face ao valor investido por parte dos clientes do BPP, qual será a amplitude da perda esperada?
Dependerá da situação particular de cada participante. Além da rentabilidade do Fundo de Gestão Passiva, há a considerar também o montante recebido pelos clientes através do Fundo de Garantia de Depósitos, do Sistema de Indemnização aos Investidores e da Garantia prestada pelo Estado. Importa referir que durante a vida útil do fundo foram sendo realizadas várias distribuições de liquidez aos participantes, sob a forma de distribuições periódicas de rendimentos e amortizações parciais, num total de cerca de 480 milhões de Euros.
- Considerando a liquidez dos ativos em carteira, quanto tempo espera que demore a liquidação? Quando será expectável que os clientes sejam reembolsados?
Pelo facto de o fundo ser constituído por um conjunto de ativos com reduzida liquidez, os denominados CLOs, e de modo a salvaguardar o melhor interesse dos participantes, a sociedade gestora requereu um período de tempo superior para proceder à alienação dos ativos, que vigorará de 31 de março de 2016 a 15 de julho de 2016.
Durante este período de liquidação e à medida que o fundo venha a dispor de liquidez com a alienação dos seus activos, a Sociedade Gestora realizará amortizações parciais por conta da liquidação, nas seguintes datas: 15 de abril de 2016, 15 de maio de 2016, 15 de junho de 2016 e 15 de julho de 2016, sendo efectuado o pagamento nestas datas sempre que o valor disponível para distribuir atinja os 5 milhões de euros ou caso se trate do último pagamento do processo de liquidação.
- Em termos internos - procedimentos, métodos, questões regulamentares, por exemplo - quais as principais nuances ao longo deste processo, em comparação com os restantes fundos da entidade?
A gestão do FGP assumiu contornos muito particulares e substancialmente diferentes dos restantes fundos geridos pela BGA. Desde logo pela razão que esteve subjacente à sua criação: tentar que os activos associados aos produtos de retorno absoluto do BPP que integraram o fundo viessem a recuperar o seu valor. Numa fase inicial, os clientes mostraram-se muito receosos quanto à solução criada. As dúvidas foram muitas e o desconforto relativamente ao sector financeiro em geral era muito grande. Foi fundamental acompanhar os clientes de uma forma muito particular e próxima, com a máxima transparência e sensibilidade. Numa base mensal, eram prestadas todas as informações sobre a evolução do fundo, sendo que a Sociedade Gestora procurou sempre esclarecer os clientes e responder às suas solicitações, com a máxima clareza e rigor.
- Tendo em consideração que este foi um processo relativamente atípico, quais foram os principais cuidados para com os clientes ao longo da vida do fundo?
Disponibilizar toda a informação relativa ao Fundo com a máxima clareza e sensibilidade, para que os clientes pudessem acompanhar de uma forma próxima a evolução do Fundo, e assim gerarem as expectativas correctas relativamente ao retorno que poderiam vir a obter no final do investimento.