Uma reflexão sobre as dúvidas relacionadas com o investimento em bitcoin

Domingo Barroso
Domingo Barroso. Créditos: Cedida (Fidelity International)

TRIBUNA de Domingo Barroso, diretor de ETF para a Península Ibérica e América Latina na Fidelity International. Comentário patrocinado pela Fidelity International.

Segundo um inquérito a investidores institucionais realizado em 2023 pela Fidelity Digital AssetsSM  (filial da Fidelity Investments nos Estados Unidos), a volatilidade dos preços e a segurança são considerações fundamentais para os investidores. Neste artigo, analisamos as dúvidas que o investimento em bitcoin suscita, especialmente no que diz respeito ao risco de capital e aos riscos tecnológicos, e fornecemos uma análise contextual.

Risco e capital: investir nunca é grátis

O investimento em criptomoedas, incluindo a bitcoin, comporta riscos semelhantes aos das finanças tradicionais, como a potencial perda de capital permanente e a volatilidade dos ativos, entre outros. Na sua condição de classe de ativos relativamente jovem, a bitcoin começou por apresentar uma volatilidade considerável e chegou a um nível anualizado de mais de 200%. Nos últimos anos, a volatilidade anualizada diminui para um intervalo de 40%-70%.

Mesmo assim, o investimento em bitcoin comporta uma elevada volatilidade em termos absolutos, em comparação com os ativos de risco tradicionais, como as ações. Analisando os dados dos últimos cinco anos, a bitcoin foi três a quatro vezes mais volátil e registou quedas mais acentuadas do que os ativos tradicionais.

Apesar da volatilidade, em termos históricos, a bitcoin tem oferecido rentabilidades substanciais que compensaram a assunção de riscos por parte dos investidores. De facto, nos últimos cinco anos, esta moeda digital registou retornos ajustados ao risco mais elevados do que os ativos tradicionais, o que significa que, embora a volatilidade seja mais elevada, os investidores foram substancialmente recompensados pelo risco assumido.

É particularmente interessante notar que, se apenas tivermos em conta o risco de perda, como o Rácio de Sortino (métrica utilizada para determinar o retorno adicional por cada unidade de risco), o rácio da bitcoin melhorou e ultrapassou a dos ativos tradicionais. Este dado proporciona aos investidores uma perspetiva sobre a quantidade de risco que estão a aceitar face ao potencial de rentabilidade.

Analisando mais detalhadamente os resultados obtidos pela bitcoin, identificamos uma distribuição bimodal em comparação com as ações. Ocasionalmente, a bitcoin regista movimentos ascendentes significativos que dão um viés positivo às suas rentabilidades. Embora também tenha registado uma elevada volatilidade, houve mais casos de subidas rápidas de preços ao longo do tempo 

À medida que a bitcoin continua a evoluir e a ganhar mais adeptos como classe de ativos, a sua volatilidade vai diminuindo. Quando comparada com a volatilidade de títulos individuais proeminentes que costumam estar presentes nas carteiras dos investidores tradicionais, vemos que a volatilidade da bitcoin se assemelha à de algumas dessas ações. Por exemplo, se observarmos os dados de volatilidade histórica de 360 dias de todos os componentes do S&P 500, verificámos que a volatilidade da bitcoin está dentro do intervalo das 48 empresas do S&P 500, quando não é inferior. Além disso, se olharmos para a volatilidade a um ano das Sete Magníficas, um grupo de títulos destacados e muito influentes, a volatilidade da bitcoin não se sai mal na comparação.

Volatilidade de 360 dias da bitcoin face às Sete Magníficas

Fonte: Fidelity International, Bloomberg, a maio de 2024.

Nos seus 15 anos de existência, a bitcoin registou um crescimento resiliente e mostrou sinais de amadurecimento em paralelo com os desenvolvimentos regulamentares e a melhoria do acesso ao mercado. O que isto significa é que o impacto de novas entradas de capital será menos relevante devido ao aumento da dimensão do mercado.

Em geral, a volatilidade da bitcoin diminuiu e prevê-se que continue a fazê-lo. Este dado também sugere que o risco de perda de valor da bitcoin está a diminuir ao longo do tempo.

Risco tecnológico: a importância de uma infraestrutura a nível institucional

Apesar das notícias publicadas sobre fundos roubados em mercados de criptomoedas tradicionais, o total de roubos em plataformas de criptomoedas diminuiu 54% em 2023, em comparação com 2022. No entanto, tendo em conta o dado de mais de 1.700 milhões de dólares em ativos roubados1, o risco de segurança continua a existir. A ausência de uma regulação exaustiva e de um acesso ao mercado de bitcoin representa um desafio significativo para as instituições que consideram entrar em oportunidades de investimento em ativos digitais.

São os instrumentos cotados regulados a resposta?

Investir em produtos cotados/fundos cotados (ETP/ETF) de criptomoedas oferece aos investidores que pretendem aceder a esta classe de ativos uma solução completa de custódia de terceiros que reduz as barreiras de regulação e infraestruturas. Embora o investimento em bitcoin se tenha generalizado ainda mais com o recente lançamento de ETF sobre bitcoin nos Estados Unidos, os investidores não devem ignorar totalmente o risco associado e é conveniente examinar as respetivas funções dos emitentes e dos depositários.

É essencial escolher emitentes que têm um bom historial no mercado de criptomoedas e na gestão de ativos. Isto garante que o emitente tem os conhecimentos e a experiência necessários para navegarem nas complexidades do mercado. 

Ao mesmo tempo, a função de um depositário regulado e especializado em ativos digitais não deve ser subestimada. Como parte do seu processo de due dilligence, os investidores devem entender as nuances das várias medidas de custódia disponíveis no mercado. Por exemplo, as medidas de segurança aplicadas para proteger os ativos, incluindo salvaguardas adequadas e conformidade regulamentar, processo de gestão e segregação de ativos, etc.

A política de seguros é outro elemento essencial quando falamos de custodiar ativos digitais. Embora existam várias soluções de seguros para a custódia destes ativos, nem todas as empresas tratam a gestão ou a transferência do risco da mesma forma, e a cobertura de seguros pode diferir.

À medida que os investidores vão reconhecendo os ativos digitais como uma nova classe de ativos, é imperativo compreender plenamente os riscos associados ao investimento em bitcoin. O risco de capital, caraterizado pela volatilidade e a potencial perda de capital, e o risco tecnológico, relacionado com questões de infraestrutura e segurança, são aspetos que os investidores devem sem dúvida ter em conta. Avaliando estes riscos e tomando decisões informadas na seleção de investimentos e soluções de custódia, os investidores poderão operar no mercado de bitcoin com mais confiança.


1 Chainalysis Crypto Crime Report 2024