Segundo dados da HFR, a indústria de hedge funds atingiu 3,6 biliões de dólares sob gestão em 2020. No último trimestre, o património líquido aumentou em 290 mil milhões, o maior aumento da sua história. O setor superou com sucesso a turbulência política, social e económica causada pela pandemia e a rentabilidade aproximou-se de 12%, a maior desde o auge da crise financeira global em 2009.
Porém, em 2020, devido ao impacto económico e regional da COVID-19, a diferença nos retornos entre os hedge funds não tem precedentes. De fato, no meio da pandemia, o maior desafio para esses produtos foi a dispersão e deslocamento de preços, bem como a divergência entre classes de ativos e regiões, mesmo com resultados contrários às expectativas dos investidores.
Conforme explicado numa conferência por Heinrich Merz, diretor de hedge funds e Nicolas Campiche, CEO da Pictet Alternative Advisors, nesta crise, os humanos venceram as máquinas. “A aceleração da tecnologia levou a um renascimento da gestão ativa e os hedge funds discricionários baseados em fundamentais tiveram um desempenho melhor do que os quantitativos”, enfatizam.
Os humanos vencem as máquinas
De fato, os gestores de macroestratégias discricionárias anteciparam a crise, enquanto os quantitativos sistemáticos não foram capazes de prever o impacto. Na base desse sucesso está a singularidade do que aconteceu. "Os sistemas automatizados enfrentaram uma situação sem precedentes, nunca experimentada, que os colocou em dificuldades."
Ao contrário, gestores discricionários têm conseguido tirar o máximo proveito do contexto macroeconómico, com ampla adoção da tecnologia, uma verdadeira tendência vencedora da pandemia. “Testemunhamos a adoção muito rápida e sem precedentes de sistemas e algoritmos para refinar a precisão da análise na gestão ativa”, dizem.
Os dados e a inteligência artificial estão a ser cada vez mais integrados nos processos de investimento e já é muito raro encontrar um hedge fund, mesmo tradicional long/short, que não tenha implementado e contratado dados científicos.
As mudanças introduzidas após o que aconteceu com a Gamestop
Este ano a Gamestop foi o centro de um movimento entre um grande grupo de pequenos investidores organizados na rede social Reddit, orquestradora de uma compra massiva de ações, que causou prejuízos de milhares de milhões de dólares aos hedge funds com posições curtas. Isso foi possível devido ao fácil acesso às operações pelo telemóvel e aplicações de negociação, com comissões muito baixas.
“É previsível que esse movimento seja moderado, embora não desapareça nos próximos anos. A questão é que alguns hedge funds foram surpreendidos com as suas posições curtas no título. Uma das consequências foi que aumentou o grau de diversificação das posições curtas nas carteiras dos gestores, bem como o peso relativo dessas posições”, revelam.
A questão é que não há substituto para uma boa due diligence e compreensão de como os gestores controlam o risco. “Atualmente, alguns provedores de serviços pesquisam sistematicamente as redes sociais em busca de ações em voga, o que facilita a sua incorporação aos sistemas de risco. De facto, muitos gestores monitorizam o nível de posições curtas em relação à capitalização bolsista das empresas correspondentes para detetar os primeiros sinais”, concluem.