Desta vez Carlos Bastardo, no seu post mensal, foca-se num dos eventos mais esperados dos últimos anos: as eleições para a presidência dos EUA, onde grande parte das sondagens falharam.
A vitória de Donald Trump nas eleições presenciais americanas que a meu ver não foi tão inesperada como grande parte da comunicação social americana e europeia nos fez crer, veio para já reforçar as dúvidas quanto à qualidade das sondagens. Já o mesmo tinha acontecido nas eleições no Reino Unido e no referendo do Brexit.
Nos EUA, as sondagens são feitas normalmente com amostras localizadas preferencialmente nos grandes centros urbanos. Só que, os EUA não são apenas N. Iorque ou L.A. Quem já teve a sorte de percorrer a estrada 66 sabe bem do que estou a falar.
Mas houve outro grande falhanço: as estimativas dos analistas dos bancos de investimento americanos e europeus. Se analisarmos os researchs da grande maioria para não dizer a totalidade dos bancos, se Donald Trump ganhasse as eleições, nos dias seguintes, a bolsa americana poderia cair entre 5% e 10%. Tirando os primeiros momentos das bolsas, em especial as europeias que abriram a cair entre 2% e 4%, o dia após a vitória de Donald Trump foi de recuperação total das perdas e de valorizações, aliás, continuando a subida verificada nos dias anteriores às eleições.
O receio das pessoas foi devido aos discursos de campanha, mas nos EUA os ataques políticos são como cá. Uma coisa é dizerem-se cobras e lagartos de uns e de outros, ouvirmos discursos inflamados e agressivos, criarem-se suspeições, aparecerem notícias nos jornais, insultarem-se nos debates na TV, ou seja, o habitual vale tudo para se ganhar; outra coisa é a postura de estadista e responsável de um país após a vitória.
É lógico que com Donald Trump, o risco geo-político poderá aumentar, dependendo das ações ou decisões que ele venha a tomar nos próximos meses. Mas também sabemos que os fundamentalistas islâmicos fizeram ataques terroristas com governos republicanos e democratas nos EUA e em países com governos de direita e de esquerda na Europa.
Em termos económicos, os programas dos dois candidatos têm diferenças, mas o objetivo principal é e será sempre, fortalecer a posição económica dos EUA no mundo. E todos nós sabemos que os EUA e a Europa, para crescerem mais, não pode ser só com a política monetária ou com programas de compra de títulos. Tem que ser com investimento direto.
E ambos os candidatos apostaram nos investimentos em infraestruturas. Para além disso, os republicanos apostam normalmente na descida de impostos às empresas e às pessoas de forma a criar um cenário mais apelativo ao investimento (sobretudo) e ao consumo.
Se Donald Trump não for muito radical em termos geo-políticos, especialmente no que respeita ao médio Oriente, pois com a Rússia é difícil piorar as relações atuais dos EUA com aquele país, se escolher uma equipa forte em termos económicos e sendo ele um magnata dos negócios, tem condições para obter bons resultados em termos de crescimento do PIB e do investimento. Há que lhe dar algum benefício de dúvida e foi isso que os investidores pensaram nos dias seguintes às eleições. Se a economia decorrer positivamente nos EUA, o ano de 2017 pode vir a ser uma grande dor de cabeça para a dívida, aliás como já está a ser, com a yield do T-bond a subir.
Donald Trump quer acima de tudo uns EUA cada vez mais fortes. É altura de os políticos europeus “abrirem a pestana”!