O segredo de uma estratégia global macro consistente

Guillaume Detrait e Dr. Patrick Welton
Guillaume Detrait e Dr. Patrick Welton. Créditos: Cedida (IAM)

Os fundos alternativos global macro e CTA brilharam em 2022. Os diversos índices de referência de Global Macro da HFRI, a referência na indústria, movem-se com subidas de dois dígitos. E não se destacam apenas pelos seus retornos positivos, mas por fazê-lo num período historicamente nefasto para as tradicionais classes de ativos como as obrigações e as ações. É o caso do Welton Multi-Strategy Global Macro, que valorizou 34,46% no último ano.

Mas para Patrick Welton, fundador e diretor de Investimentos da estratégia, o verdadeiro mérito não está no aumento deste último ano, mas na consistência dos seus retornos. E esses 35% seguem-se a um ganho de 11% em 2021 e outro de 20% em 2020. Três cenários de mercados muito diferentes, mas com três resultados igualmente positivos. 

Este fundo sistemático multi-estratégia nasceu há quase 10 anos com o objetivo de gerar um retorno anual superior a 10% num ciclo de mercado com uma volatilidade máxima de 15%. E por agora cumpre esse objetivo, com um retorno anualizado desde o seu lançamento de 12%. Este é o número que realmente importa para Welton.

“O que sempre dececionou os investidores de fundos global macro foi a inconsistência dos retornos. Confiar em fundos que num ano sobem porque o vento sopra a seu favor, mas que depois caem no ano seguinte. Não queremos gerar esses 10% apenas num ano excecional”, explica.

A chave de um fundo global macro consistente

Qual é, então, a chave para a consistência de um fundo macro? Welton lamenta reconhecer que por detrás da sua fórmula sistemática não há mais segredo nenhum do que uma verdadeira diversificação. O Welton Multi-Strategy Global Macro procura ativamente oferecer uma descorrelação às principais classes de ativos, tanto as líquidas como as ilíquidas (por exemplo, o imobiliário).

Afinal, essa foi a origem dos hedge funds macro ou de trading de matérias-primas, oferecer cobertura em todo o tipo de mercados. “As casas com viés long-only começaram logo a proliferar, mas muitas eram inconsistentes ou tinham demasiada alavancagem”, afirma Welton.

Esta diversificação é alcançada através da análise de 120 classes de ativos distintas, divididas em quatro grandes grupos (obrigações, matérias-primas, índices de ações e divisas). Apenas se investe nos ativos mais líquidos.

“O objetivo é capturar alfa, não o beta de uma classe de ativos”, explica Welton. Assim, o seu posicionamento é construído com base na análise sistemática de eventos recorrentes nos mercados. Esses eventos podem ser preços, alterações na volatilidade, alterações na política monetária, correções severas ou sustentadas, alterações significativas nas correlações, etc. A carteira é reequilibrada tanto trimestralmente como com ajustes diários. O período de investimento oscila entre 15 minutos e nove meses, dependendo de cada subestratégia.

No modelo sistemático de Welton convivem múltiplas subestratégias, cada uma relevante à sua maneira. Por exemplo, há grupos que oferecem orientação, tais como o macro directional ou tendências; há grupos que oferecem diversificação, como os fatores de curto prazo e os não direcionais; e há grupos que trabalham em momentos de correção das ações, como o seu fator risk-off alfa.

Além disso, é um modelo em constante revisão e evolução. Acrescentam tipicamente um ou dois indicadores novos a cada ano, pensando sempre no que oferecem à carteira global.

O silencioso sucesso do Dr. Patrick Welton

Médico de profissão e professor em São Francisco, Welton sempre teve uma paixão pelo trading. Mas o que começou como um hobby, acabou por se tornar numa nova carreira profissional. Welton fundou o seu projeto pessoal, a Welton Investment Partners, dentro da Commodities Corporation, uma conhecida incubadora de investimentos de hedge funds, responsável por descobrir gestores agora considerados lendários como Paul Tudor Jones (Tudor Investment Corp), Louis Bacon (Moore Capital) ou Bruce Kovner (Caxton Associates). 

Com a crise financeira de 2008, a boutique começou a evoluir a sua estrutura, abrindo a sua carteira a mais investidores institucionais e expandindo a sua equipa de análise. Nessa década, integraram a equipa profissionais como Oren Rosen, doutor em Matemática, agora gestor de systematic macro e trends, e Guillaume Detrait, atual presidente da gestora.

Nos últimos anos, o crescimento da equipa permitiu-lhes lançar estratégias sistemáticas através de diversos veículos dirigidos a institucionais. Atualmente, a Welton conta com cerca de 2.000 milhões de dólares em ativos, dos quais a grande maioria pertence ao seu principal produto, o Welton Global Strategy. Mas a gestora prevê que esta divisão evolua a médio prazo, visto que recentemente lançaram a versão UCITS da estratégia pela mão da International Asset Management. O novo fundo é gerido a par da estratégia offshore original e tem liquidez diária.