A Jupiter AM trouxe a Lisboa três especialistas para expor a sua visão sobre vários segmentos do mercado de dívida. No roadshow da entidade, um dos temas abordados foi a visão macroeconómica e, em particular, o papel importante do mercado laboral nos próximos meses.
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Durante os últimos 24 meses assistimos ao alterar das dinâmicas associadas à política monetária dos grandes bancos centrais. Os estímulos distribuídos durante 2020 e 2021 fizeram-se sentir na economia, o que obrigou as entidades responsáveis a tomar medidas. O roadshow de fixed income organizado pela Jupiter AM, entre outros temas, abordou a estratégia atual dos bancos centrais e permitiu a Harry Richards, gestor de portefólios na entidade, lançar um outlook para os próximos meses.
Os primeiros a subir taxas de juro foram os bancos centrais dos países emergentes. Segundo o gestor do Jupiter Dynamic Bond, fundo com Rating FundsPeople 2023, isso aconteceu porque “os mercados emergentes estão mais habituados a lidar com períodos de maior inflação”. Seguiram-se os países desenvolvidos, em março do ano passado. Contudo, parece que agora chegamos a um final de ciclo de subida. O gestor é da opinião que “o outlook está a mudar”, mas fica no ar a questão: o que se segue?
Para o especialista, o problema principal que os bancos centrais enfrentam agora é a “falta de indicadores para medir o impacto imediato da política monetária na economia”. É defendida a ideia que a aterragem suave, por muitos antecipada, não acontecerá. Para justificar o seu ponto de vista, entre outros argumentos, o gestor de carteiras faz-se valer de uma análise exaustiva ao mercado laboral americano. Na sua opinião, “perceber o mercado laboral é crítico, e é a chave para medir qualquer recessão”. Num tom pessimista, Harry Richards antecipa que se “nos próximos tempos assistirmos a uma deterioração do mercado laboral americano, depressa assistiremos a uma quebra abrupta no consumo e a uma consequente extinção de muitos postos de trabalho, começando um verdadeiro efeito de bola de neve”.
O outlook para o saudável mercado laboral americano
Atualmente vemos muitos comentários sobre a saúde do mercado laboral americano. As pessoas procuram trabalho e a taxa de desemprego está baixa. Isto é verdade e é bom para a economia. No entanto, o especialista da Jupiter AM revela: “A partir daqui só pode piorar”. Harry Richards avança que “a subida da taxa de desemprego já se começa a sentir, mas ainda é a ponta do icebergue”. O gestor acredita que a mesma pode subir até cerca de 3%. Se a previsão estiver correta, “acontecerá o mesmo que em todos os outros momentos da história, entraremos numa recessão”.
Mas qual o motivo de um outlook tão negativo para o mercado laboral? São vários os argumentos. Primeiro falou da correlação sentida entre dois indicadores de crédito e os non farm payrolls. O especialista avança que, historicamente, quando “a procura por crédito diminui, o que está a acontecer, a oferta de empregos tende a cair”. Ainda “diretamente ligado à diminuição da oferta de empregos, está também a visível crescente dificuldade que os consumidores sentem ao tentarem aceder a crédito”. Com mais requisitos para crédito, existe menos dinheiro para consumir e consequentemente menos empregos.
A segunda ilação tirada revolve na diminuição de custos de produção. As empresas presentes no mercado americano apresentaram “resultados fracos” durante os últimos trimestres. Na opinião de Harry Richards, “quando os diretores das empresas percebem que as suas margens estão a emagrecer, a principal tendência passa por cortar gastos de capital na produção, nomeadamente ao nível do salário dos trabalhadores”.
Existem vários indicadores que comprovam o comportamento anteriormente elencado. Focamos em dois que já se sentem na economia americana. Por um lado, o número de trabalhadores temporários está a reduzir-se nos Estados Unidos da América. O gestor explica que “esta tendência demonstra que, apesar de as empresas ainda não estarem a despedir os colaboradores que fazem parte dos seus quadros, começam a não renovar contratos aos restantes trabalhadores com contrato de trabalho com termo”. O segundo indicador lançado prende-se com o número de horas extra pagas no país. Um indicador que está agora em terreno bem negativo. Para o especialista, “uma consequência natural da vontade de baixar os custos de produção é deixar de pagar este tipo de horas aos trabalhadores, tipicamente melhor remuneradas que as restantes”.
Os argumentos estão apresentados. Resta perceber se, efetivamente, o mercado de trabalho americano se vai deteriorar num futuro próximo ou não. Como vimos, historicamente este tem um papel essencial na duração e gravidade de uma recessão. Caso o cenário descrito por Harry Richards se verifique, talvez seja melhor deixar de parte o cenário de uma aterragem suave da economia americana e, talvez, mundial.