Presidente Trump: O Cisne Negro

Carim Habib
Vitor Duarte

Contra a esmagadora maioria das expectativas dos observadores políticos (vulgo pundits ou spin doctors), especialistas em sondagens eleitorais (vulgo pollsters), mas também dos analistas de mercados financeiros (incluindo eu próprio), Donald Trump venceu de forma inequívoca as eleições presidenciais americanas, superando inapelavelmente as suas fracas possibilidades à partida.

Socorrendo-me da aclamada teoria de Nassem Taleb (trader de opções financeiras), que definiu este tipo de acontecimento como o Cisne Negro (Black Swan), trata-se de um evento de muito baixa probabilidade e de complexa previsão ex-ante, justificado sobretudo pela existência de sérios enviesamentos psicológicos individuais ou coletivos sobre um determinado tema.

Donald Trump pode ser visto como o Cisne Negro da política global. O efeito de curto-prazo da vitória de Trump foi totalmente em linha com o que antecipámos – ocorreu uma forte subida da volatilidade dos ativos financeiros em geral, como se pode observar na forte desvalorização sofrida pelo Peso Mexicano (MXN) de cerca de 12% em pouco mais de 1 hora. Já no imediato, o mercado irá especular intensamente sobre a possível substituição de Janet Yellen em 2018, uma subsequente mudança na política monetária, e a subida das taxas de juro de curto-prazo. A eventual decisão de substituição de Janet Yellen implicará a alteração do enviesamento vigente na política pró-pleno emprego (Dovish) vs uma política pró-estabilidade de preços (Hawkish).  Os investidores estarão particularmente atentos a várias questões cruciais, nomeadamente à composição da equipa de transição de governo liderada pelo Gov. Chris Christie (New Jersey), ao putativo início do processo de reversões do chamado legado Obama (ex: Obamacare), à renegociação de acordos comercias (NAFTA, TTIP), em suma à mudança de estratégia no âmbito da política externa e de defesa.

O posicionamento de Trump ao longo da campanha representa risco político, protecionismo e instabilidade na ordem internacional. No entanto, importa perceber se a retórica se materializa (ou não) em programa de governo e exercício do poder. O populismo como estratégia político-eleitoral tem sido francamente ganhadora, nos EUA e noutras regiões;  resta saber quais os custos económicos e sociais que essa estratégia comportará para os eleitores e para a própria sociedade.