Perante uma pandemia que exacerbou o peso das mãos dos bancos centrais nos mercados financeiros, como encara a conjuntura um gestor de um fundo multiativos de rendimento?
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John Stopford é co-gestor do Ninety One Global Multi-Asset Income Fund, fundo com as classificações de Blockbuster e Consistente do Selo FundsPeople e fundo cujo enfoque “centra-se no caráter defensivo dos rendimentos gerados pelos ativos” sendo que o “enfoque na valorização de capital pode acabar por ser muito aleatório e ruidoso para os portefólios”, como explicava o gestor numa entrevista em meados de 2018. Mas desde então muito aconteceu nos mercados e um cenário já complicado para um gestor de um fundo focado em rendimento foi agravado por uma pandemia que exacerbou o peso das mãos dos bancos centrais nos mercados financeiros.
Desafio ou oportunidade? Perante esta questão, John Stopford esclarece que as vendas desproporcionadas desencadeadas pela propagação global da pandemia do coronavírus, trouxeram consigo uma série de oportunidades e, em particular, oportunidades em títulos corporativos de alta qualidade. “Vimos um aumento significativo dos spreads nestes títulos e, em particular, no segmento com grau de investimento, uma vez que os investidores saíram de posições para aumentar a liquidez, independentemente dos fundamentais da empresa”, diz. Para o gestor, os movimentos verificados em investment grade foram inclusive mais acentuados numa base ajustada ao risco do que o verificado no segmento high yield.
No entanto, lembra que “devido à resposta política sem precedentes por parte dos bancos centrais e dos governos, os spreads normalizaram com extrema rapidez. O crédito foi um contribuinte significativo para os retornos da carteira nos 12 meses que se seguiram a março de 2020 pelo que esta oportunidade já foi praticamente encerrada”. É aqui que John Stopford puxa a brasa à sua sardinha e relembra o benefício de uma abordagem de investimento que permite investir num amplo universo de títulos para obter os tão importantes rendimentos e rentabilidades que alimentam um fundo de rendimento.
Neste sentido, e com os spreads tão espremidos em fixed income, acredita que “há uma oportunidade estrutural para os investidores em ações. As dividend yields são mais elevadas, em alguns casos do que em 2007, o que é o oposto das obrigações, onde as yields diminuíram como resultado da caça à yield que vimos nos últimos 10 anos”, explica. Além disso, o gestor considera que as ações de dividendos, em virtude de terem estado no centro da tempestade em 2020 por questões relacionadas com a sustentabilidade desses dividendos, veem-se avaliadas de forma assimétrica em relação às suas pares que não pagam dividendos. “Agora estamos num mundo melhor e os dividendos estão a recuperar, o que significa que há agora tanto receitas por dividendos como um potencial de recuperação nas avaliações”, explica.
Posto isto e independentemente de um maior enfoque em ações ou obrigações conforme a atratividade relativa, John Stopford faz questão de deixar claro que a forma como selecionam títulos geradores de rendimentos não mudou. “Temos uma abordagem bottom-up à seleção de títulos, identificando aqueles com um nível atrativo de rendimento, apoiados em fluxos de caixa resilientes e com as perspetivas de um crescimento modesto de capital”. “Há muitas oportunidades para serem encontradas. Só é preciso procurá-las!”
Há que sacrificar algo pelo rendimento?
Perante tal questão, o gestor da entidade gestora sul-africana é bastante assertivo: “Dado que um dos principais objetivos do fundo é proporcionar um retorno total defensivo, não sacrificaremos esse perfil defensivo para obter um rendimento mais alto”. Para John Stopford, tão importante como obter rendimentos atrativos é obter rendimentos que sejam resilientes e que refletem yields “naturalmente disponíveis no mercado, mas que também são consistentes com os nossos outros objetivos de estabilidade de capital ou crescimento de capital moderado e baixa volatilidade”, esclarece. “É importante que não apontemos para alcançar níveis mais elevados de rendimento, já que isto vem normalmente acompanhado de riscos que não compensam e vai contra a nossa mentalidade defensiva e abordagem resiliente”, acrescenta.
Em novembro de 2020, o gestor reporta que sentiram que esse rendimento resiliente desceu modestamente de um nível consistentemente superior a 4% para um que agora se espera que esteja centrado em torno de 4% no futuro previsível. “Isto reflete as ações do banco central para suprimir as yields dos ativos mais seguros, mas também alguma compressão dos prémios de yield pagos por ativos mais arriscados à medida que passaram a refletir no preço uma recuperação da atividade económica global”, explica. Como tal, a nova meta de rendimento do fundo reflete este novo cenário. “Sempre afirmámos que a meta de rendimento do portefólio era flexível, pois achávamos que para compor retornos totais estáveis e defensivos, o rendimento do portefólio - a âncora dos retornos totais do fundo - deveria refletir o que estava naturalmente disponível no mercado”, conclui.
Veja mais explicações sobre o fundo neste vídeo.