O Esta semana vou estar de olho… é da autoria de André Filipe de Almeida, especialista em Soluções de Investimento na Santander AM.
Após o pico de ganhos da COVID-19 com as vacinas de mRNA, as principais empresas da indústria farmacêutica têm ficado aquém em termos de resultados neste ano.
Contudo, o desenvolvimento e comercialização dos medicamentos Wegovy e Ozempic, da Novo Nordisk e Mounjaro da Eli Lilly trouxeram a estes dois gigantes da indústria resultados acima da média.
Estes medicamentos funcionam à base de semiglutidos (Wegovy e Ozempic) que imitam as hormonas que são enviadas ao cérebro relativamente às sensações de saciedade, dando a ideia ao utilizador de que está cheio por mais tempo, reduzindo o intake calórico. Já a tirzepatide (Mounjaro) é desenhada para ajudar a produção natural de insulina em pacientes diabéticos. Para estes dois compostos, os seus efeitos na perda de peso têm sido consideráveis.
Este facto levou a uma procura sem precedentes, criando uma escassez do medicamento nos Estados Unidos que levou à Novo Nordisk não conseguir fornecer oferta suficiente. Contudo, neste ano, a empresa anunciou que estaria a estabelecer novos locais de produção para aumentar o fornecimento. No mercado surgiu um novo competidor neste segmento, a Eli Lilly, que teve o seu Mounjaro aprovado em agosto, o que fez com que se tornasse a empresa farmacêutica mais valorizada YTD.
Tanto a Novo Nordisk como a Eli Lilly anunciaram melhores expectativas de resultados, o que levou os analistas estimarem uma subida de EBITA YoY de 33% para a Novo Nordisk e um EBITA YoY de 30,58% na Eli Lilly. Esta tendência poderá ter efeitos positivos no preço das ações, o que possivelmente resultará com que estas duas empresas estabilizem os resultados do setor.
De acordo com a Unidade de Pesquisa do Economist, depois dos gastos avultados das várias economias na COVID-19 e consequente corte para equilibrar contas, a tendência de queda em gastos de saúde do último ano irá inverter-se em 2024, altura em que, embora abrandando para 6,1% em termos nominais em dólares americanos, irão ultrapassar a inflação, aumentando 1,1% em termos reais. Prevê-se que as despesas farmacêuticas aumentem 6,5% em termos de dólares em 2024, impulsionadas por uma recuperação da economia mundial.
Apesar dos esforços para os restringir, os preços dos medicamentos continuarão a subir acentuadamente e irá ser necessário um reforço das cadeias de abastecimento farmacêutico e criação de centros de produção de princípios ativos farmacêuticos (API). Tendo em conta que a obesidade continua a ser um dos principais fatores de morte prematura de acordo com as últimas estatísticas da Organização Mundial de Saúde e do facto de 13% dos adultos serem obesos e 39% terem excesso de peso, estes resultados poderão indicar qual será o caminho a seguir pela indústria. Nesse sentido, o próximo ano será importante para a medicação anti-obesidade, com terapias como o Wegovy (semaglutide) da Novo Nordisk e o Mounjaro (tirzepatide) da Eli Lilly a ficarem mais amplamente disponíveis. Os resultados positivos irão persuadir as seguradoras e os governos a alargar as comparticipações, o que poderá ser um catalisador para estas empresas.