Que opções tem o setor financeiro de participar no boom dos ativos digitais

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Créditos: Art Rachen (Unsplash)

As criptomoedas atingiram a sua idade adulta em 2021. E uma das causas é a crescente entrada de investidores institucionais neste tipo de ativo alternativo que ainda tem muitas tarefas regulamentares pendentes. Entre esses investidores institucionais estão grandes empresas como a PayPal, governos inteiros como o de El Salvador, e também muitas instituições financeiras, incluindo bancos.

Ao fim e ao cabo, como explica o Boston Consulting Group (BCG) no seu relatório How Banks can succeed with criptocurrency, “alguns investidores, fintechs e fundos de capital de risco começam a apostar continuamente na criptomoeda, considerando-a como o futuro do dinheiro. Os bancos já não se podem dar ao luxo de ignorar esta oportunidade.”

Enquanto não chega este regulamento que a indústria tanto procura – é conhecido como MICA e deverá chegar no final deste ano ou no início do próximo ano – existem várias alternativas que o setor financeiro tem para participar nesse fenómeno chamado ativos digitais. E a consultora Oliver Wyman destacou num relatório recente intitulado Digital Assets going maninstream, seis dessas alternativas.

  1. Custódia e carteiras.  “Os custodiantes são importantes para o futuro das infraestruturas do mercado das criptomoedas, e há oportunidades para empresas com a confiança institucional adequada, a solidez do balanço e os conhecimentos jurídicos e técnicos”, refere a consultora. No entanto, consideram que para que as entidades possam monetizar este serviço de custódia, é previsível que este serviço seja mais oferecido a outras instituições e não tanto aos clientes retail, uma vez que “a cripto-custódia terá provavelmente preços mais elevados em comparação com a tradicional custódia de ativos, devido à complexidade técnica, legal e de garantia”, afirmam.
  2. Centros de negociação.  O desenvolvimento de espaços comerciais e plataformas e infraestruturas relacionadas com a negociação é outra área em que as instituições financeiras podem participar. No entanto, na consultora alertam que é um mercado que já tem concorrentes muito consolidados, pelo que “as novas propostas neste espaço terão de se adaptar a um segmento específico ou oferecer uma funcionalidade de mercado mais complexa que suporte as estruturas específicas de leilões e licitações do mercado para se diferenciarem”.
  3. Gestão de património e fundos. Se este ramo de negócio é desenvolvido com mais ou menos sucesso dependerá acima de tudo de como evolui a regulação em torno das criptomoedas à medida que um produto de investimento. “A maioria dos profissionais do mercado espera que os reguladores permitam algumas formas de produtos financeiros criptográficos regulados, dada a dimensão do mercado e a facilidade de acesso a estes produtos no mercado cinzento”, afirmam na Oliver Wyman. E citam como exemplo de um claro impulso a este tipo de ativos, a decisão tomada pelo regulador norte-americano sobre os ETF de bitcoin e a gestão da sua volatilidade por parte dos criadores de mercado.
  4. Serviço de corretagem.  É previsível que, à medida que as empresas comerciais dispostas a operar com criptomoedas cresçam, também cresça a procura de corretores especializados neste tipo de ativos. Qual é o desafio? Como explica Oliver Wyman no seu relatório “o desafio do modelo de prime broker é a necessidade de construir ou montar componentes numa ampla gama de startups com maturidades diferentes. O encaminhamento de pedidos, a execução, a liquidação e compensação de criptomoedas, e a custódia são elementos da infraestrutura core que existe atualmente de alguma forma, mas que terão de ser reunidos por um único corretor.”
  5. Pagamentos e liquidação. As soluções de pagamento e liquidação são outra área em que as instituições financeiras podem implementar ativos digitais. Tal como explicado pela consultora, “dado que o ambiente de pagamentos e liquidações é muito heterogéneo, com múltiplas aplicações e infraestruturas, tanto a nível nacional como mundial, é essencial que os participantes identifiquem claramente uma necessidade específica do mercado”. Citam como exemplos países como a China ou Singapura, onde os pagamentos no retalho doméstico funcionam muito bem com transferências quase instantâneas entre bancos e entre carteiras eletrónicas, e com risco de contraparte gerível.
  6. Ofertas financeiras inovadoras. A última das opções contempladas pela consultoria é que as instituições financeiras desenvolvam novos produtos financeiros, combinando as características técnicas que os ativos digitais permitem com a inovação na engenharia financeira. "Por exemplo, a tokenização, uma funcionalidade possibilitada por ativos digitais, pode permitir a criação de novos produtos derivados em que os riscos de contraparte são mais visíveis e geríveis, e a liquidez potencialmente desbloqueada através da fracionalização e a agrupação", explicam.