O capital privado continua o seu processo de transformação na Europa, impulsionado pela procura de liquidez, pela entrada de novos perfis de investidores e pela crescente sofisticação dos asset owners. Karine Litou, diretora-adjunta global de Private Capital e Securities Services na BNP Paribas, analisa as tendências que estão a moldar esta evolução, desde o crescimento das estruturas evergreen até à crescente pressão operacional por parte dos investidores institucionais.
A procura por liquidez redefine o mercado
A necessidade de liquidez continua a ser uma das grandes forças que moldam o comportamento dos investidores institucionais. Segundo Litou, a pressão sobre os GP para gerar distribuições intensificou o protagonismo do mercado secundário. “Os investidores institucionais precisam de liquidez. Por isso, vemos um forte foco no DPI (distribution to paid-in capital) e uma estratégia clara: vender parte das suas carteiras no mercado secundário para poder assumir novos compromissos noutros fundos”.
Esta dinâmica não é exclusiva do private equity. O interesse pelos mercados secundários estende-se também às infraestruturas, um ativo que continua a atrair capital. Neste âmbito, refere Litou, começa a observar-se uma viragem: “Alguns fundos estão a lançar estratégias ligadas à defesa, não apenas no sentido militar, mas também tecnológico. É uma forma de complementar as carteiras num contexto geopolítico complexo”.
Estruturas em evolução: hibridização, evergreen e adaptação local
A evolução estrutural dos veículos de private capital responde à necessidade de alcançar novos públicos, especialmente no segmento de retalho. Entre os formatos emergentes, destaca-se a estrutura evergreen, que permite manter o investimento aberto com mecanismos de subscrição e reembolso. Embora possa ser aplicada a diferentes classes de ativos, a sua utilização concentra-se em estratégias de private debt. “Na dívida há mais cash flows, cupões e reembolsos, o que gera liquidez. Isto faz com que a estrutura evergreen se adapte melhor a estes ativos”, assinala. Em comparação com o modelo fechado tradicional, permite maior agilidade e evita os descontos associados às vendas secundárias.
Esta tendência responde à evolução dos próprios institucionais, que procuram replicar no mundo não cotado certas práticas de gestão que já aplicam em carteiras líquidas. “Com uma estrutura evergreen, podem solicitar devoluções de capital de forma mais simples, sem necessidade de negociar descontos por liquidez. Isto permite-lhes ser mais ágeis na gestão e arbitragem da sua carteira”, aponta.
Para além da agilidade, os investidores exigem transparência. “Os asset owners querem cada vez mais visibilidade sobre as suas posições, informação look-through que lhes permita tomar decisões por geografia, divisa ou setor”, explica. Esta exigência está a provocar uma transformação no desenho e na distribuição dos fundos.
EUA como força impulsionadora, Europa como laboratório de adaptação
Parte destas inovações estruturais vem do mercado norte-americano, onde existe maior experiência em formatos como os interval funds. No entanto, os intervenientes internacionais devem adaptar os seus produtos às especificidades europeias. “O canal de distribuição muda tudo: se é banca privada, plataforma ou relação direta com o cliente. É essencial entender o que procura o investidor local e como maximizar a eficiência operacional”, afirma Litou.
Luxemburgo: o centro de gravidade do fundraising europeu
A estrutura jurídica e geográfica do veículo de investimento continua a ser uma decisão estratégica. O Luxemburgo consolida-se como a jurisdição dominante para lançamentos de veículos paneuropeus. “50% dos fundos lançados hoje na Europa estão domiciliados lá”, aponta Litou. A profundidade da sua caixa de ferramentas legais e a familiaridade com investidores internacionais tornam-no uma escolha natural para os GP que procuram escalar para além dos seus mercados domésticos.
A operacionalização como vantagem competitiva
Para além do produto, a eficiência operacional tornou-se num fator diferenciador. “Observamos uma pressão crescente (sobretudo de grandes investidores anglo-saxónicos) para que as gestoras externalizem certos processos-chave: reporting, contabilidade, capital calls ou pagamentos”, refere Litou. O objetivo não é reorganizar as gestoras, mas sim estabelecer fluxos de trabalho partilhados com os asset servicers para garantir controlo e transparência.
A BNP Paribas respondeu a esta exigência desenvolvendo uma plataforma que permite aos seus clientes aceder a dados, fluxos e serviços digitais de forma homogénea a partir de diferentes localizações. “Isto permite-nos oferecer uma experiência consistente e criar equipas dedicadas por cliente, que gerem os seus fundos locais e internacionais com um conhecimento profundo do enquadramento regulatório e mantendo uniformidade de reporting para GP (general partners) e LP (limited partners) entre as diferentes jurisdições de domiciliação dos fundos”.
A importância do talento especializado
À medida que cresce a sofisticação do capital privado, aumenta também a necessidade de perfis técnicos capazes de gerir esta complexidade. “A tecnologia não basta. Trabalhamos com informação privada, contratos e acordos de subscrição, e precisamos de especialistas que os compreendam”, afirma Litou.
O BNP Paribas conta com mais de 1.000 profissionais dedicados ao private capital na Europa, Ásia-Pacífico e EUA. Dispõe de um modelo de trabalho transversal que permite às equipas de diferentes localizações colaborar e partilhar conhecimento.