Chart of the Week – Regresso aos escritórios?

Luis Figueiredo SAM
Luis Figueiredo. Créditos: Vitor Duarte

O Chart of the Week é da autoria de Luis Figueiredo, administrador e responsável pelo Imobiliário na Santander Asset Management.

Fonte: Cushman & Wakefield; LPI

Com o estado pandémico instalado à escala global, o teletrabalho tornou-se uma realidade omnipresente no mundo laboral. Se nesse contexto extremamente adverso e desconhecido foi, num primeiro momento, uma medida de recurso para fazer face às necessidades imediatas, rapidamente demonstrou uma extraordinária capacidade de resposta por parte das empresas e dos trabalhadores em geral, para dessa forma se poder assegurar a continuidade da atividade económica, vital à sobrevivência comum.

No entanto, ultrapassada que foi a fase crítica da pandemia, muito se tem discutido os méritos e virtudes do teletrabalho. Na verdade, se perante o cenário de lock down foi a (única) solução possível, e como tal aceite por todas as partes envolvidas, seria, no entanto, previsível, como efetivamente aconteceu, que gerasse assimetrias no tocante às expectativas, findo o período de isolamento. Se, por um lado, existem setores, áreas de negócio ou departamentos de empresas nos quais o teletrabalho é realmente eficaz e eficiente, tanto para empregadores como para empregados, por outro, não deixa de ser igualmente verdade que acarretou necessariamente um decréscimo de valor de trabalho, decorrente da perda de contacto presencial entre as pessoas, aos mais diferentes níveis. Reflexo disso é que, não obstante, a implementação de novas políticas mais flexíveis no que concerne aos tempos de permanência física nas instalações das entidades empregadores, a tendência generalizada e dominante é assistir-se ao regresso ao velho local de trabalho convencional. O racional revela-se óbvio, mesmo afastando uma perspetiva mais fabril: o trabalho em ambiente focado é, maioritariamente, muito mais produtivo - a colaboração entre pessoas, as trocas de ideias e a espontaneidade não são replicáveis à distância, por muito sofisticados que sejam os meios.

Não será por acaso que 2022 será um ano, tanto quanto apontam as previsões das principais consultoras, no qual se comprovará o regresso massificado aos escritórios. Esta previsão sai reforçada pelo recorde de metros quadrados (m2) deste segmento transacionados na Grande Lisboa. Até setembro último, o mercado de escritórios na capital garantiu a ocupação de 247 000 m², ultrapassando já o resultado histórico atingido em 2018.  Acresce ainda que as previsões assumem cerca de 300.000 m² de absorção até final do corrente ano. São os números a falar por si.

Esta dinâmica está a ser impulsionada por grandes empresas, nacionais e estrangeiras que procuram espaços de qualidade, modernas e atuais, sem esquecer o ESG tão presente.

A mesma tendência se observa no plano internacional com a chamada aos escritórios por parte de grandes instituições multinacionais.

Em suma, o teletrabalho veio para ficar, numa escala ajustada e não de forma generalizada, com bastantes empresas a adotar um sistema de trabalho híbrido, mas sempre com forte ligação ao espaço da empresa.

Ao contrário de algumas suspeitas, os escritórios sobreviveram, estão em adaptação e continuarão a ser um ativo de forte procura e consequentemente produto de investimento. Como qualquer investimento continuará a haver ativos diferentes, melhores e piores. Cabe a quem decide a aquisição fazer a devida seleção, análise e negociação.