Para além do ouro, tanto as matérias-primas industriais como as agrícolas apresentam uma força surpreendente em 2024. Disrupções na oferta fazem com que estas tenham uma função nas carteiras.
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Se olharmos para os preços das matérias-primas, observamos que muitas delas estão a alcançar rentabilidades de dois dígitos até agora em 2024, apesar de o Banco Mundial ter estimado que os seus preços iam baixar este ano. O Bloomberg Commodity Index recuperou quase 8% desde os mínimos de fevereiro de 2024.
Como afirma Marco Mencini, responsável de Análise da Plenisfer Investments, “várias matérias-primas (petróleo, ouro, cacau, café, etc.) registaram uma forte subida em 2024”. O profissional sublinha que, enquanto a tendência das matérias-primas agrícolas está ligada a fatores imprevisíveis, como os meteorológicos, as industriais variam em função de fenómenos medíveis.
Mas também alguns metais preciosos, como o ouro, a prata e o cobre, do lado industrial, apresentam força, apesar do débil comportamento do setor imobiliário na China. No entanto, como Marco Mencini assinala, “algumas delas estão no centro de tendências em alta a longo prazo, como o urânio e o cobre, ambas cruciais para a transição energética”.
Para Engurrand Artaz, gestor de fundos na LFDE, “tradicionalmente, o aumento dos preços de metais industriais (cobre, níquel, zinco e alumínio) são vistos como um bom indício de recuperação cíclica na economia”, o que se confirma pelas mensagens que vários indicadores têm vindo a transmitir há alguns meses, tanto indicadores de sentimento como de dados reais.
Esperança na reativação da indústria fabril chinesa e na IA
A mudança estrutural para a energia verde torna previsível uma maior procura pela prata nos próximos anos, segundo aponta Luc Luyet, economista na Pictet Wealth Management.
O economista também comenta que a tendência em alta dos metais industriais se deve à esperança na reativação da indústria fabril chinesa. “As perspetivas para a platina e o paládio estão muito ligadas à procura por automóveis de combustão interna, cuja menor quota de mercado face ao aumento da dos elétricos pode estar a pesar nos seus preços”.
Quanto ao cobre, que volta a estar em discussão, os sinais de aumento da procura por parte da China, especialmente no que diz respeito às importações de minerais e concentrados de cobre, continuam sólidos, apoiados pelo impulso significativo dos veículos elétricos. Estas importações, em termos de toneladas métricas, registaram um aumento superior a 20% durante o último trimestre em comparação com o primeiro trimestre de 2021, anterior ao impacto da crise imobiliária na procura de metais, segundo os números da CEIC, fornecedora de dados económicos.
Segundo Alice Fox, estratega da gestora australiana Macquarie, “todas as pessoas com quem reunimos consideraram que o mercado será deficitário este ano, com o maior défice previsto de cerca de 700.000 toneladas em 2024”. No entanto, a especialista comenta que, com estes preços do cobre, os exploradores de minas têm um interesse renovado nos seus projetos.
Entre os países mencionados especificamente encontram-se o Chile, com condições físicas e operacionais agora mais estáveis, a Argentina e África em geral.
Mas além desse esperado impulso chinês, algumas matérias-primas desempenham um papel fundamental na tecnologia, sendo essenciais para produzir mais de 200 tipos de circuitos integrados (CPU, GPU, TPU e outros hardwares informáticos que se costumam agrupar como semicondutores), apontam na Invesco. Exemplo disso é o silício com grau de pureza elevado, terras raras com propriedades semicondutoras, desde os LED às células fotovoltaicas e aos circuitos integrados para o fabrico associado à IA, destaca Ashley Oerth, analista sénior de Estratégia de Investimento.
Alocação de ativos em commodities por disrupção
Algumas casas, como a Neuberger Berman, nas suas Perspetivas do Comité de Alocação de Ativos para o segundo semestre, assinalam a manutenção da visão sobreponderada das matérias-primas, adotada no início de 2024.
Segundo a análise de Erik Knutzen, diretor de Investimentos, e Hakan Kaya, gestor sénior de Carteiras da empresa norte-americana, as matérias-primas tendem a ter um bom comportamento em três cenários: reflacionários, inflacionários e aqueles marcados por um contexto geopolítico volátil, que geram o medo de uma disrupção e fazem com que os consumidores (como a China) comecem a pagar um prémio para assegurar a oferta.
Quanto à reflação, os especialistas apontam que esta classe de ativos está a dar muito que falar. “Desde o início do ano, o petróleo e o ouro registaram subidas de 18% e 16% respetivamente. Défices sem precedentes no mercado do cacau - provocados pelo mau tempo e pela acumulação das colheitas - fizeram com que os preços desta matéria-prima aumentassem 140% até agora este ano”, e aponta que estes dados fazem com que o seu cenário base seja reflacionário e, portanto, positivo para as matérias-primas.