Bons valores relativos ao emprego, que foram conhecidos esta sexta-feira nos EUA, fazem duvidar que a autoridade monetária americana cumpra em julho a descida das taxas que o mercado espera.
Se nas últimas semanas os mercados continuaram a revalidar os bons resultados que tiveram no primeiro semestre do ano foi graças aos bancos centrais que confirmaram uma e outra vez que as políticas monetárias continuarão a ser acomodatícias, deixando ainda sinais de que haverão inlusive novas descidas de taxas. As razões que alegam são a debilidade da economia, mas o que lhes permite continuar com esta rota é, sobretudo, não haver nenhum risco de inflação no horizonte.
É por isso que as boas notícias que chegam do lado económico costumam ser interpretadas como algo negativo do ponto de vista do mercado. “A curto prazo, perseguir o mercado não parece uma decisão inteligente. A maior parte do spread de valorização que destacámos no início do ano já está fechado. Além disso, o pêndulo que impulsiona o mercado poderá oscilar um pouco, das baixas taxas de juro (boas notícias) em direção a um crescimento débil (más notícias). Além disso, a mudança do contexto de “más notícias são boas notícias” para “más notícias são más notícias” é o maior risco que os investidores enfrentam neste momento, altura em que o máximo de lucros ficou para atrás, e no qual prevalecem as disputas comerciais”, afirmam na Amundi.
De momento, o certo é que o mercado continua a mover-se ao som dos bancos centrais e sobretudo ao som do que esperam que os bancos centrais façam, algo que ficou demonstrado na passada sexta-feira. Nos EUA foram publicados dados do desemprego muito melhores do que o esperado. Em junho foram criados 224.000 empregos, face aos 160.000 que se esperava e, por isso, os mercados começaram a temer que talvez em julho não acontecerá nenhuma subida de 25 pontos base que o mercado já previa. A reação: subida da rentabilidade do Tnote a níveis de 2% e a queda dos índices bolsistas.
Se estas quedas não foram maiores foi porque a este bom dado de criação de emprego não juntaram a taxa de desemprego nem o número referente aos salários, que ficaram em níveis de 3,7% e 3,1%, respetivamente. Ainda assim, na ING consideram que “analisando todo o conjunto é um relatório animador que sugere que a economia em geral se está a afastar da incerteza comercial dos Estados Unidos e da China”. É por isso que no Self Bank consideram que “estes bons dados de emprego farão com que a Fed pense duas vezes antes de baixar as taxas na próxima reunião de julho, algo que tinha sido previsto pela maior parte do mercado. Ainda assim, os inquéritos continuam a dar como cenário central essa descida, ainda que a percentagem de probabilidades seja agora menor”, afirmam.
Por sua vez, Philippe Waetcher, economista chefe da Ostrum AM, filial da Natixis IM, também concorda que do ponto de vista da economia não deverá haver pressa em haver uma descida de taxas. “O relatório de desemprego dos EUA de junho mostra que a descida observada em maio (72.000) foi temporária. O número de junho foi de 224.000 e 191.000 para o sector privado. A média para ambas as medidas está próxima dos números observados em 2016 e 2017. Não e necessário que a Fed atue com rapidez. Em 2017, a Fed estava a ajustar-se sem problemas”, afirma no seu blog.
Não obstante, quer aconteça ou não essa subida de taxas e o impacto que tem a curto prazo no mercado, os especialistas não duvidam que a era das taxas baixas, que começou há já 11 anos, ainda pode durar mais uns quantos anos. “As taxas estão baixas em termos históricos, e poderão continuar a estar até quando o banco central decidir voltar a subir as taxas de juro nos próximos meses”, refere Darrel Spence, economista do Capital Group.