Que sectores norte-americanos podem beneficiar da reforma tributária de Donald Trump?

Trump Melania EUA
andrescastellano, Flickr, Creative Commons

Depois de uma fase inicial de euforia depois da vitória de Donald Trump em novembro do ano passado, os primeiros dias do magnata à frente da Casa Branca e a sua frenética atividade estão a levar os investidores a reavaliar as expetativas em torno da nova administração. Agora, o consenso está a começar a acreditar que, das promessas feitas em campanha, a reforma dos impostos pode ser a que potencialmente poderá deixar maior mossa nos fundamentais das ações norte-americanas. Ed Perks, diretor de investimentos da Franklin Templeton Investments, analisa as implicações desta reforma tributária e adianta que a sua expetativa é de que “provavelmente se aprovem medidas relacionadas nos próximos meses através do processo de acordo orçamental, o que poderá ter implicações para o investimento”.

Tendo em conta a complexidade da reforma, Perks prefere centrar-se em três aspetos em concreto como ponto de partida: a possível queda do imposto federal para os lucros corporativos, a simplificação do código fiscal e a abolição de exceções tributárias; e a ainda a trégua fiscal para a repatriação de dinheiro no estrangeiro.

“É difícil calibrar o impacto das mudanças políticas isoladas. No entanto, achamos que a reforma fiscal no seu conjunto, combinada com outras medidas para alentar estímulos fiscais  - como a despesa em infraestruturas e a repatriação de lucros no estrangeiro – seriam muito eficazes (pelo menos no curto prazo) para proporcionar um impulso ou para a aceleração do crescimento do PIB nos próximos anos”, declara Perks.

Um pouco de contexto

De forma a compreender melhor a profundidade da reforma, o especialista explica de forma concisa algumas peculiaridades do sistema fiscal atual nos EUA, que prejudicam a sua eficiência e competitividade. Em primeiro lugar, indica que atualmente as empresas norte-americanas devem pagar um imposto federal de 35% sobre os seus lucros nacionais; se os lucros repatriados forem obtidos no estrangeiro, devem pagar outros 35%. “Isto incentivou as multinacionais a deixar dinheiro no estrangeiro, numa quantidade próxima dos 2,5 biliões de dólares”, comenta Perks. A expectativa da Franklin Templeton é que se permita uma única repatriação para essa liquidez acumulada. "Acreditamos que se aplicará com a independência devida a decisão sobre se trará ou não dinheiro das jurisdições estrangeiras para os EUA”, diz o diretor de investimentos.

Sobre um possível corte ao equivalente ao imposto sobre as sociedades, Perks explica que, embora se esteja a discutir um corte até aos 15% ou 20%, a visão da gestora é que talvez se reduza entre os 20% e os 25%, e “provavelmente inclua uma redução significativa de uma série de deduções fiscais e de créditos. Isto simplificaria significativamente o código fiscal”.

Os sectores que beneficiam

Ainda que Perks acredite que o impacto da reforma fiscal seja amplo e afete vários sectores e empresas, “basicamente dependerá da situação individual de cada empresa”. Dito isto, a gestora identificou possíveis vencedores e perdedores com a reforma.

“As empresas do sector financeiro com lucros positivos estarão entre as beneficiárias mais prováveis”, afirma Perks. Também assinala o consumo cíclico, básico e empresas industriais entre os sectores mais favorecidos, “particularmente as empresas que tenham grandes operações de produção a nível nacional e/ou algum tipo de enfoque nas exportações”. “As empresas que competem com grandes importadores de bens podem ver uma vantagem competitiva”, acrescenta. Por outro lado, o especialista afirma que sectores como o farmacêutico ou tecnológico poderão ser menos beneficiados.  

Em todo o caso, o ponto de vista do especialista é que “a reforma fiscal será positiva para as ações nos EUA em geral”. Em concreto, detalha dois benefícios: o impacto sobre as receitas e sobre os fluxos de caixa. “Se se combinarem com os efeitos de um maior gasto público, o possível incremento do investimento local e outras medidas de estímulo, vemos potencial para que o PIB norte-americano acelere entre 0,5% e 1% nos próximos anos”, vaticina Perks.

Além disso, o especialista acredita que a aplicação da reforma fiscal e a repatriação de lucros, juntamente com o incremento do gasto público em infraestruturas e outras áreas e o possível aumento do investimento poderão ajudar a atacar outro dos problemas que pesou na recuperação económica dos EUA, a queda da produtividade. “Achamos que muitas das iniciativas mencionadas poderão ajudar a impulsionar a produtividade e determinar uma trajetória de crescimento dos lucros mais elevada nos próximos anos”, conclui Perks.