Halving: a outra causa que faz a volatilidade da bitcoin disparar

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Créditos: Pierre Borthiry (Unsplash)

Nas últimas semanas, o preço da bitcoin voltou a ter protagonismo nas notícias. Só no primeiro trimestre de 2024, a criptomoeda registou uma rentabilidade de 60%, aproximando-se dos 65.000 dólares, e a expetativa é de que esse rally se mantenha pelo menos a curto prazo, graças a um fenómeno que ocorre apenas a cada quatro anos e que é conhecido como halving.

O que é o halving?

Em concreto, o halving é uma espécie de ajuste na oferta de bitcoins que ocorre a cada quatro anos e implica a redução da quantidade de bitcoins extraídas a cada dez minutos para metade, o que se traduz numa redução da oferta, podendo provocar um aumento na procura e, consequentemente, no seu preço.

Por que ocorre?

Quanto às razões por que ocorre este fenómeno, Raúl López, especialista em criptomoedas, explicou num artigo publicado há alguns anos na FundsPeople, que o criador da bitcoin, Satoshi Nakamoto, considerava a inflação prejudicial, visto que esta se movimenta ao sabor da política ou dos bancos centrais. “Defendia que, para que uma moeda permanecesse imune ao abuso político ou de outra natureza, era necessário que ninguém pudesse criar quantidades ilimitadas de dinheiro. Por esta razão, uma das principais funções do halving e o limite máximo de 21 milhões do protocolo da bitcoin é evitar uma possível inflação”, afirma.

O que costuma acontecer quando ocorre um halving?

O halving que vai ter lugar no final de abril de 2024 vai ser o quarto desde a criação da bitcoin. Nos três anteriores, a reação do mercado foi sempre igual: comprar criptomoedas e disparar, portanto, o seu preço. “A redução para metade ocorre aproximadamente a cada quatro anos, como verificámos em 2020, 2016 e 2012. Nos 12 meses seguintes a cada uma dessas três reduções para metade, a bitcoin aumentou 8,069%, 284% e 559%. Isto pressiona a oferta, visto que abranda a velocidade a que as novas bitcoins entram no mercado, e a redução para metade deste ano vai ocorrer num momento em que a procura está a aumentar. Este evento, que costuma acontecer a cada quatro anos, sugere que a velocidade a que estas novas bitcoins são criadas vai reduzir, aumentando potencialmente a sua escassez e procura”, explicam na Freedom Brokers.

No entanto, como se observa nos números anteriores, esses rallys são cada vez menores, e já há alguns especialistas a afirmar que, nesta ocasião, ao contrário das anteriores, grande parte desse efeito de halving já foi descontado pela bitcoin nas últimas semanas.

Além disso, o contexto atual é muito diferente do passado, visto que, como a Morningstar explica num artigo, “agora, a bitcoin está a disparar a níveis próximos do seu máximo histórico, enquanto, nas últimas reduções, foi negociada entre 40% a 50% abaixo dos seus máximos anteriores”.

As outras alavancas da bitcoin

Além do impacto a curto prazo que o halving na bitcoin pode ter, o certo é que a situação da criptomoeda é atualmente muito mais madura do que há quatro anos.

“Para além de acontecimentos programados, como a redução para metade, há outros fatores que influenciam o mercado de bitcoin. A introdução de produtos financeiros como os ETF de bitcoin abriram novas portas para o investimento institucional, o que pode potencialmente conduzir a uma maior adoção e estabilidade do mercado. O comportamento dos investidores a longo prazo também desempenha um papel crucial, visto que a confiança na tecnologia subjacente à bitcoin e no seu potencial a longo prazo podem influenciar a direção do mercado”, afirma Antonio Ernesto Di Giacomo, analista na xs.com.

O aumento da regulamentação das criptomoedas também joga a seu favor - na Europa, através do MiCa -, que facilita a sua adoção por parte das entidades financeiras mais tradicionais. “Com o passar do tempo, as criptomoedas passaram de uma opção de investimento especulativa para uma solução financeira, tal como está a acontecer com as remessas e os pagamentos transfronteiriços, dada a transparência, rapidez e os baixos custos inerentes ao serem efetuados com criptomoedas. Embora tal não esteja diretamente relacionado com a bitcoin, é a primeira aproximação à adoção destas novas ferramentas, aumentando assim a confiança no ecossistema”, afirma Hongyi Tang, country manager na TruBit. Na empresa, preveem níveis de 100.000 dólares para a bitcoin.

Não obstante, é necessário não esquecer a elevada volatilidade e o risco que o investimento em criptomoedas continua a envolver, o que não as torna adequadas para todo o tipo de investidores.