Eduardo Nunes, multi-asset sales trader no BiG, comenta de que forma o contexto macroeconómico tem impactado o estilo de investimento growth nos últimos dois meses.
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O Esta semana vou estar de olho em... é da autoria de Eduardo Nunes, multi-asset sales trader no BiG.
Os últimos dois meses de negociação têm sido sinónimo de movimentos amplamente impulsivos e, principalmente, acentuadas trajetórias descendentes para empresas ligadas ao estilo de investimento de crescimento, inovação e disrupção.
O Contexto Macroeconómico
Para compreendermos os superiores níveis de volatilidade verificados para múltiplos segmentos acionistas ao longo dos últimos dois meses, temos de nos debruçar sobre o contexto macroeconómico. De facto, a originar esta dimensão e acelerada velocidade de quebras, esteve primordialmente uma radical e inesperada mudança de tom por parte da Reserva Federal no que respeita tanto a perspetivas inflacionistas como, consequentemente, necessidade de agressiva normalização monetária.
Durante diversos trimestres consecutivos, a Fed afirmava que as pressões inflacionistas já na altura verificadas estariam a ser consideradas como temporárias, e motivadas por fatores económicos passageiros, e desta forma não originando maiores alertas ou preocupação. Contudo, em finais de novembro de 2021, esta postura passiva perante os dados de inflação crescente alterou-se de forma significativa. Mais especificamente, a Reserva Federal anunciou que, afinal, considera que ainda existe um importante risco da inflação conhecer uma trajetória ascendente nos próximos meses, assim como da mesma assumir um caráter persistente (e não temporário) na economia.
Por conseguinte, perante tal contexto, e na tentativa de combater um massivo e persistente incremento inflacionista (nefasto para a estabilidade económica), emergiu a necessidade de acelerada normalização de política monetária por parte da Fed. Esta redução de estímulos monetários é feita não apenas por via de menores compras mensais de ativos como, principalmente, por via de incrementos de taxas de juro de referência – algo a que o mercado não está de todo habituado.
É importante recordar que massivas valorizações verificadas para múltiplos segmentos acionistas e empresas em termos individuais mais ligadas a crescimento foram motivadas não apenas por um contexto de novo-normal, amplamente mais favorável ao mundo digital e inovação, mas também por um regime de taxas de juro amplamente baixas (e taxas de juro reais negativas), que tendeu a beneficiar empresas cuja avaliação atual depende fortemente de fluxos de receitas futuros e ainda longínquos.
O impacto no estilo de investimento de crescimento
A necessidade de um acelerado e agressivo processo de incremento de taxas de juro de referência por parte da Reserva Federal ao longo de 2022 agitou de forma impactante os mercados acionistas, originando maiores níveis de volatilidade, e sendo particularmente prejudicial para com empresas ligadas ao estilo de investimento de crescimento.
De facto, o principal índice tecnológico norte-americano, Nasdaq 100, apresentou em janeiro dos desempenhos mensais mais negativos das últimas décadas, quebrando em baixa a linha de tendência ascendente representativa de todo o bull market tecnológico que vigorava desde os mínimos de março de 2020 (gráfico), tendo retraído mais de 17% considerando os máximos de novembro de 2021 e os mínimos de finais de janeiro.
Alguns exemplos de segmentos tecnológicos que de facto foram alvo de massivos níveis de volatilidade e domínio vendedor ao longo das últimas semanas passam por comércio digital, pagamentos digitais, semicondutores, entre múltiplos outros. Em paralelo, destaca-se que as quebras foram particularmente aceleradas e agressivas para empresas cuja avaliação atual assenta (ou assentava) em ambiciosas perspetivas de elevadas receitas futuras, e ainda potencialmente longínquas, sendo as mesmas ainda não-lucrativas nos dias correntes.
Por exemplo, o ETF de referência da ARK Invest, que se foca principalmente em investimentos a longo prazo em empresas ligadas a inovação disruptiva (muitas delas ainda não-lucrativas no momento presente e cujas massivas valorizações ao longo de 2020 assentavam principalmente em elevadas e ambiciosas expectativas de crescimento futuro) retraiu mais de 45% face aos níveis de inícios de novembro, desfazendo uma fatia considerável das valorizações registadas em anos anteriores.
A acrescentar a um contexto macroeconómico adverso, resultados corporativos e/ou perspetivas corporativas conservadores anunciados por algumas empresas ligadas ao ramo tecnológico exacerbaram as quebras – exemplos como Meta Platforms (FB US) ou PayPal (PYPL US), que retraíram mais de 20% após divulgação de números corporativos.
Face a tal contexto e regime de volatilidade, uma adequada e cuidadosa gestão de risco deverá ser uma premissa sempre presente na mente dos Investidores.
Oportunidade após quebras?
Perante as quebras mencionadas supra, e já estando o mercado a descontar um agressivo panorama inflacionista e de normalização monetária, considero que as massivas quebras recentes poderão ser oportunidades de investimento a longo prazo em setores ligados a tecnologia e crescimento, ainda que de forma seletiva e cuidadosa.
De facto, no âmbito de uma carteira acionista diversificada, que englobe igualmente exposição a segmentos tanto cíclicos como defensivos, as recentes e expressivas correções verificadas para setores de crescimento poderão originar interessantes oportunidades de inclusão deste estilo na carteira, numa ótica de investimento longo prazo.
Ainda assim, é importante destacar que o sentimento de mercado, no momento presente, continua ainda de aversão ao risco para com esta tipologia de empresas, estando múltiplas delas ainda em modo de falling knife. Por conseguinte, ao longo desta semana estarei de olho numa possível estabilização e melhoria de sentimento para com tais segmentos acionistas, que poderá providenciar um indício de inversão de tendência negativa mais estrutural e, assim, o início de uma recuperação consistente desse ponto em diante. Tais indícios de estabilização apresentam se de facto como uma premissa chave para o início de uma possível recuperação mais notória, tratando-se assim de um ponto crítico a monitorizar de forma contínua.
Para além de uma monitorização próxima ao sentimento de mercado, manter uma elevada atenção a fatores que possam impactar a postura futura da Reserva Federal no que respeita a normalização monetária é chave – indicadores económicos, discursos por parte de representantes da Fed, entre outros fatores.
Alguns nomes em que também vou estar de olho…
Destaco alguns exemplos de segmentos / empresas a que estarei particularmente atento no futuro próximo:
- Gigantes tecnológicas norte-americanas: Amazon (AMZN US), Microsoft (MSFT US), Alphabet (GOOGL US)
- Segmento de semicondutores: Nvidia (NVDA US), Advanced Micro Devices (AMD US)
- Pagamentos digitais: PayPal (PYPL US), Block (SQ US)
- Outros temas: metaverso (Roundhill Ball Metaverse ETF – METV US); entretenimento Online (DraftKings – DNKG US)