O que esperar hoje da Fed? As gestoras veem o fim do ciclo de normalização

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tommy.chang, Flickr, Creative Commons

No seu êxito de 2002, “Can’t Stop”, os Red Hot Chili Peppers cantam sobre, literalmente, não poder parar. É a canção que nos propõem na Unigestión para pôr uma banda sonora na próxima reunião do banco central americano, onde a capacidade (ou não) de pôr um travão no ciclo económico estará no centro do debate. “Está a confiar-se demasiado nos bancos centrais para resolver este cenário, mas no nosso ponto de vista não podem deter a tendência de desaceleração na economia global e os preços dos ativos deveriam ser ajustados para refletir um risco maior de recessão”, afirmam.

Mais do que uma pausa? A Reserva Federal surpreendeu pela positiva os mercados ao começar o ano com um tom muito mais acomodatício, mas o que no princípio se leu com impasse momentâneo, agora está a evoluir para o ponto final desde o ciclo de normalização.

Ou pelo menos é o que interpreta o mercado. Segundo o último inquérito a gestores do Bank of America Merril Lynch, um terço acredita que o ciclo de subidas chegou ao fim e mais de metade prevê que as taxas a curto prazo continuarão estáveis ou até mais baixas nos próximos 12 meses.

Como recapitulação do que foi este período de normalização, na Ostrum AM (afiliada da Natixis IM) recordam: a Fed subiu as taxas 225 pontos base desde setembro de 2015. À vez deixaram de reinvestir a carteira de emissões do Tesouro iniciada com a crise de 2008, mas já fizeram alusões a que alcançou o nível “ótimo” para gerir os riscos cíclicos e financeiros. Este estaria, segundo Powell, em 16-17% do PIB nominal dos Estados Unidos. Assumindo que o ritmo de redução do balanço continua a ser de 50.000 milhões por mês, esse objetivo seria alcançado no fim de 2019.

Como mínimo, da reunião desta quarta feira as gestoras esperam uma Fed em modo “esperar e ver”. Ao fim e ao cabo, como defende David Kohl, estratega de divisas da Julius Baer, há poucas razões para que se afastem do intervalo de 2,25-2,5%. A economia americana deu alguns sinais de estabilização e as bolsas recuperaram, mas isto dá motivos à Fed para se manter a meio caminho entre uma postura acomodatícia e restritiva. Isto poderia pressupor que a Fed recue numa das subidas de taxas que prevê para 2019.

Na Allianz Global Investors concordam que se manterá o tom, mas matizam: “Os investidores também devem esperar que a Reserva Federal mantenha abertas todas as opções a médio prazo à medida que continua a observar os dados económicos. O crescimento continua a ser sólido e acima do seu potencial, apesar do facto de as últimas estatísticas de crescimento serem difíceis de decifrar devido ao fecho parcial do governo dos Estados Unidos. Além disso, a taxa média de criação de emprego a três meses, publicada recentemente, foi de 180.000 postos de trabalho. Mesmo que este número decepcione alguns observadores do mercado, é compatível com o crescimento contínuo dos salários”.