Com o aproximar de mais um embate entre Joe Biden e Donald Trump, André Almeida, especialista em Soluções de Investimento na Santander AM, fala da crescente expetativa e a incerteza gerada pela potencial mudança nas políticas.
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COLABORAÇÃO de André Filipe d'Almeida, especialista em Soluções de Investimento na Santander AM.
Um dos grandes focos dos investidores neste ano vão para as eleições dos EUA que vão opor Donald Trump a Joe Biden. Estas eleições poderão alterar significativamente o panorama económico-financeiro do país e, provavelmente, do resto do mundo, podendo moldar a maneira como os investidores irão atuar nos mercados. Para isso, é fundamental compreender as potenciais implicações de uma vitória de Biden ou de Trump e saber como lidar com a incerteza que acompanha qualquer acontecimento político importante.
A polarização na política americana tem vindo a ter maior influência nos mercados financeiros, com cada vez mais investidores a tomarem decisões com base nas suas opiniões. Reflexo disto é a existência de gestoras de ativos focados em ideologia política como a Parnassus, que investe com uma lente dos chamados democratas liberais, do outro lado da barricada a 1789 Capital, que se foca em empresas que foram penalizadas pelo ESG, e a Strive Asset Management de Vivek Ramaswamy, com o seu ETF de combustíveis fósseis com o ticker DRLL. De um lado, as considerações sociais, ambientais e de governação (ou ESG) têm estado no centro das atenções de reguladores e investidores.
Desde que Larry Fink, CEO da BlackRock, indicou que as alterações climáticas levariam a uma alteração fundamental no mundo financeiro, praticamente todas as empresas seguiram as suas pisadas. No outro, legisladores republicanos norte-americanos têm criticado os grandes bancos e gestores de investimentos por serem demasiado woke ou hostis aos combustíveis fósseis e até baniram grandes instituições financeiras como a BlackRock, a Goldman Sachs, a State Street e a Wells Fargo. Inclusive a Flórida, o Kansas e o Idaho criaram legislação que proíbe ou limita a consideração de ESG. Além do foco ambiental, esta decisão tinha como base outros princípios à volta do ESG: desde matérias de diversidade, equidade e inclusão (DEI) como a diversidade do conselho de administração, etc. Quase uma década depois, a BlackRock abandonou a sigla ESG para falar de investimento de transição, mais focado no ambiente do que nos outros tópicos mais controversos.
Biden vs. Trump
O que podemos então esperar das eleições de novembro neste contexto? No cenário de uma vitória de Biden, os investidores podem esperar uma manutenção das atuais políticas. Umas das mais significantes será na matéria de impostos, nomeadamente no aumento do imposto para as empresas de 21% para 28%. Apesar dos impactos nos resultados das empresas no curto prazo, a continuação do Green Deal e o potencial investimento de dois triliões de dólares em energia limpa e infraestruturas nos próximos quatro anos poderão criar oportunidades no setor das energias renováveis. No setor da saúde, é prevista a expansão do Affordable Care Act, aumentando consequentemente a procura por serviços e produtos médicos, o que poderá potencializar os ganhos nas ações e obrigações de empresas deste setor. Adicionalmente, Biden terá uma política externa previsível no que toca aos principais temas, tais como o apoio à Ucrânia. Apesar das suas mais recentes decisões em termos de imposição de tarifas à China, os restantes parceiros na Ásia e Europa beneficiarão da sua ajuda.
Na possibilidade de Trump sair vitorioso, será previsível a continuação das políticas do seu primeiro mandato que se caraterizaram sobretudo pelos cortes de impostos, pela limitação da regulação e um foco na produção doméstica. De acordo com um relatório da Oxford Economics, Trumponomics: The Economics of a Second Trump Presidency, estes cortes beneficiariam os setores energético e financeiro, nomeadamente a indústria de combustíveis fósseis e as instituições financeiras. Contudo, a maior imprevisibilidade será em termos de relações externas. No estudo, os autores discutem dois cenários: a possibilidade de Trump ser mais moderado nas suas políticas ou avançar com o protecionismo total com o lema America First.
Num cenário moderado, países como o México e o Canadá teriam um benefício limitado e os mercados financeiros seriam relativamente pouco afetados (dado que este cenário não destoa em nada das atuais medidas protecionistas de Biden). Olhando para o cenário de protecionismo total, aqueles países seriam os que mais perderiam (excetuando a China) com a consequente desaceleração da economia global. Em termos de mercados, o impacto inflacionista de tarifas mais elevadas iria possivelmente forçar o aumento das taxas de juro (a menos que o Presidente ganhasse o direito de impedir a Reserva Federal de as impor).
Não obstante, é preciso relembrar que tomar uma posição de qualquer lado do espetro político pode ter consequências: os boicotes anti-ESG aumentaram o custo dos juros da dívida no Texas, dado que os bancos com políticas ESG deixaram de financiar a venda das suas obrigações. Por outro lado, os democratas que venderam ações após a vitória de Trump em 2016 não aproveitaram a subida de 21% do S&P 500 no ano seguinte. Independentemente dos resultados eleitorais, os investidores devem manter uma carteira bem diversificada por classes de ativos, setores e regiões, ajudando a distribuir o risco, o que será sempre a melhor solução para mitigar quaisquer riscos que advenham destas eleições.